TIMELINE
Por Rodrigo Vasconcelos, publicado em 22 de março de 2016.
Olá caro leitor! Você deve estar se perguntando: o que pode ser explorado num jogo tão pequeno como o Timeline? A minha resposta é: são nos menores frascos que existem os melhores perfumes e os maiores venenos. É eu sei que a resposta é bem clichê, mas ela não deixa de ser verdade e esta resenha está aqui para provar o valor do nosso pequeno prodígio Timeline.
Figura 1: A imagem mostra a pequena caixa do Timeline: vários temas, publicado no Brasil pela Galápagos Jogos.
Timeline é um jogo rápido para 2 a 8 jogadores. Do francês Frédéric Henry e com arte assinada por Xavier Colette e Nicolas Fructus. Esse é um daqueles jogos que podemos trazer à mesa de jogo os nossos filhos e avós. Publicado no Brasil pela Galápagos Jogos, o preço praticado está abaixo dos trinta reais (R$ 29,90 cada caixinha). E é garantia de boa diversão e altíssimo custo/benefício.
Figura 2: Imagem da versão gringa da caixa do Timeline: Invenções, a segunda publicação da série a desembarcar em terras tupiniquins. A série Timeline conta com nove títulos ao todo.
Mas, e na sala de aula? Quais são as possibilidades do Timeline? O apelo histórico do jogo começa em seu próprio título e objetivo. A grande ideia do jogo é que os jogadores montem uma linha do tempo (como o próprio título sugere). Para isso, o jogo conta com 110 cartas de eventos históricos, descobertas científicas, invenções, obras literárias; enfim elementos da presença humana ao longo da história. De um lado essas cartas contam com o título do evento e uma belíssima ilustração, em seu verso a mesma carta adiciona a data de seu acontecimento ou descoberta.
Figura 3: Imagem de algumas cartas do jogo dispostas na mesa formando a tão almejada linha do tempo.
Cada jogador recebe uma quantidade de cartas e as mantem a sua frente (com a data para baixo, em segredo). Em sua vez, o jogador deve colocar a carta onde acredita ser a data de seu acontecimento, ampliando assim a linha do tempo. Ao colocar a carta no espaço de sua escolha o jogador deve virá-la para saber se a linha do tempo (e a carta) está correta. Caso a carta tenha sido colocada corretamente o jogador terá uma carta a menos. Vence o jogo quem conseguir colocar todas as cartas na linha do tempo corretamente. Se errar o jogador coloca a carta no fundo da pilha e compra a primeira carta dessa mesma pilha.
Mas, professores – principalmente de História – podem estar pensando: isso não é decorar datas? Vamos lá! Uma das primeiras coisas importantes no Timeline é a assunção de que por meio da memorização é impossível decorar todas as datas presentes nos eventos da história (representados nas cartas do jogo). Com isso, começamos a buscar estabelecer outras relações que não apenas por meio da memorização das datas. Nesse sentido merece destaque a análise das imagens presentes nas cartas.

Figura 4: Aqui se deve prestar atenção no figurino dos personagens retratados nas cartas. Nesse sentido é possível perceber e construir a linha do tempo a partir do vestuário dos personagens envolvidos nas imagens, tendo boas pistas de onde dispor as cartas na linha do tempo. Vemos na primeira imagem um vestuário típico do período das grandes navegações; na terceira carta temos toda a pompa das cortes do século XVIII; na última imagem vemos o corte de cabelo Chanel característico da ousadia das mulheres do início do século XX. É possível discutir, através destas cartas, com os alunos as permanências e rupturas ao longo da história da humanidade.
Vale apontar que no ensino de História há certa aversão pela memorização de datas. Essa aversão se constitui no desejo de se afastar de um ensino baseado no forte apelo memorístico, que outrora definia a metodologia do ensino de História. Os alunos deveriam decorar as datas dos eventos históricos bem como o nome dos personagens participantes. Essa ação esvaziada de reflexão de fato deve ser evitada no ensino de História. No entanto, alguns professores de História foram para o extremo oposto (e também perigoso) de negação a qualquer aspecto da memorização, e dentro dessa perspectiva a demonização das datas.
Entendemos que as datas e o uso delas através do jogo Timeline pode dar outro sentido ao trabalho do professor de História ao construir com os alunos a importante noção de tempo histórico. E dentro do conceito de tempo é necessário que o professor discuta com os alunos a simultaneidade de alguns eventos históricos, além das noções de tempo de longa duração e curtos períodos de tempo.
Figura 5: Aqui o professor pode explicar a noção de simultaneidade de eventos históricos quando cartas apresentam uma mesma data para o seu acontecimento ou descoberta. Bem como é possível mostrar as noções de longa e curta duração na História.
Mas, nem só de debates e construção de conceitos vive o Timeline na sala de aula. Uma possibilidade é dividir os alunos em grupos, selecionar as cartas dentro do período estudado e propor que os estudantes pesquisem no livro didático – ou em outros dispositivos de pesquisa disponíveis – os eventos das cartas ou indícios que justifiquem as escolhas do grupo para colocar uma carta em uma posição ou noutra. Nessa variante, os eventos selecionados ficam dispostos (com as datas escondidas) na mesa de maneira aleatória. Na sua vez de jogar o grupo deve escolher um evento e o colocar na linha do tempo, organizando-a de maneira cronológica e de modo ascendente. Cada carta disposta corretamente dá um ponto à equipe que a dispôs e cada argumentação válida proporciona a equipe mais três pontos. Nessa variante há a possibilidade de outro grupo contestar a argumentação e propor outra justifica. Nesse caso, o grupo da vez ganha um ponto (por colocar a carta no lugar correto) e o que melhor justificou o lugar da carta ganha três pontos. Ao fim ganha quem somar mais pontos.

Figura 6: Algumas cartas dispostas para a escolha dos grupos. O recorte histórico tomado na seleção das cartas foi de 50 anos (a primeira metade do século XX). E foi utilizada depois de discutir Neocolonialismo, Segunda Revolução Industrial, Primeira e Segunda Guerra.
Timeline é uma grande oportunidade de ampliar o repertório cultural tanto de professores como de alunos. Principalmente porque conta com nomes de grandes personalidades da História mundial. Mas, também por proporcionar o contato com aspectos da arte, da música, do cinema, etc.
Figura 7: Exemplos de algumas cartas que podem possibilitar a ampliação do capital cultural de alunos e professores.
Como dissemos no começo desta resenha, Timeline é um grande jogo dentro uma pequena e acessível caixa. Um jogo que tem várias possibilidades de utilização na sala de aula. Aqui falamos de algumas possibilidades que pensamos e utilizamos no ensino de História. E você já utilizou o Timeline na sua sala de aula? Conta para a gente como o jogo foi utilizado? Não sabia que esse card game podia ser utilizado na sala de aula, então vai lá experimente, inove, crie recrie e não esqueça de dividir com a gente a experiência da sua timeline.
Crédito das imagens: figuras 1 e 3: Galápagos jogos; figura 2: Ludopédia.