A imensidão do mar é realmente uma coisa imensurável quando o destino não chega. Já tinha perdido a noção de tempo. Se passaram dias, semanas ou meses desde que saímos do último cais rumo ao desconhecido? Mas quando a esperança jazia moribunda com seu derradeiro suspiro nos lábios, encontramos terra firme. E graças a um santo latido. Uma ilha com vegetação farta e virgem, prefeita para o início de uma nova vida. Está preparado? Cooper Island Tá na Mesa!
Cooper Island é um jogo criado por Andreas Odendahl em 2019. De um a quatro jogadores, com duração média de 120 minutos, em Cooper Island os jogadores são desbravadores tentando colonizar uma ilha.
- Queime esse jogo que promove o massacre de indefesos, ignorantes, maltrapilhos, ignóbeis, deploráveis, pagãos e incultos silvícolas selvagens.
Não sabia que sua visão dos povos nativos era igual a você. As ilhas de Cooper Island (Nota do Sr. Slovic: Ilhas, porque cada jogador tem a sua) estão desabitadas. Você encontra várias ruínas, mas já foram abandonadas há muito tempo. Conforme o jogador desbrava a ilha, tiles de terrenos são colocados e depois sobrepostos (Nota da Sra. Slovic: Igual a Akropolis e Taluva) e a altura dos tiles determina a quantidade de recursos que há no local.
No início do jogo cada jogador tem um mísero terreno já explorado, dois trabalhadores e sua única moeda (Nota do Sr. Slovic: O começo é bem difícil. Depois piora). Cada uma das cinco rodadas é dividia em três fases: Renda, Alocação e Manutenção. Assim como na vida real, em Cooper Island nada vem de graça (Nota da Sra. Slovic: Somente em filmes que um bando chega em uma ilha deserta com tudo dado de bandeja) e se você não se planejar, mas muito, vai terminar com menos.
- Se Cooper é cobre, com esse nome, a ilha deve ter muito desse cobre. Então é só pegar tudo só para mim e ficar rico.
Quase sinto por te decepcionar, protótipo descartado de Scrooge, mas cobre é copper. E não tem cobre na ilha. O nome vem do cão do autor, que na história do jogo é quem avisa aos tripulantes que o barco está próximo a terra firme. Como ele foi o primeiro a ver, a ilha foi batizada com seu nome (Nota da Sra. Slovic: Uma bela homenagem). Além de explorar a vila, os jogadores podem construir prédios e estátuas, encontrar ruínas, exportar material e, o mais importante e difícil, navegar pela ilha, pois é essa ação que rende mais pontos no fim do jogo.
Falar que Cooper Island é um jogo tipo cobertor curto é quase um absurdo. Ele é, na verdade, um jogo tipo lenço de papel umedecido para você se esquentar nu e sozinho, no inverno da Sibéria, ao relento, durante a pior tempestade de neve de todos os tempos. A ilha abre-se para você com todas as possibilidades do mundo, mas qualquer coisa que queira fazer é difícil e oneroso. E é essa a graça do jogo. Queimar neurônios para tentar fazer o que dá e conseguir míseros 10 pontos no fim da partida.
Começar com dois trabalhadores não é cruel. Crueldade é conseguir mais ajudantes. Ter só uma moeda no início não é uma dificuldade. Difícil é arranjar mais (Nota da Sra. Slovic: E elas são necessárias para quase tudo). As construções não são caras. Custoso é obter os recursos necessários para ergue-las.
- E para que vou sofrer jogando isso?
De sofrimento você entende, já que todos ao seu redor padecem só por estar em sua presença. E ainda tem o mínimo espaço para armazenar recursos e moedas, o martírio para conseguir barcos de renda. A regra sacana de zerar tudo o que se tem no mercado (Nota do Sr. Slovic: Que serve quase como um depósito ilimitado) no fim de toda rodada. O sacrifício para conseguir recursos para exportação. A tortuosa escolha de perder de um trabalhador para realizar um decreto real. E tudo isso em meros cinco turnos. Ou seja, se você não conseguir mais trabalhadores, terá só dez ações no jogo inteiro (Nota da Sra. Slovic: E para fazer metade do que você planeja, precisaria disso por rodada).

No geral, Cooper Island é um jogo desafiador. Não é para todos, longe disso. Quem não gosta de martírios e grande perda de massa cinzenta durante a partida vai odiar. Mas se você está curioso, tente jogar. Talvez você seja um heavy gamer enrustido (Nota do Sr. Slovic: Conhecer e não odiar os jogos do Vital Lacerda é um bom indício) e ainda não saiba. Cooper Island é daqueles jogos que você não vai entender na primeira partida, mas vai querer jogar de novo. Lá pela terceira, você começa a ver um caminho e depois de muito suor, labuta e mais jogatinas, ele começa a fazer sentido. Se, como dizem, sofrer é limpar a alma, Cooper Island é quase um processo de remoção de impurezas e renovação espiritual.
E é isso, Shishô!