Deus não joga dados (...)
Prof. Einstein
Diferente da perspectiva evolucionista que acredita que tudo no universo conspirou para culminar nas espécie humana e de lá "prá cá" tudo se torna cada vez melhor, eu tenho uma visão mais caótica disso tudo. Nossa espécie é uma sucessão de improváveis resultados, se o cosmo estiver tentando ir para algum lugar somos as tentativas que deram errado (aqueles resultados indesejados nos dados).
Apesar de sua suposta origem arbitraria a espécie humana não está fadada a depender do "acaso" para continuar existindo (bem, em dimensões cósmicas talvez esteja). Nesse sentido, uma coisa que o ser humano fez por si mesmo e que lhe deu a possibilidade de atuar sobre os rumos de eu destino foi o domínio da técnica. Quando passou a dominar a técnica do fogo (por exemplo), deixou de depender do ocaso e passou a usar a natureza em seu benefício ao invés de esperar por sua "boa vontade" (ou sorte?). Recomendo assistirem o filme A guerra do Fogo (La Guerre du Feu)dirigido por Jean-Jacques Annaud.
No nosso dia a dia é comum perceber que ao menos "da boca pra fora" estamos sempre contando com a sorte. Será mesmo? Na sala de aula, por exemplo, sou bastante criticado (inclusive por colegas) de não desejar "boa sorte" aos alunos e alunas quando estão "a fazer" exames. Mas pensem comigo: se a pessoa não se preparou para realizar o exame, a menos que ela seja tomada por um insight sobrenatural, ela não irá obter exito naquela tarefa. Em minha opinião um instrumento de avaliação (como uma prova) que da margem ao acerto pelo "chute" é falho e privilegia pessoas descomprometida e irresponsáveis.
A sorte existe de verdade? Vejo muita gente argumentar em prol da sorte usando inclusive supostos argumentos de física quântica. De fato a mecânica estatística (ou mecânica quântica) fala de poucas certezas e é bastante fundamentada em probabilidades. Todo evento possui alguma probabilidade de acontecer e se ele se torna real é por que existia ao menos um mínimo de chance disto se consolidar. Mas acredite, a menos que se tratem de informações oriundas de periódicos ou livros científicos, tudo o que você leu ou ouviu sobre Física Quântica pode estar ligeiramente equivocado (sendo bem modesto).
Quando rolamos um dado de seis faces, retiramos uma carta de uma pilha de cartas ou sorteamos algum componente guardado dentro de um saco opaco o que estamos fazendo é eleger UM resultado dentro de várias possibilidades. Isso é sorte? Em minha opinião não. É uma maneira dentro do design de inserir em um jogo o fator aleatoriedade. Acredito que a sorte acontece quando você se lança "ao aleatório" abrindo mão de qualquer objetividade ou estratégia.
Então rolar um dado ou escolher uma carta/componente ao acaso não configura "em si" uma jogada de sorte (ou de azar). Prova disso é que muitos jogos se utilizam de rolagem de dados e não se pode dizer que são jogos cuja vitória seja dependente da sorte.
A aleatoriedade dentro do jogo é algo que se bem utilizado pode conferir dinâmica ao jogo e fazê-lo escapar da mesmice: sensação que sentimos quando nos deparamos refazendo roboticamente as mesmas ações enquanto jogamos. Essa mesmice gera monotonia no jogo e consequentemente e perda de interesse. Jogadores desinteressados tornam uma sessão de jogatina desestimulante e/ou algo difícil de suportar.
Não defendo que o jogo deva conter algum "que" de aleatoriedade para ser bom. Jogos com muita aleatoriedade costumam frustar tanto quanto jogos altamente repetitivos. A aleatoriedade quando bem utilizada, geralmente confere ao jogo o "fator surpresa" e isso provoca emoção (ou frustração) no(s) jogador(es). E é por isso que as vezes vibramos tanto com um favorável resultado nos dados (ou quando nossos adversários tiram os piores resultados).
O fator surpresa por sua vez confere ao jogo uma variedade de possibilidades, ele retira do jogo a previsibilidade. Se um jogador está diante da porta de castelo e sabe exatamente o que vai encontrar la dentro, ele não terá receio algum em chutá-la com os dois pés e entrar por ela (após talvez se levantar). Mas se para descobrir que desafios o esperam dentro da sala o jogador deva retirar uma carta aleatoriamente da pilha de cartas, talvez ele seja mais cuidadoso. Talvez o fator surpresa possa gerar alguma tensão na mesa. Um exército maior e mais bem preparado pode ser surpreendido com uma "virada climática" no campo de batalha e perder a guerra.
O imprevisível é interessante quando ele é delineado. Quando da ao jogador a possibilidade de se precaver contra as adversidades por ele provocadas. Quando um jogador consegue (com antecedência) criar uma estratégia para contornar uma possível situação contrária, oriunda de um fator aleatório pode-se dizer que de certa forma este fator aleatório não gera necessariamente em frustração, já que talvez haja uma estratégia melhor possa amenizar possíveis resultados negativos. No caso da falha o imprevisível se torna imprevisto.
A expressão "mitigar a sorte" é comumente utilizada quando se trata de delinear o imprevisto. Quando posta em prática o que essa mitigação faz é aumentar a probabilidade de que um evento desejado ocorra. Porém quando a chance de um evento favorável se tornar 100%, o imprevisto perde sentido de existir dentro do design além de provocar uma corrida entre os jogadores para contornar a aleatoriedade do jogo. Se este for o objetivo principal do jogo tudo bem, mas se não for, a atenção dos jogadores com relação ao foco principal do jogo corre sério riscos de ser desvirtuada. e por consequência a diversão pode ser comprometida.
Outra coisa a se pensar sobre "mitigar a sorte" é: Se vamos "capar" a sorte até que ela quase inexista, será que não existe algum outro modo pelo qual eu posso fundamentar meu jogo que não seja o uso da aleatoriedade? Sendo direto: se eu não quero que "a sorte" influencie no meu jogo, porque eu insisto em tê-la dentro do meu conjunto de regras?
continua...