iuribuscacio::LucasRey::A caixa base possui uma história campanha que é dividida em 3 cenários. Cada cenário individualmente possui um tempo de duração que varia entre 45 minutos e 1 hora e meia (e aqui já temos uma informação que não vi em nenhum lugar, e tive que descobrir por conta própria). Eles podem ser jogados de forma independente (o que NÃO RECOMENDO de forma alguma) ou, como eles DEVEM ser jogados, na ordem. Ou seja, primeiro o cenário 1, depois o 2 e, por fim, o 3.
Além disso, cada cenário tem 3 ou 4 finais diferentes. Cada final te dá informações sobre aquela história campanha que não poderiam ser acessadas de outra forma. E mais: cada final muda o SETUP do cenário seguinte. Tudo isso dá uma rejogabilidade extrema, mesmo sendo apenas 3 cenários na caixa base.
O jogo base entrega 5 personagens/investigador. Cada um possui uma “classe” diferente. E cada “classe” tem algumas (no plural) formas de combos e sinergia entre as cartas de maneira específica. A tal sinergia das cartas de uma classe ainda pode ser combinada com cartas de outras classes para formar novos combos e estratégias de jogo. Cada investigador possui suas regras para montagem do deck, por exemplo, o personagem da classe “Guardião” também pode usar cartas da classe “Buscador” para compor seu deck. E aqui temos mais rejogabilidade.
Caro LucasRey
Eu fiquei com uma dúvida ao ler o seu texto. Pelo que eu entendi, o AHLCG é um jogo baseado na narrativa, que vem com 3 cenários na caixa base, cada um deles com 3 ou 4 finais diferentes. Isso dá um total de 12 finais possíveis no máximo. Portanto essa rejogabilidade extrema que você cita decorre de tentar chegar ao final com diferentes combinações de personagens.
É isso mesmo que eu entendi? Porque se a minha suposição estiver correta, você me perdoe por discordar, porque eu não vejo isso como uma rejogabilidade extrema.
Isso nem é um pecado do jogo, porque jogos narrativos obviamente não têm muita rejogabilidade, pela sua própria natureza, porque não surgem finais diferentes, mas apenas aqueles que já vem no jogo. Na minha opinião, jogos com grande rejogabilidade são aqueles que cada partida pode terminar de forma diferente, e que não são enjoativos de jogar. Um exemplo disso, entre tantos, é o caso do excelente Isle of Skye, porque as cartas de pontuação podem ser arrumadas de tantas formas diferentes, que é praticamente impossível jogar duas partidas iguais. O mesmo pode ser dito do Carcassonne, do Ticket to Ride, do Stone Age, ou do TI4, esse último em que cada partida é épica e será lembrada por meses.
Então, a menos que haja na comunidade de entusiasta desse jogo, novos finais ou novas aventuras criadas pela própria comunidade, a exemplo do que acontece com o Mansion od Madness, continuo achando que a rejogabilidade é bem baixa.
Aliado a isso, o jogo tem um preço absurdamente caro, como você mesmo pontuou. Claro que cada um faz aquilo que quiser, e tem o direito de gastar o seu próprio dinheiro da forma como quiser. Esse ano nós termos Rock in Rio, e muita gente vai gastar praticamente o preço desse para participar de um evento que durará apenas algumas horas. Para essas pessoas talvez não faça sentido gastar tanto dinheiro com um jogo de cartas, e para os entusiastas do AHLCG não faça sentido gastar o mesmo dinheiro em um simples show de música. Pessoas diferentes têm prioridades e pontos de vistas diferentes.
Eu só acho que para um jogo de apenas cartas, que apresenta tão poucos finais possíveis, variando apenas o personagem com que se vai chegar a cada um desses finais, e que ainda por cima custa tão caro, esse jogos apresenta um custo/benefício muito ruim, por melhor que ele seja. Principalmente se for considerado que os jogos atualmente estão tão caros que, a menos que a pessoa tenha um poder aquisitivo realmente muito alto, a ponto de R$ 500,00 ser apenas o troco do pão, é preciso ser muito seletivo com aquilo que se vai comprar. Por isso, talvez faça muito mais sentido alugar o AHLCG ou jogá-lo em uma luderia, se isso for possível.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
Caro Iuri, permita-me dar minha humilde opinião, embora outros já tenham comentado um pouco sobre o que vou falar.
Talvez por existir uma campanha, as pessoas tendem a supervalorizar a questão narrativa do jogo, como se ele apenas valesse a pena na primeira jogatina, quando a história está sendo revelada pela primeira vez. Apesar de ser, realmente, interessante essa descoberta, o fato é que o jogo também brilha na parte mecânica e oferece sempre um belo desafio ao jogador, mesmo ao que conhece de antemão os desfechos do cenário. Até porque, como está bem explicado no review, é possível alterar o nível de dificuldade do jogo.
Eu diria, até, que, após conhecer o cenário, o jogo ganha outra cara, mais estratégica (você montará seu deck já pensando nos desafios que enfrentará) e o fator sorte será bem menor. Some-se a isso o fato de que é muito interessante refazer a campanha com outro investigador. Acredite, cada investigador impõe um estilo de jogo totalmente diferente do outro: um é mais agressivo por natureza, outro é mais "liso" para escapar dos inimigos etc. Além do mais, você pode montar o deck de um mesmo investigador de maneiras bem diferentes, tornando-o, por exemplo, especialista num determinado quesito (focado em combate ou focado em encontrar pistas), o que, geralmente, exigirá que um investigador complemente o ponto fraco do outro; ou você poderá torná-lo generalista (faz de tudo um pouco com alguma competência), nesse caso, permitindo que se jogue sozinho ou, havendo mais gente, que um se separe mais do outro no cenário.
É claro que essas possibilidades vão aumentando cada vez mais conforme sua coleção vai expandindo, com novos cenários a serem explorados, novos investigadores a serem experimentados e novas cartas a serem introduzidas em decks dos novos e dos antigos investigadores. Essa é a ideia central do LCG.
Ouso até dizer que a história mais interessante não é aquela pronta, que já vem escrita no cenário, mas sim aquela que é desenhada durante a partida por meio da interação entre os investigadores e as cartas de encontro. Essa história dificilmente se repetirá. Quem jogou Nemesis sabe do que estou falando.
Assim, se você ignorar completamente a mecânica e o prazer de vencer desafios durante a partida, o jogo perde muito de seu apelo, mas o mesmo pode ser dito de qualquer jogo que você mencionou, os quais, se analisados apenas sob essa ótica, têm apenas um único final possível: um ganha a partida, os outros perdem.
Um grande abraço!