7Lehunt::Agora voltando ao bom senso, todo esse cénario é desanimador, principalmete pela minha disposição pessoal do que estou disposto a pagar, acabei me tornando um comprador de "3° classe", fui de certa forma empurrado para essa posição, ficando com o que sobra, mesmo assim posso dizer que consegui bons títulos como: Alhambra, La Granja, Kingdom Builder e etc., os meus dias de glória ficaram no passado, e possívelmente agora tenha chegado a sua vez, basta a você escolher se vai continuar a ficar no topo ou se tornar a "2° classe".
hoje.. olha fica difícil eu convencer uma pessoa a pagar R$ 700,00 no zombicide ao invés dos R$ 90,00 que ela pagaria no War, ou ainda, desafio qualquer um a convenser uma pessoa que não joga board games de que Clash of Cultures(1,200 reais) é um jogo e que um banco imobiliário ou jogo da vida (R$ 120,00) é um brinquedo, boa sorte. Só consigo enxergar um futuro sombrio se o hobby continuar trilhando esse caminho.
Caro 7Lehunt
É exatamente assim que eu penso. Do modo como eu vejo, atualmente, o mercado de board games pode ser descrito da seguinte forma: existem compradores de "1ª Classe", que pagam de R$ 800,00 a R$ 1.500,00, pelo jogos. Para esses ficam reservadas as superproduções, com um hype fortíssimo, e caixas de 10kg com zilhões de componentes e miniaturas. Abaixo desses, existe o tipo mais comum, que são compradores de "2ª Classe", o principal foco das editoras, e que pagam de R$ 350,00 a R$ 800,00 pelos jogos (aqui é preciso esclarecer que R$ 350,00 é o preço de descontos e desova de encalhe, porque na média mesmo os board games são vendidos a R$ 450,00). Para esses fica reservada a maioria esmagadora dos lançamentos. Abaixo desses existe uma quantidade enorme de pessoas que são os compradores de "3ª Classe", que não tem dinheiro, ou acham muito caro pagar mais de R$ 350,00 por um board game. Para esses não fica reservado nada, porque as editoras estão cagando e andando para essa galera. O pensamento empresarial dentro do setor de board games é: "se você não tem mais de R$ 400,00 por mês para gastar em jogos, ou se precisa parcelar em seis vezes no cartão, sem juros, para conseguir comprar um jogo por ano, então board game não é para você, vá arrumar outro hobby, e pare de encher o saco reclamando no Ludopedia, ou então se contente com os party games de cento e poucos reais, que é tudo que será lançado para gente do seu nível".
Obviamente que existem jogos de menos de R$ 300,00 (Kingdomino, Barenpark, Comic Hunters, Queendomino, Carcassonne Caçadores e Coletores, Arkham Horror - Hora Final, Santorini, Santa Maria, Quartz, entre outros), bem como alguns jogos de cartas que vão um pouquinho além dos party games (Bruxelles 1897, Canvas, Jaipur, etc). O problema é que quase todos esses jogos já foram lançados um tempinho atrás, e além disso, eles representam uma parcela ínfima da quantidade de lançamentos atuais. Isso demonstra que cada vez mais, as editoras se importam menos com o pessoal da "3ª Classe", e essa é a camada na qual o hobby tinha mais condições de crescer. simplesmente porque é a que tem mais gente, e para a qual as opções de lazer são mais escassas. Eu tenho um irmão e uma irmã, que tem as suas próprias famílias, e levam uma vida e classe média normal, igual a quase todo mundo. Eles adoram Ticket to Ride, mas mesmo gostando muito, todos os dois acham que o jogo não vale os R$ 350,00, em média, cobrados por ele. No entanto, se o jogo custasse R$ 200,00, isso a título de exemplo e considerando que esse preço fosse possível, certamente a história seria outra, e ao invés de terem comprado nesse Natal, "Detetive" e "Imagem e Ação", que eles encontraram por R$ 100,00, eles teriam comprado o Ticket to Ride.
Não dá para esquecer que os board games se desenvolveram a partir da necessidade de uma forma barata de distração e entretenimento, durante os longos meses de inverno, para as famílias alemãs empobrecidas, após a 2ª Guerra Mundial. No nosso país a coisa acontece ao contrário, e os board games são direcionados para famílias abastadas, que já possuem diversas outras opções de lazer e os board games são apenas mais uma entre tantas. Nós estamos passando por uma pandemia, onde por quase um ano e meio boa parte da população não saía de casa (eu estou me referindo à classe média e não ao povão, porque esses mal tem dinheiro para comer, então board games está fora de questão), e para os quais os board games seriam um opção fantástica para distrair os filhos. Até houve um certo "agito" nesse sentido, mas o hobby cresceu muito menos do que poderia. Ao invés de conhecer jogos novos, as pessoas se voltaram mais para os jogos de tabuleiro tradicionais (Detetive, Imagem e Ação, WAR, Jogo da Vida, etc), e com isso nós perdemos uma oportunidade de ouro, para que o hobby crescesse, se desenvolvesse e atingisse uma maior número de pessoas. Alguns podem até dizer que houve algum crescimento, mas onde está o efeito desse crescimento sobre as tiragens dos jogos. Isso porque, a quase uma década as editoras nacionais ainda continuam naquele estágio de tiragens entre 1.000 e 2.000 unidades. Então cadê esse crescimento do hobby, se a produção continua sempre a mesma de anos atrás?
Se todos queremos que o hobby cresça, que os jogos modernos sejam mais difundidos nacionalmente, que haja mais e maiores eventos de BG, que os KS internacionais voltem a enviar jogos para o Brasil, não tem outro jeito a não ser o aumento do mercado consumidor de board games, e isso só vai acontecer se, de algum modo, for invertida a lógica de mercado atual e os jogos começarem a ser tornar mais baratos. Já esta mais do que provado, que apenas a qualidade superior, material e imaterial, dos jogos modernos não é suficiente, por si só, para trazer mais pessoas para o hobby. Só preços mais atraentes são capazes disso. E quanto mais tempo levar para que as editoras se darem conta disso, e começarem a trabalhar nesse sentido, mais difícil se tornará essa mudança de paradigma de mercado, e o hobby de board games se tornará cada vez mais restritivo a cada ano que passar.
Para terminar, eu sei que é chato e repetitivo ficar falando nisso o tempo todo, mas é a única coisa, por enquanto que nós podemos fazer, que é discutir bastante a respeito e tentar com isso despertar a consciência de uma parcela cada vez maior da comunidade board gamer, porque se nós nos restringirmos a comemorar que a editora fulana anunciou o jogo tal (mesmo que as pessoas não tenham dineiro para comprar), ou ficar apenas falando que o jogo "X" é exclente e que o jogo "y" é lindo, ái é que nós não vamos nunca conseguir mudar esse rumo triste e sombrio, que o hobby de board games está tomando.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio