Escrita por: Rodrigo Neves.

Introdução Histórica:
Adobe é um tipo de argila usado para fazer tijolos. Em muitas regiões de clima seco do mundo todo, as civilizações usaram tijolos de adobe nas suas construções. Em parte, isso faz sentido, pois nessas regiões existem poucas árvores das quais extrair madeira para a construção. Nas regiões mais secas da América do Norte, os índios também construíram com adobe.
Os Pueblos eram construções indígenas, tipo um prédio de apartamentos, feitos de adobe, onde cada residência ficava em cima da outra. Diversos deles foram preservados e ainda podem ser visitados no México ou sul dos Estados Unidos. Ainda existem dezenas de pueblos, entretanto a maior parte deles infelizmente foram completamente descaracterizadas pelos moradores atuais, e hoje em dia assemelham-se mais à favelas.
Sinopse do Jogo:
Pueblo é um jogo de construção espacial abstrato. Cada jogador precisa trabalhar junto aos demais jogadores, para criar um poderoso pueblo para o Cacique, tijolo por tijolo. Entretanto, você não pode deixar que o Cacique veja os tijolos da sua cor, apenas os neutros, de cor areia, ou você será penalizado. Quanto mais o pueblo cresce, mais difícil se torna esta tarefa.
Mecânicas:
- Cerco de área;
- Colocação de peças;
- Construções em três dimensões.
Visão Geral:
Pueblo é um jogo um antigo, com uma arte bem bolada e um visual encantador ao final da partida. A caixa é quadrada, do tamanho padrão de muitos jogos familiares e euros, daquele tipo que encaixa perfeitamente na prateleira, junto com os outros. Ele possui um insert simples e bastante funcional, que comporta muito bem todos componentes... que aliás, são poucos.
O manual é impresso colorido, com papel tipo revista e bem escrito. É multilíngue e vem em alemão, italiano e inglês. Infelizmente ele não está disponível em português
O jogo vem com um conjunto de peças coloridas, nas quatro cores dos jogadores: vermelho, roxo, azul escuro e azul claro. Além de um conjunto maior de peças neutras da cor areia. Todas as peças são exatamente do mesmo formato e tamanho, variando apenas na cor. Um fato interessante é que duas destas peças juntas, formam um cubo perfeito.
Existe um tabuleiro pequeno de construção, formado por uma grade 8x8, de cor mais clara ao centro, onde efetivamente as peças de construção poderão ser colocadas. Esta grade está dividida em quatro quadrantes. Ao seu redor, existe uma trilha por onde o cacique irá se movimentar para contornar a obra. Note que as quinas ou corners da trilha do cacique possuem um desenho diferente do resto, pois ao parar ali, o cacique fará uma ação diferente também.
O segundo tabuleiro é pouca coisa menor, e serve para marcar a pontuação dos jogadores. Ele possui uma arte temática bem legal, e forma original ele forma uma trilha em espiral, de dentro para fora.
Existem também alguns componentes extras para fazer o jogo mais desafiador. Temos 4 tiles quadrados numerados que adicionam um elemento de licitação para ordem do turno e 4 tiles em forma de L que marcarão locais sagrados, onde não poderá ser feita nenhuma construção em cima.
No começo da partida, cada jogador recebe um conjunto de peças neutras e da sua cor, de acordo com quantidade de jogadores, conforme descrito em uma tabela no manual. Elas devem ser combinadas para gerar vários cubos na frente do jogador. Independentemente do número de jogadores, sempre irá sobrar uma peça da sua cor, que será a primeira peça a entra no jogo.
Existem uma mecânica muito inteligente aqui. Isto porque você apenas poderá desmembrar um cubo para jogar uma de suas peças, se não existir mais nenhuma peça avulsa a disposição. Esta regra inibe o jogador usar todas as peças coloridas ou neutras de uma só vez.
O jogo é bastante simples. Iniciando pelo jogador mais novo e continuando no sentido do relógio, cada jogador deve colocar uma única peça de construção no tabuleiro, mover o cacique e aplicar os pontos de penalização necessários. E isto deve ser feito repetidamente, até todas as peças terminem.
As regras de construção são poucas e bem diretas: as peças devem ficam dentro da grade mais clara, cada peça nova tem que estar em contato com pelo menos uma já existente e a elas precisam estar totalmente apoiadas por baixo, ou seja, não podemos deixar suas pontas “flutuando”.
Após a colocação da sua peça o jogador poderá mover o peão do cacique sobre a sua trilha, sempre no sentido horário, de uma a quatro casa, a sua escolha. Se na linha onde o peão se encontra, for possível se ver na lateral, alguma peça de qualquer jogador, ele será punido e receberá alguns pontos de penalização.
Os pontos serão referentes ao andar em que a peça está visível. No primeiro andar 1 ponto de penalização, no segundo 2 pontos de penalização, no terceiro 3 pontos de penalização, e assim sucessivamente.
Quando o cacique parar em um corner do tabuleiro, considera-se que ele subiu em uma escada e irá avaliar a construção de cima! Isto mesmo... Cada jogador receberá 1 ponto de penalização por quadrado visível de cima. Mas calma, só contarão aqueles que se encontram no mesmo quadrante que o cacique.
Quando todas peças forem colocadas, e a última penalização aplicada, colocamos a ficha branca para marcar a última posição do cacique. Em seguida ele dará uma volta completa no tabuleiro fazendo a inspeção final e aplicando as penalização finais em cada linha e corner do tabuleiro. Isto deve ser feito até ele regressar novamente a ficha branca, quando o jogo termina. Vence o jogador que tiver menos pontos no fim.
Avaliação:
Pueblo é um excelente jogo abstrato com construção espacial. Mais um belo jogo do Kramer da escola clássica: simples, elegante e desafiador. O jogo tem regras claras, e não existe dificuldade em executar a construção. O difícil é antever geometricamente as consequências das suas escolhas.
A interação aqui é muito alta, pois ganha quem consegue dedurar mais os coleguinhas ao cacique e, ao mesmo tempo, protege melhor os blocos da sua cor. Mas por incrível que pareça, não é o tipo de jogo que gera conflitos ou tretas, pois quando um jogador coloca uma nova peça, ele já está ciente que as suas fraquezas serão exploradas. Desta forma, se torna um jogo cobertor curto, de escolher os encaixes com menor exposição. Incrivelmente, a sensação que prevalece não é frustração de quando te escolhem como alvo, mas sim a alegria quando você percebe que seu coleguinha acabou de fazer uma jogada que o transformou em um alvo muito mais “apetitoso” que você.
A exposição à penalização em momentos será pela lateral e em outros será pelo topo. Isto diminui bastante as opções de defesa. Logo este não é um jogo em que o cara conseguirá sair incólume... mais cedo ou mais tarde, chega a sua vez.
Logicamente que quanto mais alto você colocar a sua peça, mais risco você correrá na penalização, pois ela aumenta com o andar. Porém, existe um balanço matemático aqui, e não existe muito como fugir do terceiro e talvez quarto andar no fim do jogo, dado que os espaços se esgotam. A briga nos andares superiores fica mais acirrada no fim da partida.
Um jogo rápido, com setup ligeiro e de simples explicação. Tudo isto faz do Pueblo um ótimo jogo familiar. Na minha opinião pessoal e nada imparcial: Fantástico! Primoroso! Uma obra de arte abstrata.