Podcast curto (o que eu não acho ruim rs) e bem bacana.
É um tema bem interessante. Anos atrás (antes da pandemia) eu tinha uma impressão um tanto "preconceituosa" do modo de jogo solo. Acostumado a boardgames há décadas, iniciado na juventude com os Wars e depois evoluído para os eurogames, tinha também relativo fácil acesso a amigos e mesas de jogos, de forma que jogar um jogo, sozinho, para mim, não parecia fazer qualquer sentido. Se era para jogar por conta, oras, poderia jogar um jogo digital. Assim, tinha a impressão que era um tipo de experiência para pessoas, necessariamente, muito solitárias ou introspectivas (este era o preconceito).
Eu evitava julgar quem curtia a mecânica, até mesmo pq já tinha maturidade suficiente para não cuspir para cima, mas duvidava muito de que eu me interessaria por essa prática um dia.
Só que as coisas mudam e com relativa velocidade rs. Em pouco anos, me tornei, cada vez mais, menos adepto a jogos digitais. Vale destacar que eu nunca fui muito paciente para eles em si, por exemplo, jogos de campanha ou RPG, já não me atraiam. Meu "negócio" eram jogos de tiro em primeira pessoa, desde que rápidos e com rodadas igualmente rápidas. Mas mesmo esta vertente deixou de me agradar.
Em contrapartida, fui me interessando mais e mais por jogos euro com interação mínima entre jogadores.... e daí para um modo solo, não é preciso de muito, uma vez que mínima interação significa menos demanda por adaptações de um automata, IA ou ajuste nas regras.
Some a isso que eu modifiquei no passar dos anos a forma como avalio meu sentimento de "culpa" com relação ao investimento presente no hobby. Boardgames não são necessariamente baratos e na medida que minha coleção começou a crescer, a quantidade de partidas que meu grupo, cada vez mais difícil de ser reunido devido a questões profissionais e de família, foi sendo diluída.
Há um tempo defini uma meta de X reais por partida para que um jogo se justifique ou, como digo, "se pague", mas com a inflação nos preços dos jogos que ocorreram nos últimos 10 anos e cada vez menos partidas "per game" devido a agenda, distanciamento e... pandemia, o modo solo se mostrou uma mão na roda por:
- Trazer diversão e um "quebra-cabeças" analógico, ocupando um espaço de diversão que os jogos digitais não ocupam mais;
- Permitir que os jogos vejam mesa, independente do grupo ter que se reunir;
- Permitir que eu explore em mais detalhes as potencialidades de um jogo, que de outra forma veria mesa de forma tão esporádica que cada partida acaba sendo quase uma "primeira experiência", pois a memória e detalhes para comparar as experiências se perderam no tempo;
- Ajuda os jogos a "se pagarem" e, com isso, reduz minha sensação de culpa por "enterrar" dinheiro em objetos que passam mais tempo guardados que em uso;
- Ajuda a manter as regras mais frescas na cabeça, o que favorece que os títulos vejam mesa em reuniões com meus amigos (já que ter que rever regras é sempre um impedimento que desfavorece um jogo nestas situações, reforçando um ciclo de "distância" entre partidas de jogos mais complexos e, portanto, mais caro e que geram mais remorso por investimento "parado").
O que posso dizer... na medida que envelheço, o modo solo se tornou um IMPORTANTE aliado no prazer com o hobby e, também, uma característica relevante para que eu faça uma compra. A ausência de um bom modo solo é algo que, hoje, me faz desistir de uma nova aquisição.