MuCiLoN::Arg_olirio::MuCiLoN::
Oi Iuri,
Acompanho teu trabalho e gosto dos teus textos, e até nem discordo da maior parte deste teu último texto, apenas ponderei que, talvez, o link com Magic tenha sido apenas superficial, é possível que, para denunciar o culto ao novo nos jogos de tabuleiro, necessariamente não seja necessário vincular ao Magic, que me parece, é uma natureza completamente diferente que se baseia não necessariamente no culto ao novo, mas em um sistema que pela sua própria identidade exige uma constante criação/renovação de elementos.
Dito isso e friso novamente, não dicordei a maior parte de ti nem de tua obra, apenas fui um pouco mais reticente no dialógo com o Magic que, a meu ver, foi um pouco forçado.
Olá, a resposta você mesmo deu... É justamente pq você não é jogador de Magic, o rapaz do texto foi bem assertivo...
O texto afirma que o Magic teria inaugurado, ou popularizado, um culto ao novo e da compra desenfreada.
Na minha opinião isso não é verdade, a compra de conteúdo novo no Magic e em outros jogos de tabuleiro se dá de formas e por motivos distintos.
Caro
MuCiLoN
Meu camarada, só para esclarecer, eu não estou atacando o Magic, nem dizendo que o jogo é ruim, e nem tem como dizer isso, porque se o Magic não fosse um verdadeiro colosso de jogo ele não faria o sucesso que faz, e durante tanto tempo, mais precisamente 30 anos. Porém, isso não quer dizer que o Magic não tenha aspectos negativos, como tudo na vida. Nas suas próprias palavras: "Magic, que me parece, é uma natureza completamente diferente que se baseia não necessariamente no culto ao novo, mas em um sistema que pela sua própria identidade exige uma constante criação/renovação de elementos". Dessa afirmação, se pode concluir que a Wizard of the Coast lança material novo para o Magic o tempo todo, o que por si só não vincula o Magic, como o principal fomentador do culto ao novo. Só que a coisa não para por aí.
O Magic: The Gathering possui campeonatos e torneios com regras definidas e divididos em categorias e formatos. Só que é preciso lembrar que o Magic não é um jogo feito especificamente para torneios, mas sim para jogar com seus amigos e vizinhos. Nesse caso, as regras de torneio não se aplicam obrigatoriamente. Usando um exemplo absurdo, nada impede que dois amigos joguem cada um com baralhos contendo 4 Black Lotus e 20 Moxis, caso tenham "bala na agulha" para tal, aliás muita bala na agulha. Isso só não é indicado, pelo desequilíbrio de forças contra alguém que não tenha um baralho tão "overpower". Traduzindo isso para um exemplo mais realista, basta pensar na situação em que um duelista "A" que use uma edição mais antiga "X", jogando contra um duelista "B", que use uma edição mais recente "Y". Nesse cenário, provavelmente o duelista "B" terá cartas possivelmente mais fortes e talvez conte com novas habilidades e vantagens que o duelista "A" não terá, e nem conseguirá, anular ou contrabalançar. Isso fará com que o duelista "A" se veja impelido a comprar a nova edição "Y", para se manter competitivo, pelo menos em relação ao duelista "B". Só que quando o duelista "A", conseguir isso, já terá saído a edição "Z", que o duelista "B" terá comprado, e assim por diante, em um círculo vicioso de compra desenfreada.
Evidentemente, ninguém é obrigado a comprar nenhum material novo do Magic, mas isso limita significativamente a sua possibilidade de jogar o jogo. Veja só o meu caso, se eu tivesse conservado as cartas da 4ª edição, ainda assim eu poderia continuar jogando, mas para isso teria de encontrar outra pessoa que tivesse começado tão cedo e ainda mantivesse cartas de uma edição de quase 25 anos atrás. A possibilidade de conseguir jogar Magic nessas condições seria mínima. Portanto, o Magic funciona e sempre funcionou com base na atualização constante por parte dos jogadores, o que implica em comprar material novo, de uma forma geral. O conceito de venda de baralhos prontos só veio muito depois do início do Magic, quando o jogo já estava mais do que consolidado, e sem comprometer o esquema de compra constante dos novos lançamentos. E mesmo que se diga que as pessoas podem comprar cartas específicas em lojas especializadas, isso, mesmo que em menor escala, também é comprar material novo, ao menos em relação ao material que já se tem.
Além disso, salvo engano todo ano é lançado material novo para o Magic, uma primeira expansão em um ano, mais duas no ano seguinte, e as três compõem um bloco único, com novas cartas e habilidades. Não tenho certeza se é assim que funciona atualmente, porque estou afastado há muito tempo, então me perdoe seu eu estou falando bobagem, mas é assim que eu me recordo que o Magic funcionava. Desse modo, a criação de material novo acontece literalmente todo ano. E esse material afeta o jogo como um todo, não apenas quem joga com aquela expansão. O Zombicide é uma franquia de jogos conhecida por lançar uma nova edição a cada dois anos, mas tem uma diferença. O Zombicide Black Plague não tem absolutamente nada a ver, nem afeta em nada quem tem as seasons 1, 2 e 3, do mesmo modo que a edição Invaders não afeta em nada quem tem a Black Plague ou a Green Horde. Claro que o Zombicide talvez não seja a melhor comparação, porque ele é cooperativo e o Magic competitivo. Porém, não dá para negar que tanto o Zombicide, quanto o Magic vivem da exploração do fascínio que o novo representa, mesmo que cada um à sua maneira. E isso tudo se iniciou com o Magic.
É possível dizer, por exemplo, que o Warhammer 40k, anterior ao Magic, já trazia esse embrião de jogo calcado na compra de material novo. Porém, mais uma vez existem duas diferenças. A primeira é que o Warhammer 40k é um jogo muito mais caro, considerando apenas o material básico para jogar, e necessita de uma estrutura muito maior. O Magic só necessita de um baralho de 50 cartas, por isso ele é absurdamente mais difundido e jogado no mundo todo, tendo uma influência muito maior que o Warhammer 40k. É só comparar a quantidade de pessoas que jogam Warhammer 40k, com quem joga Magic, e isso apenas no Brasil. A segunda diferença é que o lançamento de novas edições do Warhammer é muito mais espaçada. Não é todo ano que se vê material novo do Warhammer 40k como acontece com o Magic. Assim sendo, pelo menos na minha opinião, que é contrária à sua, sem desdouro para nenhuma das duas, foi sem sombra de dúvida o Magic: The Gathering que criou e principalmente popularizou esse culto ao novo, que impera no hobby dos board games modernos, e não me recordo que nenhum outro jogo tenha atuado tão incisivamente nesse sentido.
Por outro lado, eu te acho uma pessoa sensata e com pontos de vista interessantes, por isso eu te peço para elaborar um pouquinho mais o seu raciocínio, apresentando quais são os argumentos que te fazem pensar que "a compra de conteúdo novo no Magic e em outros jogos de tabuleiro se dá de formas e por motivos distintos". Dessa forma nós poderemos enriquecer essa debate tão interessante.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio