evieira::
Só a oportunidade de maiores ganhos já é o suficiente para justificar essa prática, mas é fato que ela ajuda a amortizar mais rápidos os custos antecipados da produção, principalmente os licenciamentos e o custo de marketing. Espera-se pagar esses custos adicionais nessas levas. As levas adicionais já tem toda a produção do design amortizado, o que permite um custo menor.
Fazer o que você propõe renderia menos dinheiro, porque você venderia provavelmente a mesma quantidade de jogos pelo preço mais baixo. Alem de aumentar o prejuízo em caso de flop (os custos de lançamento levariam mais tempo para ser cobertos).
metelo::
Juntamos a isso o problema de culto ao novo, que o jogo velho encalha, se voce nao vender rapidamente os seus jogos vc ou toma uma perda, ou ele fica juntando poeira, e voce perdendo dinheiro do mesmo jeito. Ou seja, e ruim de qualquer jeito. Ai o Jeito e baixar o preco. Infelizmente, vc ja comprou e pagou para o distribuidor o jogo, entao a perda fica toda p voce. Obvio, que o distribuidor tb ficou com produto encalhado, entao ele e forcado a baixar o preco, e eventualmente o mesmo acontece com a editora. Nesse sentido, com a queda do preco de varejo do jogo, eventualmente (em um mercado sadio), a perda de margem e distribuida pelos envolvidos na cadeia comercial que leva o jogo a mao das pessoas.
Claro que para um lojista, esse tempo nao resolve a vida dele, pois ele esta com mercadoria que vai causar perda. E vira a escolhaentre se iivrar do estoque com perda, ou ter um estoque que vai continuar causando perdas permanentes e sem dinheiro para comprar produto novo para venda. Ai surgi os descontos.
Caros Eduardo Vieira e André Metelo
Muito obrigado pelos esclarecimentos e alto nível das respostas. Conforme eu disse anteriormente, é muito bom conversar com quem não fica só na base do achismo, mas realmente sabe do que está falando e que tem argumentos sólidos para embasar o discurso. Pena que isso normalmente demanda um pouco mais de tinta, porque não dá para argumentar em quatro linhas o que necessita de quatro parágrafos. Infelizmente boa parte das pessoas aqui do Ludopedia não tem muita paciência com os textos mais robustos, por melhor, e mais instrutivos que eles sejam.
Dito isso, eu quero deixar claro que eu acho contraproducente crucificar as editoras, como se elas fossem a fonte de todo o mal, até porque sem as editoras nacionais de board game, nós fatalmente voltaremos àqueles tempos sombrios, em que não havia lançamento nacional e era necessário importar todo e qualquer jogo, com preços caríssimos. Por outro lado, as editoras também não são a quintessência da virtude, que seus defensores apregoam, e nem fazem nenhum favor de proporcionarem os nossos tão queridos board games, no nosso idioma pátrio. As editoras nada mais são do que empresas, que atuam em um determinado setor, e que precisam gerar lucro, porque sem isso absolutamente nenhuma empresa tem razão de existir.
Nesse sentido, o meu questionamento foi muito motivado pelo excelente tópico do Eduardo Vieira "Jaiminho Conta Tudo", em que, com todo brilhantismo característico, ele expõe de forma aproximada, a formação da margem de lucro das editoras. Só que pelo que vocês responderam aqui, a história não é bem essa, porque a editora lança o jogo com o seu preço máximo (os lojistas têm pouco o que fazer, em relação a isso, mas apenas repassar para o consumidor e ficar de olho na hora de dar grandes descontos para liberar espaço nos estoques). Uma vez passado o hype, as editoras baixam o preço para essa média entre 20% e 30%. Depois quando as vendas já não são a mesma coisa, as editoras baixam o preço o mais próximo do custo que puderem, para desovarem os estoques. Na verdade isso não é nada de novo, porque é mais ou menos assim que a indústria opera nos mais diversos setores, salvo algumas exceções.
O problema é que esse modelo é ruim para todos, porque, mesmo os jogos sendo caríssimos, o que é ruim para os consumidores, ainda assim, as empresa também não estão lucrando horrores e os sócios enchendo a burra de dinheiro. Ninguém está ficando rico com board games. Na real mesmo, só quem ganha dinheiro de verdade com board games no Brasil é a Galápagos. Mas isso só porque ela detém, bem mais da metade do mercado de jogos modernos, e porque quase todos os jogos que são campeões de venda pertencem a ela (Dixit, Dobble, Ticket to Ride, Azul, Zombicide, etc). As demais editoras, até mesmo a Devir, vivem no fio da navalha, porque qualquer erro na precificação pode causar um verdadeiro estragos nas contas. Além disso, sempre existe a incerteza enorme se o próximo lançamento vai ser um fracasso, acabar encalhando e colocar a editora no vermelho, ou até mesmo quebrar a empresa. Só quem já foi empresário em um mercado volátil sabe o que é isso.
Todo mundo sabe que o caminho para o sucesso é aumentar as tiragens, baixar os preços e ganhar mais no maior volume de vendas, até porque esse é o "mantra chinês", que fez daquele país o colosso econômico que é hoje em dia. É sempre bom lembrar que durante décadas (70,80,90) a economia chinesa era sinônimo de produto barato e ruim. Só que bastou eles começarem a melhorar um pouquinho a qualidade, e oferecer melhores custos de produção e melhores preços, que o resto da história todo mundo já sabe. E isso vale para quase tudo que é produzido hoje em dia, e para praticamente todos os setores da indústria. A questão é que hoje o mercado de board games vive literalmente um Ardil-22, como foi citado em outra postagem (aliás o livro é ótimo e a leitura muito recomendada), em que os preços dos jogos são altos, porque a quantidade de compradores é baixa, e a quantidade de compradores é baixa porque os preços são altos. Só que isso não vai mudar enquanto as editoras simplesmente ficarem esperando que mais e mais pessoas resolvam começar a comprar (e eu digo comprar e não apenas jogar) board games, para aí sim começarem a aumentar as tiragens e baixarem os preços. Isso não vai acontecer, a menos que se opere um verdadeiro milagre, e os board games se tornarem a nova mania nacional, a ponto do grande público deixar de comprar o WAR, Imagem & Ação e Detetive (seja lá de que empresa for), por R$ 70,00, e passarem a comprar os jogos modernos por R$ 370,00, o que convenhamos é bem pouco provável.
Considerando que esse aumento expressivo na quantidade de compradores de jogos não ocorrerá por "geração espontânea", só quem pode começar a desatar esse nó, são as editoras. Para isso é necessário que elas tornem a busca por melhores preços e aumento de tiragem um preocupação real das empresas, e eu não vejo isso acontecendo, e nem ao menos sendo discutido. Um possibilidade é investir mais em jogos de autores nacionais e produção local, para fugir dos impostos de importação e ao desembaraço aduaneiro internacional que é muito caro também. Um exemplo disso é o "Herdeiros do Khan", que é um bom jogo, mas que foi muito prejudicado pela qualidade ruim da produção. Se esse jogo fosse um pouco mais caro, algo em trono de R$ 250,00, mas a produção fosse melhor, não precisava de nada do outro mundo, mas uma qualidade normal de componentes, ele seria um sério concorrente ao Marco Polo, que é um jogo superior, mas que custa o dobro do preço.
Do jeito que as coisas estão, esse Arkham Horror Card Game, lançado pelo preço máximo, como é o padrão, acabou saindo tão caro, que nem de longe ele vai vender o tanto que se esperava. E o pior é que a sua longevidade depende de um influxo constante de expansões, e se acontecer do jogo não vender tão bem, mesmo a editora jurando de pé junto que vai lançá-las, é provável que isso não ocorra, ou que elas venham ainda mais caras e proibitivas. Nesse caso, um jogo que tinha tudo para ser um sucesso, na verdade acabará sendo apenas mais uma boa ideia que acabou naufragando, na realidade do nosso mercado nacional de jogos.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Só para não deixar de citar um exemplo emblemático de sucesso, no mundo dos jogos, hoje todo mundo sabe que o "Magic: The Gathering", é um jogo que acaba ficando caríssimo. Mas lá no início dos anos 90, quando ele foi lançado, o jogo era barato, quase que um pacote de figurinhas (nos Estados Unidos, porque aqui desde o início ele já não era tão barato, mas também não era tão caro assim). Foi principalmente, por isso, ou seja, todo mundo podia comprar, que o "Magic: The Gathering" acabou se transformando no verdadeiro fenômeno cultural que ele é hoje. O aumento excessivo do custo veio ao longo dos anos, com as diversas coleções, gerando a obsessão pelos decks e cartas mais poderosas. Mas isso nunca foi necessário, para quem deseja apenas jogar sem maiores pretensões. Em outras palavras, um deck barato de Magic certamente não ganha campeonato, mas dá para se divertir tranquilamente com os amigos. Por outro lado, caso o jogo tivesse sido lançado nessa política de "preço máximo no lançamento", dificilmente ele teria chegado onde chegou.