iuribuscacio::R DKS::
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evieira::
Agora o Iuri talvez acredite que eu realmente não sou um economista de formação!
Um abraço,
Eduardo
Caro R DKS e evieira
Esse seu comentário Rafael exemplifica com exatidão aquilo que eu tanto defendo, e que eu acho que faz tanta falta aqui ao Ludopedia.
Tal qual o Eduardo, eu não sou economista, muito embora eu ainda não esteja totalmente convencido de que ele não seja (não sou economista, mas sou teimoso). E apesar da minha teimosia, que sou o primeiro a confessar, a dificuldade em reconhecer e admitir um equívoco próprio não está entre os meus muitos defeitos, como pessoa humana.
A verdade é que cada um luta com as armas das quais dispõe, e não sendo economista, mas procurando entender o hobby sob esse viés, naturalmente eu utilizei o exemplo de bolha especulativa, que eu acho que é a modalidade que os leigos, como eu, mais conhecem e compreendem. Por conta disso, peço perdão pelo meu equívoco em excluir as possibilidades diversas das bolhas especulativas.
Aproveitando o ensejo, se não for incômodo, e se for possível fazê-lo sem complicar muito, eu gostaria que você desse o seu ponto de vista a respeito das atuais condições do mercado nacional de jogos do ponto de vista de um economista. Realmente nós estamos diante de uma bolha, ou nós não estamos e o mercado tende a permanecer estagnado, que é como eu vejo do meu ponto de vista leigo? O que você acha?
Quanto à questão das condições do cenário de board games de uma década atrás, quando eu disse que não havia nada, eu não estava sendo literal. Obviamente já havia internet, que começou a ser comercializada salvo engano no final dos anos 80 início dos anos 90, através do saudoso Alternex do IBASE (fui um dos sortudos que conseguiu uma assinatura, logo no início). Do mesmo modo já se jogavam board games modernos por aqui quase que desde o início da Era dos Jogos Modernos. O Romir, se não me falha a memória, estudou na Alemanha nos anos 90, e quando retornou trouxe muita coisa de board games. E o Cacá (DrGrayrock), joga quase desde essa mesma época. mas você veja como era difícil a vida do boardgamer nessa época. O Cacá, segundo o relato do próprio, incialmente jogava o Catam com uma cópia "home made", guardada dentro de uma caixa de sapatos, carinhosamente apelidada de "Sapateiros de Catan". Então o acesso a board games nessa época não era nada fácil.
Isso demonstra, que mesmo com uma economia mais forte, e um Real mais valorizado, ainda assim era uma verdadeira odisseia, vivenciar o hobby naquela época. A importação era possível e talvez por conta das condições econômicas mais favoráveis talvez fosse relativamente mais barato. Só que essa era praticamente a única opção, descontando o amigo viajante com boa vontade e espaço na mala, para conseguir jogos, porque aqui, mesmo já existindo Devir e Galápagos, não se lançava nada de relevante antes de 2013. Isso sem falar que loja de board games e até mesmo luderias eram praticamente inexistentes. Talvez uma ou duas e assim mesmo somente no eixo Rio-São Paulo. Posso até estar equivocado em um ponto ou outro, mas tenho um razoável nível de certeza de que as coisas eram assim. E foi com base nisso que eu escrevi o meu comentário.
No mais agradeço sinceramente a sua aula, Rafael, porque a do Eduardo eu já agradeci anteriormente. E vamos em frente, dessa forma saudável, cada um contribuindo da sua forma, e dentro da sua possiblidade, para que todos possamos conhecer e entender cada vez mais, esse hobby que tanto amamos.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Prezados Iuri Buscário e Eduardo Vieira,
de fato, esse tópico levou a uma belíssima conversa entre amigos, que é o que eu - e, creio, a maioria de nós - buscamos em sites como a Ludopedia.
Quanto a "
aproveitando o ensejo, se não for incômodo, e se for possível fazê-lo sem complicar muito, eu gostaria que você desse o seu ponto de vista a respeito das atuais condições do mercado nacional de jogos do ponto de vista de um economista. Realmente nós estamos diante de uma bolha, ou nós não estamos e o mercado tende a permanecer estagnado, que é como eu vejo do meu ponto de vista leigo? O que você acha?"
Antes de mais nada, nenhum economista que se preze deveria jamais se desfazer de uma análise apenas em decorrência da falta de formação formal da pessoa; alguns dos analistas financeiros mais conceituados do mercado não têm sua primeira formação em economia (nem em administração, nem em contabilidade, nem em atuariais, nem nada do tipo), mas sim em física, engenharia, análise de sistemas, matemática, e por aí vai. Então sim, eu tenho formação na área e venho de uma família de contadores, mas que isso não seja utilizado de forma alguma para depreciar as análises de vocês; uma coisa que as décadas me ensinaram foi que muitas vezes falta uma boa dose de senso comum à gente que investe ou atua no mercado financeiro. Isto posto, sem ter os dados em mãos e sem estudá-los antes de responder seria leviano da minha parte fazer qualquer afirmação; fazer assim esse tipo de previsão costuma ser o túmulo de todo analista! Então não considere meu palpite como uma aula, pense nele apenas como uma análise de boteco, descompromissada e propensa a erros.
Bolha é quando os preços praticados no mercado estão "desgarrados" da realidade por qualquer que seja o motivo. Uma bolha pode demorar bastante tempo para estourar, mas é questão de tempo; e quanto mais tempo demorar para uma bolha estourar, pior é a correção quando ela acontece. Bolhas no mercado imobiliário (o exemplo do Eduardo Vieira é um comportamento que tipicamente leva a bolhas, e se muita gente o fizer, uma hora a bolha cresce e eventualmente estoura), por exemplo, são assim, e geralmente demoram para estourar (vide *1 sobre Bolhas imobiliárias).
Então eu acho que a primeira divisão que temos que fazer é quanto aos cenários nacional e internacional, porque esse primeiro depende deste segundo.
Cenário internacional: Não acho que exista uma bolha no cenário internacional, o que talvez exista seja uma necessidade de alguma correção - não necessariamente como foi o crash do D20 (quando um monte de pequena empresa lançou um monte de suplemento de qualidade duvidosa e tudo ficou encalhado quando a Wizards of the Coast atualizou o sistema deixando tudo obsoleto) - quando isso acontece, um monte de empresa quebra, sai do mercado, mas as que ficam continuam lucrando bastante e, para os consumidores, quase não há alteração (porque eles já não estavam consumindo os produtos de qualidade duvidosa lançados por essas empresas que quebraram, e nos preços dos produtos de fato consumidos quase não houve alteração).
Cenário nacional: Podemos considerar o mercado estagnado se o mesmo público continuar absorvendo o que é publicado sem que haja excesso no lançamento de jogos (que possam levar empresas à bancarrota) e, ao mesmo tempo, sem que haja crescimento no número de jogadores. Agora, só saberemos se existe uma bolha se e quando ela estourar; mas é quase certo que eventualmente venha algum tipo de correção no mercado brasileiro, talvez até um crash como o do D20. Porque o mercado nacional é relativamente pequeno ainda, e ainda há forte flutuação nos preços. O mesmo jogo que hoje é vendido por R$ 800,00 pode ser encontrado tempos depois por R$ 300,00 - e vice-versa - em decorrência de fatores que não são óbvios. Eu cheguei a ver jogo ser vendido em leilão aqui na Ludopedia por R$ 2.000,00+ e pouco tempo depois por menos de R$ 1.000,00; também vi jogo de R$ 300,00 sendo vendido depois por R$ 700,00. Não faz muito tempo um conhecido que trabalhou com jogos de tabuleiro aqui no Brasil até recentemente (note o termo no passado), para empresas como a Cool Mini or Not, me confidenciou que não é infrequente que o lançamento de um jogo não dê lucros aqui no Brasil, e que há a percepção de que ainda há público a ser conquistado; a questão é, e se não for? E mesmo que esse público exista, e se demorar demais para que seja conquistado? Qual o peso desses jogos que dão pouco ou nenhum lucro para as empresas aqui no Brasil? Qual o potencial dos atuais consumidores de absorver o que é publicado nos preços atuais? E se der uma dor de barriga na economia brasileira e esse relativamente pequeno público decidir que vai ficar com a coleção que já tem? E se (todos os cenários que citei em postagens anteriores, como o alastramento de guerras, quebras nas cadeias produtivas, etc) num mercado em formação numa sociedade que mal acabou de sair de uma crise (a pandemia)? E se houver uma correção forte lá fora, como o frágil mercado nacional reagiria?
São muitos "se", mas é o que temos para hoje!
Forte abraço,
Rafael R.
Nota *1 - Sobre bolhas imobiliárias: digamos que Fulano tenha um apartamento avaliado em R$ 1.000.000,00, mas que não haja compradores dispostos a pagar isso agora, e que nem haverá nos próximos 20 anos. Talvez Fulano não consiga vender o imóvel agora, mas pode, por exemplo, utilizá-lo como garantias em financiamentos (hipotecas, refinanciamento imobiliários, etc), para aumentar o score, investir como capital em empresas, etc. Do ponto de vista de quem financia e oferece crédito para Fulano, o que vale é a análise do mercado atual, e com esses créditos em mãos os bancos projetam ganhos e obtém eles mesmos mais créditos (aqui é onde geralmente começa a especulação); com o tempo, se esta análise de mercado estiver errada (o que pode ser o exemplo do Eduardo Vieira), o que pode acontecer é um dia os bancos terem que lidar com a realidade de que estão com um monte de bens e produtos financeiros em mãos que não valem de fato aquilo. O difícil no caso do setor imobiliário é que, no geral, são investimentos de longo prazo, e é normal que demore alguns anos para que se venda um imóvel - não a toa, bolhas imobiliárias, ainda que demorem para estourar, são muito comuns no mundo inteiro (não faz muito tempo tivemos um estouro de relativas pequenas proporções na China, por exemplo).