storum::
Como vc mesmo disse, " a cuíca " pode mudar o tom quando as pessoas conseguem meios alternativos em relação ao frete e impostos. Diversos sites la fora tem cupom descontos, descontos no frete, descontos em semi novos, fretes gratuitos, descontos progressivos, fretes não declarados, etc. Essa é uma maneira que usuários que fazem a importação constante lidam diariamente.
Agora veja apenas um exemplo, o jogo DELTA que aqui é vendido ao preço de R$ 499,00 reais em grande parte das lojas brasileiras, la fora, fazendo uma importação direta, pagando o frete e os devidos impostos abusivos, enfim, toda a enorme carga tributária ja no novo modelo de remessa conforme que vai jogar o preço la pra cima, o jogo iria sair na média de R$ 535.00 a R$ 550.00 reais. Fica a indagação no ar: será que realmente esse jogo teria que ser vendido por aqui no preço final de R$ 499,00 reais ?
Veja que eu só citei apenas 1 unico exemplo...varios jogos estão na mesma situação... fica pra reflexão !

Mas calma, se o jogo encalhar nas lojas, daqui alguns meses eles dão 200 reais de desconto... tsc tsc

Caro storum

Meu amigo, parafraseando o Chico Espirro, aparentemente "há mais coisas entre o jogo importado e a edição nacional do que sonha a nossa vã filosofia". kkkkkk

Realmente o mercado de nacional tem enigmas do outro mundo, e quando se junta a questão da importação a coisa fica ainda mais confusa. Você acabou de dar um exemplo do jogo Delta, cuja diferença é algo em torno de R$ 40,00, e para um produto de qualidade superior. E certamente existem outros jogos nessa mesma situação. Por outro lado, no artigo eu citei um comentário em outro tópico, em que a pessoa descreve a situação do jogo Blood on the Clocktower, que custa lá fora 120 USD, algo em torno de R$ 590,00, mas que se fosse importado ficaria em mais de R$ 1820,00, o que é uma diferença muitíssimo maior que R$ 40,00. E certamente também existem diversos outros jogos nessa mesma situação.

Só para manter a comparação dentro do mesmo parâmetro a coisa fica assim:

Delta 
Preço médio em dólar = 60 USD
Conversão para Reais = R$ 295,64  
Preço médio do jogo se for importado = R$ 542,50

Blod on the Clocktower 
Preço médio em dólar = 120 USD
Conversão para Reais = R$ 591,44  
Preço médio do jogo se for importado = R$ 1.820,00

Além disso, existe um fator que normalmente se esquece quando se está comparando preços lá fora e aqui. Uma editora nacional produz os jogos aqui, ela não importa e revende. Portanto fica difícil partir de uma mera conversão do valor em dólar do jogo, e isso gera um resultado distorcido. Quando a ediotra produz o jogo, obviamente o custo dele fica muito inferior ao valor de uma única unidade que a pessoa compra. E mesmo se a editora nacional atuasse como importadora, certamente comprar 500 ou 1.000 cópias, faz o preço por unidade despencar, só que aí entra o frete e os impostos de importação, para toda a carga. Mas independente disso, o fato é que a diferença entre o cenário de "importação vs compra nacional" entre o Delta e o Blood on the Clocktower, não faz o menor sentido. Mesmo que se considerasse que as editoras e lojas de jogos gringas operassem com uma margem de lucro reduzida, em decorrência do maior volume de vendas (o mantra econômico chinês que as empresas brasileiras teimam em ignorar), nem isso seria suficiente para justificar tal disparate. Se a margem de lucro das editoras, distribuidoras e lojistas nacional forem, por exemplo, 20% maiores (os gringos trabalham com 10% e nós com 30%), ainda assim estamos falando de uma diferença de 60% no preço. Mas no caso do Blood on the Clocktower o jogo mais que triplica de preço.

E nem dá para dizer que a diferença entre o Delta e o Blood on the Clocktower é por conta de uma eventual diferença de lançamento, porque o primeiro é de 2023 e o segundo de 2022. DO mesmo modo, também não dá para alegar que os jogos têm preços diferentes, porque a questão é percentual e proporcional. 

Por fim, sinceramente, uma discrepância dessa é tão grande, que eu não sei se eu estou fazendo a conta errada, não sei se os dados de que eu disponho é que estão errados, apesar de em diversos tópicos e comentários as pessoas sinalizarem no sentido de que importar é sempre muito mais caro, por conta dos impostos e do frete. Não sei se essa diferença se deve ao fato do Delta estar em promoção, o que não faz muito sentido porque ele é mais recente. O que eu sei é que independente de ser importados ou não, o preço dos board games, especialmente os lançamentos estão cada vez mais caros e o jeito mesmo, é ou aguardar para ver se baixa (e correndo o risco do "mofo direto de fábrica"), ou optar por outro jogo mas em conta. E nisso, o Mercado de Usados é uma mão na roda. 

Um forte abraço e boas jogatinas!

Iuri Buscácio  

 

"Pare o mundo que eu quero descer" é uma citação ao artista varginhense Sílvio Brito. Gostei de ver! *

Dei uma sorte absurda de entrar no hobby em 2009, época do dólar a 2 reais, quando dava pra fazer um pedido na saudosa Boards&Bits e com 400 reais vinha uma caixa gigante com uns 5-6 jogos e mais uns sleeves.

Acho que não dá pra apontar um único culpado, mas eu citaria:

1. Dólar aumentou muito de lá pra cá (um pouco a baixo de 5 reais agora, chegou a beirar os 7 reais há pouco tempo).
2. Frete deu uma aumentada globalmente
3. Uma tendência de ser mais comum haver jogos com produção excessivamente cara. Em 2009 o padrão era papelão e pecinha de madeira, quando se falava em "jogo super produzido" se pensava em coisas tipo um Mystery Express da Days of Wonder (era a referência de "jogo superproduzido" da época), que hoje seria considerado padrãozão. Com a era dos kickstarters e seus "stretch goals" pra tudo é componente de luxo que muitas vezes não agrega muita coisa ao jogo, mas gera uma percepção de que isso deveria ser o padrão.
4. Aqui já é algo que não tenho como comprovar, mas me parece que muitas editoras brasileiras meio que abraçaram mesmo a ideia de que jogo deve ser artigo de luxo e dá a impressão de que querem ganhar muito no curto prazo, com tiragens pequenas de jogos que têm preços de lançamento surreais de tão caros.

Eu vejo com bons olhos iniciativas como a da Imagine Jogos de pegar um Dream Factory e repensar todos os componentes de forma a lançar uma versão de baixo custo (o Cine Pipoca). Eu sempre brinco que meu sonho é abrir uma editora que pegasse todos esses jogos excelentes que estão fora de catálogo há anos (ia começar com o MarraCash, hehe) e lançaria em edições de produção bem simples - o velho e bom combo de papelão com pecinhas de madeira. Que é o que ainda faz a Rio Grande Games, aliás.

Felizmente o tipo de jogo que eu mais gosto são aqueles euros com muita interação (hoje as pessoas até estranham quando se fala em "euro com interação", hehe) que se costumava fazer nos anos 90 e início dos 2000, então quase tudo que eu compro hoje em dia é de segunda mão. Tem que ter paciência, claro, mas só pra ilustrar, dos 15 jogos que comprei na ludopedia nos últimos cinco anos, 11 custaram menos de 150 reais, 9 deles até 100 reais!

E peguei coisa baratíssima no BGG Marketplace também, que ignorei por anos por achar que seria muito caro e fui surpreendido. Lembro duma vez que vi um cara anunciando um jogo por dez euros, só por curiosidade perguntei quanto sairia mandar pro Brasil e seria só mais dez euros. Gastei menos de 100 reais no jogo. Varia de país pra país (envio da Alemanha costumava ser barato, não sei como está agora), mas importar jogo usado pode ser uma boa ideia também.

Caros Boardgamers

Parece até que foi combinado, mas uma semana depois desse texto comentando o absurdo que era ter gente pagando R$ 1.800,00, para importar jogos, apareceu o financiamento do The Witcher Path of Destiny, com gente pagando a mesma coisa só para poder jogar miniaturas que só servem com meros marcadores, totalmente dispensáveis. 

E o que é ainda mais espantoso, é que tem gente pagando mais do dobro (R$ 3.800,00), por um jogo que não é essa coca-cola toda e definitivamente não se justifica pagar tão caro por aquilo que ele entrega.

Um forte abraço e boas jogatinas!

Iuri Buscácio  

A quantidade de impostos que se paga nesse país é absolutamente obcena e imoral.

DiegoLima::A quantidade de impostos que se paga nesse país é absolutamente obcena e imoral.

Caro DiegoLima

Rapaz, você está correto, mas eu acho que o mais grave não é nem isso. Pior do que pagar uma carga tributária absurda é não ter quase nada em troca. Você paga impostos para que o Estado consiga dar conta de questões básicas, como saúde, educação e segurança. O problema é que o cidadão não recebe nada disso. Nos países escandinavos a carga tributária é ainda maior do que a nossa, por incrível que pareça. Mas a diferença é que lá o cidadão recebe por aquilo que ele paga, ou seja ele tem saúde, segurança e educação de qualidade sem ter que pagar por isso uma segunda vez e de forma particular (seguro de carro, câmeras, alarmes, e etc, no caso da segurança).   

Já no caso do Brasil a situação é completamente outra.

A educação pública que presta é apenas no nível superior, porque são pouquíssimas universidades, principalmente se comparadas com a quantidade de colégios estaduais e escolas públicas municipais. Não sou contra investir dinheiro em universidades, aliás muito pelo contrário, isso é fundamental porque esse é um setor estratégico. Mas como tem dinheiro para universidades, mas não tem para colégios e escolas públicas, o ensino superior é de qualidade e o básico não. Não é à toa que a classe A, nem sonha em colocar o filho em uma escola ou colégio público, mas briga com unhas e dentes para que ele possa cursar uma universidade pública. 

Do mesmo modo, você paga ao Estado para ter segurança, mas não pode andar na rua nos grandes centros, principalmente nos bairros de periferia, sem correr um grande risco de ser assaltado ou coisa pior. Da saúde então nem se fala. O sujeito paga seus impostos, mas se depender da saúde pública para um problema sério como uma cirurgia, pode desistir porque a fila de espera pode demorar anos. A pessoa simplesmente morre antes de chegar a sua vez. Eu nem imagino a quantidade de pessoas que morreu de doenças perfeitamente curáveis, como certos tipos de câncer, só porque o diagnóstico demorou tanto que o quadro se agravou de uma maneira irreversível.

Infelizmente essa parece ser a nossa sina, e sinceramente nem sei se algum dia, nossos descendentes (nem digo mais netos e bisnetos), vão viver em um Brasil diferente.

Um forte abraço e boas jogatinas, pelo menos para escaparmos algumas horas desse cenário caótico em que vivemos!

Iuri Buscácio
 

O fato de que o gasto com pessoal das forças armadas é maior que o da educação e saúde somados ajuda a explicar isso...