evieira::R DKS::Sobre a questão em si, se existe ou não uma bolha dos board games... eu acho que sim e não.
Fora do Brasil jogo de tabuleiro não é tão caro.
Pense num americano que paga US$ 10,00 numa pipoca grande quando vai ao cinema, e depois pensa num jogo X que lá custa US$ 50,00 (5 pipocas de cinema).
Agora pense no paulistano que paga R$ 25,00 numa pipoca grande quando vai ao cinema, e agora considere que o mesmo jogo X acima que lá custa 50 doletas aqui custa mais de R$ 500,00 (20 pipocas de cinema!).
Aqui no Brasil, alugar o jogo X já custa R$ 50,00, 2 pipocas de cinema!
E me diz, quem sente mais no bolso ao comprar a pipoca: o americano ou o brasuca?
Mesmo um Kickstarter de um jogo que custe inicialmente US$ 200,00, por mais que seja algo que soe custoso ao norte-americano ou europeu médio, não se compara ao custo relativo para o Brasileiro que, recebendo seu salário numa moeda desvalorizada com relação às demais, ainda tem que pagar um frete maior, 60% ou mais de taxas e ainda tem que lidar com as dores de cabeça da alfândega e com as incertezas inerentes a um cenário econômico e político nacional eternamente em crise.
Aqui no Brasil, basta que o governo decida derrubar os impostos sobre importações que incidem sobre os jogos para que caiam os preços e a bolha "estoure". Se o real se valorizasse por qualquer motivo outro que uma crise internacional também, haveria uma queda de preços e o efeito seria parecido com o de uma bolha (já imaginou se todo jogo que você comprou por R$ 500,00 de repente pudesse ser comprado por R$ 50,00?). Ou se o custo Brasil caísse e ficasse mais barato produzir e comercializar no país... Se o país quebrar também, porque muita gente vai ter que se desfazer de bens de luxo (ainda que jogos raros nesse cenário provavelmente não seriam afetados). E por aí vai.
Internacional? Eu acho que o que pode acontecer é ficar inviável a publicação de jogos de tabuleiro nos padrões atuais da noite para o dia em decorrência de uma quebra na cadeia global. Basta o conflito entre Rússia e Ucrânia se alastrar, ou dar algum xabu no mar da China, ou...
Vai acontecer tão logo? Não sei, mas pode. Ninguém espera o cisne negro!
As comparações de custo relativo que você coloca são realmente interessantes.
Eu só me pergunto se o publico dos jogos aumentaria tanto assim. Porque, pela minha experiencia em apresentar jogos, a grande maioria das pessoas não se interessa pelos jogos mais complexos. Esse fator limitador não sumiria junto com os problemas criados por nossa economia.
Mesmo sendo relativamente caro, o jogo ainda é uma diversão relativamente barata. Um jogo é o preço de um jantar fora. E, nos andares de cima da sociedade brasileira, jantar fora é bem comum. Eu acho errado achar que todos os fatores limitantes estejam no preço.
Existem outras barreiras: preconceito (jogo é pra criança), elitismo (dos jogadores experientes para os novatos), poucas luderias fora do eixo rio-sp…
Porem, não há dúvidas que um eventual corte nos preços aumentaria o consumo. Seriam mais pessoas comprando jogos ou as mesmas pessoas comprando mais? Claro, um pouco de cada, mas eu acredito que teríamos mais o segundo caso que o primeiro.
Quanto aos eventos negativos, bem, tivemos o covid e o consumo de jogos aumentou ao invés de diminuir. Espero que nada disso aconteça, mas eu não seria tão lúgubre. Sempre dá-se um jeito. O digital é uma saída muito boa.
Obrigado pelos comentários!
Então, mas veja bem, eu não levantei essa questão de aumento ou diminuição do público dos jogos, pois, como você bem apontou, há muitos outros fatores que influenciam nisso.
Meu ponto foi mais na direção da existência ou não de uma bolha no mercado brasileiro. Nem toda bolha econômica cresce em decorrência de especulação; há bolhas que crescem em decorrência de anomalias em outras áreas da economia, e esse era o meu ponto. Quando a bolha no mercado norte-americano de quadrinhos estourou (esse em decorrência de especulação), houve também uma espécie de "estouro da bolha" no mercado europeu de quadrinhos (com relativa pouca especulação): a procura sumiu, os preços ruíram, muitas empresas quebraram e o mercado, embora tenha continuado existindo, também nunca se recuperou.
Quanto ao mercado internacional, quando eu digo que vejo um potencial para uma quebradeira generalizada - mesmo sem que haja o estouro de uma bolha - em decorrência de eventos globais, eu o digo porque acho que guerras abrangentes e embargos prolongados são, no geral, mais destrutivos para indústrias sofisticadas como a dos jogos de tabuleiro do que pandemias catastróficas não apocalípticas como foi o Covid-19 (foi ruim, mas pode ser muito pior). Digo isso porque, embora tenham ocorrido atrasos em decorrência dos múltiplos lockdowns por todo o planeta, não houve um rompimento completo nas cadeias de produção, não havia ninguém explodindo navios mercantes de bandeiras adversárias, não havia estruturas portuárias sendo varridas do mapa, escassez de petróleo, etc - e o risco de algo assim nos cenários descritos existe (ainda mais se levarmos em consideração justamente que acabamos de sair de uma crise causada pela pandemia e se levarmos também em consideração o recente processo de desindustrialização do ocidente). Como o público não é tão grande, e como há, no Ocidente, poucas indústrias predispostas a suprir as demandas necessárias para a manufatura desses jogos, acho que veríamos uma alteração muito drástica no mercado de jogos físicos.
Claro que, nesses casos, board game muito provavelmente não será nem de longe a preocupação da maioria de nós.