makryu::TLDR: Cada um com sua opinião, mas considero o Eldritch um jogo bem melhor do que foi retratado no tópico até aqui.
Vou ter que discordar do tom geral de crítica ao Eldritch. Aqui em casa, começamos no mundo dos jogos de tabuleiro por ele, hoje, dois anos depois, com a nossa mesa vendo regularmente jogaços como Gloomhaven, Kingdom Death: Monster, Mage Knight e Spirit Island, continua sendo um dos nossos preferidos. Com certeza já jogamos umas 60 vezes, sem sinal de enjoar. Vencemos em cerca de 60% das vezes. Dito isso, umas 20 foram com o base e uma ou duas expansões, sendo o resto das partidas com todas as expansões. Acredito que sem elas teríamos enjoado.
Vou concordar que não imagino o jogo jogado por mais de três pessoas e sendo divertido (aqui jogamos entre dois), pelo downtime, a menos que sejam jogadores muito experientes. O setup também concordo que é atroz, aqui em casa chegamos a um arranjo personalizado usando dois inserts da bucaneiros mais um estojão plástico de ferramentas pra diversos componentes (especialmente os tokens) e funciona muito bem, mas deu trabalho pra organizar. Por fim, eu concordo que as cartas de mito às vezes pegam tão pesado que você fica com pouquíssimas chances de vencer, mas na nossa visão isso acontece raramente, naqueles momentos em que saem cartas de mito de tentáculo várias vezes seguidas. Na maior parte dos jogos, saem cartas de mito variadas, e aquelas duas ou três pesadas que saem você consegue contornar com esforço, o que vai totalmente ao encontro do tema do jogo (humanos contra forças poderosas insondáveis).
Discordo totalmente que o jogo "te jogue" ou qualquer coisa do gênero. As estratégias são muitas, e embora você precise 99% das vezes que os jogadores se dividam entre fechadores de portais e solucionadores de mistérios (os papéis circulam entre os jogadores durante uma partida mas dificilmente você vai vencer se na maioria das rodadas os jogadores não estiverem desempenhando esses dois papéis), a maneira como isso vai ser feito varia bastante com a escolha do investigador, do ancião, e com os recursos que você consegue obter na primeira fase do jogo. A cada rodada, é necessário analisar o que tem na reserva, perto de onde você está e quais são os monstros na mesa (isso simplificando os fatores), isso tudo em relação aos poderes do investigador e o mistério.
Também discordo que não há mitigação da sorte. O jogo todo se baseia em tentar cumprir o máximo possível de atividades rolando testes de habilidade nas quais o investigador tenha um escore alto e, por isso, vai poder rolar mais dados. Você direciona isso, escolhendo os desafios que vai enfrentar, dentro das possibilidades da partida, e buscando magias e recursos que possam compensar as falhas do investigador. Existem momentos em que não é possível direcionar, e aí você tem a emoção de fazer um teste em que só tem 33% de chances de ser bem sucedido. Mas se vocês estiver jogando de modo mais eficiente, esses momentos vão ser bem menos numerosos que aqueles em que você rola três ou quatro dados pra obter só um sucesso. Se você não agir nessa direção, aí realmente vai estar deixando tudo a cargo dos deuses dos dados, mas então considero mais responsabilidade do jogador do que do jogo.
Também considero o jogo altamente estratégico no componente da cooperação. Embora não sejam tantas as interações entre os investigadores (com frequência eles estão em partes distantes do tabuleiro) a conversa sobre a divisão de tarefas que vai definir o que cada um faz a cada turno exige bastante cooperação. Não é o tipo de jogo em que "cada um faz o seu" sem conversar e dá tudo certo.
Enfim, me alonguei demais, mas quero registrar que o Eldritch me deu diversos momentos memoráveis no hobby e cada partida é diferente da outra. As vitórias e derrotas apertadas em que você fica a um turno de perder/ganhar, vencer um ancião contra tudo e contra todos rolando um sucesso improvável, vencer um ancião que despertou, as histórias estranhas e/ou engraçadas que surgem à medida em que você vai lendo os eventos do jogo pelos quais os personagens passam (lembro assim de pronto quando joguei com o político e ele roubava até lojas e com o padre que bebia, jogava e era procurado pela polícia), são todas experiências que eu tive regularmente com esse jogo e me trouxeram muita diversão.
Tá aí, tudo que eu penso sobre esse grande jogo. Primeiro boardgame da minha coleção e sempre tenho vontade de jogar. A galera se esquece muito de que o jogo te proporciona no início mais lento de se preparar para a bola de neve que o jogo pode virar.
Depende de muita sorte? Sim... mas são seres humanos comuns lutando contra um "Deus ancestral" devorador de mundos, eventos improváveis podem acontecer, seres humanos vão depender com certeza da sorte.
Entendo quem não goste, mas faço coro a tudo que foi dito.