clebercastilho::Ah mas Cleber, tem a questão do dólar, da importação, e tals. Simples, produza aqui no Brasil. Ah editora gringa não deixa... Não traz o jogo. Incentive designers nacionais. Lance outro jogo com mecanicas iguais, tema e arte diferente.
storum:: Agora pra finalizar, sem dar nomes e comprometer, constatei que um determinado jogo está já em falta no mercado, os lojistas chegaram a reclamar com a editora pra reabastecer os estoques, nada feito. Na editora, existem quase 250 cópias lacradas em seu galpão, o dono simplesmente curto e grosso: vamos aguardar um bom tempo e depois re-lançamos com um "preço bem maior, talvez algo perto do dobro !!!"
tpcordeiro:: Mas realmente, não deve ser tão difícil entrar na TV, principalmente as maiores, tipo a Galápagos. Qdo meu filho vê esses canais de desenho, eu vejo tanto brinquedo merd@ sendo vendido nos comerciais, q só por estar aparecendo alí devem vender q nem água, e de fabricantes desconhecidos, não é possível q as editoras de boards nunca pensaram nessa estratégia...
PCSSV:: Compartilho imensamente seu desabafo e tenho sim, boas condições para aquisições, mas já não tolero o rumo que tomou o hobby.
Um grande abraço,
Sergio Vieira.
Caros clebercastilho, storum, tpcordeiro e PCSSV
Meus camaradas eu concordo inteiramente com o que vocês disseram.
Quanto à questão de procurar outras mídias e outras formas de divulgação, isso seria excelente, mas infelizmente não será feito, porque isso demanda investimento, que só se verifica em empresas que querem crescer. As editoras nacionais de board game não querem crescer. Para elas, manter um mercado capaz de absorver algo perto de 1.000 unidades por jogo já está bom demais. É como eu sempre digo, as nossas editoras de board games não lançam produtos. Uma empresa que lança um produto quer que ele venda bastante, para que possa ser cada vez mais produzido, e continue vendendo e gerando lucros por muito anos. As editoras brasilerias de board game lançam projetos, ou seja, eu quero produzir 1.500 cópias de um jogo, vender 1.000 unidades na época do lançamento, e as outras 500 unidades eu vou desovando no decorrer dos meses ou anos, através de promoções e da Black Friday. Com esse raciocínio, é até natural que as editoras estejam satisfeitas com a cobertura dos canais de board game tradicionais, porque isso é suficiente para escoar as pequenas tiragens que são produzidas.
Outro fator que vale a pena comentar é a questão da produção de jogos localmente. No caso do jogos estrangeiros isso não é possível porque as editoras gringas não permitem, e porque, como as tiragens são mundiais, certamente é mais barato produzir na China. Mas em se tratando de jogos nacionais, nenhuma dessas duas condições se aplica. Só que nesse caso, é comum algumas editoras dizerem que a indústria nacional não tem condições de produzir os elementos utilizados nos jogos. Eu sinceramente acho muito difícil de acreditar nisso, porque nós temos uma indústria muito forte no setor de brinquedos, que em boa parte utiliza cartas e pecinhas plásticas. Assim, talvez seja por conta da minha ignorância leiga, de quem não trabalha no setor de board games, mas sinceramente não consigo enxergar essa suposta dificuldade para produzir jogos nacionais, inteiramente no nosso país, que as editoras dizem que há.
A impressão que me dá é que, como as empresas são pequenas, e os seus sócios ganham seu sustento através de outras atividades profissionais, as suas empresas/editoras, que deveriam ser tratadas de forma profissional, acabam sendo um hobby também. Essa é a única explicação que eu encontro para que as editoras tenham tanto problema de comunicação com os apoiadores. Isso simplesmente não é tão importante. Além disso, em uma empresa que só possui 4 funcionários, conforme o @
storum relatou, onde o acúmulo de funções deve ser absurdo, entrar em contato com as pessoas é, com certeza, a última das preocupações.
Outra impressão que tenho é que, como as empresas são pequenas e não têm a menor preocupação em crescer, o pensamento e as estratégia empresariais também são pequenas. Vejam só esse exemplo, do sujeito segurando as 250 cópias lacradas na editora. Ao invés dele aproveitar que o jogo está vendendo bem, escoar a produção, e se preparar para produzir mais uma leva, ele prefere deixar o jogo mofando no galpão da editora (dependendo do caso, literalmente), apostando de que o preço vai melhorar em um futuro próximo. Como o mercado de board games é muito volátil, no sentido de viver de novidade, é bem possível que daqui a alguns meses, esse interesse no jogo, que existe hoje, simplesmente desapareça. Aí será um desespero, porque o sujeito vai ter uma enorme dificuldade de vender essas 250 cópias, e possivelmente não conseguirá o mesmo preço, de quando o jogo estava em evidência. Como as editoras não vivem da venda de produtos (que são mais perenes), mas sim de "projetos", com um cunho muito mais imediatista e finito, esse sujeito vai ter de vender seu próximo jogo, bem mais caro do que poderia, para inclusive cobrir o prejuízo dessas 250 cópias encalhadas. Basta pensar na onda de jogos de zumbi, seguida da onda de jogos de pirataria e depois da onda de jogos vikings, em que praticamente qualquer coisa nesses temas vendia bastante, independente do jogo ser bom ou não. Hoje, um jogo de zumbi/pirata/viking, pode até vender bem, mas certamente não terá o mesmo desempenho, que teria se tivesse sido lançado nessas respetivas épocas. Essa lição, que qualquer um que tenha algum tempo de hobby já aprendeu, parece não passar pela cabeça desse sujeito.
Por outro lado, é forçoso reconhecer, e muita gente se recusa a fazer isso, que a culpa pela atual situação do mercado nacional de board games não é exclusividade das editoras. Um grande parcela dessa culpa é nossa, que compramos board games regularmente. Uma coisa muito certa em análise de setores econômicos, é que as empresas tentam a todo o custo manipular o mercado a seu favor (em todos os segmentos), mas de maneira geral, as empresas se comportam de acordo com aquilo que o seu mercado consumidor sinaliza.
Quando uma editora não prioriza, nem investe em uma boa tradução, e muito menos uma boa revisão, é natural que o jogo que ela lance, venha com termos mal traduzidos e com diversos erros, inclusive com imagens e símbolos trocados, que não dependem de tradução ou localização. Mas quando esse jogo vende horrores, apesar desses erros, o recado que o mercado manda para as editoras é de que elas estavam corretíssimas em não se preocuparem e não investirem em tradução e revisão, porque os jogos serão comprados do jeito que vierem. Depois disso, se a reclamação for muito grande, é possível que a empresa até faça alguma coisa, mas na maioria dos casos, o jogo sai errado, e fica por isso mesmo. Nesse aspecto é no mínimo curioso, que as pessoas que reclamam que na Europa os jogos têm componentes de madeira, enquanto que os componentes da versões nacionais sejam de plástico, o que indica um alto grau de exigência de qualidade, sejam as mesmas pessoas que compra jogos com erros grosseiros de tradução, porque eles estão em português, e nem todos os seus amigos dominem o inglês.
Da mesma forma, quando uma editora lança um jogo contendo apenas cartas, custando meio salário mínimo, e com expansões obrigatórias e igualmente caras, todo o mercado fica num alvoroço só para comprar o jogo e todo mundo só fala disso, como se disso dependesse a felicidade pessoal de cada um. Nesse caso, a mensagem que se manda para as editoras é que elas podem cobrar cada vez mais caro mesmo, porque as pessoas continuarão comprando, apesar do preço altíssimo. Portanto, nós boardgamers também somos em parte culpados, pelo caminho que o hobby está tomando.
Por fim, fica cada vez mais claro que as editoras, salvo raríssimas exceções (como a MS Jogos do Marcos Macri e a Papergames), estão cada vez mais empenhadas naquilo que foi citado anteriormente "produzir menos e cobrar mais". Também fica cada vez mais claro que os boardgamers de forma geral continuarão comprando, normalmente, jogos com erros e com preços cada vez mais elevados, prestigiando a atitude das editoras de não investirem em tradução/revisão, e muito menos se preocuparem e buscarem meios de reduzir os preços dos jogos. Por conta disso, eu estou cada vez mais convicto de que o mercado nacional de board games vai se tornar cada vez mais restrito, mais elitizado e mais irrelevante (cada vez menos lançamentos internacionais vão se preocupar em enviar para o Brasil), a menos que algo mude, seja da parte das editoras ou da parte do mercado consumidor. E se as editoras não estão empenhadas em ou solucionar ou melhorar os problemas atuais do mercado de board games, então cabe a cada um de nós, boardgamers e consumidores, fazermos isso,
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio