evieira::
Cara, eu sou uma pessoal de visão muito conservadora, sou um defensor ferrenho do capitalismo e, ainda assim, considero muito triste que o nosso hobby se concentre tanto em acumular jogos em casa. Nenhum assunto dá tanto ibope quanto preço de jogo.
O tempo que a gente perde discutindo se o arkham horror vale 450 reais ou não (e eu acho que não vale, nesse caso me parece que a Galápagos deveria ser mais agressiva ma venda da caixa base pra vender mais expansões depois), poderia ser muito melhor gasto em coisas mais legais, apesar de achar sim importante explicar essas questões de produção que discutimos.
Eu gostaria que buscássemos formas de aproveitar melhor os ativos que já temos em vez de ficarmos simplesmente aumentando nossos estoques. Que estivéssemos arrumando mais pessoas pra jogar com a gente, de graça, os jogos que eu tenho, e você também deve ter alguns, que ficam pegando poeira na estante.
O crescimento do mercado virá naturalmente do aumento do número de jogadores e isso vai demorar talvez um pouco mais do que em países de primeiro mundo, pelo motivo econômico que você colocou. Porem, já estamos anos-luz a frente do que estávamos a dez anos atrás. Vamos olhar o copo meio cheio em vez de olhá-lo apenas como meio vazio!
MuCiLoN::
Não sei se tem muito a ver com o tópico, mas acho importante ressaltar essa questão, do tempo que discutimos sobre o preço, o que comprei ou o que irei comprar, sobre jogos, e uma melhor discussão seria " comprei ou tenho tal jogo, você quer jogar comigo?".
Eu mesmo não compraria arkham horror card game se algumas das pessoas que moram na minha cidade, que compraram o jogo, me convidassem para jogar.
Caro Eduardo Vieira e MuCiloN
Assim como toda e qualquer atividade humana, o board game tem tanto pontos positivos, quanto pontos negativos, e é preciso que se aborde tanto uns quanto outros, para que se tenha uma visão mais completa do fenômeno board game em si. Caos contrário a gente corre o risco de ficar com apenas uma parte da visão geral. Por conta disso, eu respeitosamente discordo quando vocês dizem que o tempo seria melhor gasto focando nesses aspectos mais positivos. Primeiro porque eu acho que há espaço, aqui no Ludopedia, tanto para falar de novos lançamentos, de estratégias interessantes, para apresentar jogos menos badalados que nem todos conhecem, quanto para falar da questão dos preços, da qualidade questionável de alguns produtos, da falta de transparência das editoras e da completa ausência do trabalho de revisão e de controle de qualidade de alguns lançamentos nacionais. E acho que esses dois tipos de discussão são igualmente fundamentais, e obviamente uma linha de debate não invalida a outra.
Além disso, nós todos queremos um hobby de board games melhor, e nós todos também sabemos que não tem muito que alguns pouco indivíduos podem fazer isoladamente, principalmente em relação a preço, aumento de tiragem, maior controle de qualidade e etc. Mas pelo menos, nós podemos conversar a respeito, fomentar o debate, e até mesmo reclamar se for o caso. Se até isso nós deixarmos de fazer, aí danou-se tudo, porque o Ludopedia, que é antes de tudo um fórum, vai acabar se tornando um mero veículo de propaganda, onde as pessoas vão entrar apenas para saber quais são os novos lançamentos, e pegar uma ou outra dica de jogos que ela não conheça. Isso implica em diminuir absurdamente a utilidade e a relevância que o Ludopedia tem, e com isso eu não posso concordar de forma alguma. Não podemos esquecer que estamos falando do maior e principal espaço dedicado aos board games do país, e se todo mundo passar a fazer apenas resenhas de jogos, explicar regras, e anunciar lançamentos e tendências, nesse caso o Ludopedia, enquanto fórum, perde totalmente a sua razão de existir.
Quando o Eduardo diz que nada dá mais ibope do que discutir preço no Ludopedia, eu concordo, e penso que isso ocorre porque, considerando os board games em contraste com a realidade socioeconômica brasileira, o preço é ainda o fator fundamental para a aquisição de um jogo de tabuleiro, muito mais que a longevidade, a qualidade dos componentes, as mecânicas, o prestígio do designer, e demais elementos intrínsecos. Por isso, preço é muito importante, tanto que nós estamos aqui conversando dentro de um tópico cujo tema é justamente o fato do Arkham Horror Card Game ter sido lançado por R$ 450,00. Então eu acho fundamental discutir preço, qualidade e transparência, que são problemas do mercado nacional de board games, pelo menos para equilibrar a balançar, porque mesmo preço sendo o assunto que mais dá ibope, aqui no Ludopedia ainda são escritos muito mais textos de resenha, e sobre lançamentos, do que tópicos tratando desses assuntos mais polêmicos.
Por outro lado, eu também concordo que muita gente boa por aqui está migrando de jogador, para colecionador de jogos, às vezes sem nem se dar conta disso. Para mim não faz o menor sentido, o sujeito se preocupar em comprar o Descent: Lendas da Escuridão, enquanto ainda está com Gloomhaven, só com 1/3 das missões jogadas. Mas cada um é cada um, e tem o sagrado direito de gastar seu dinheiro do jeito que quiser, mesmo que isso não faça sentido para os outros. Se as pessoas começarem a marcar o dia da última jogatina de cada jogo, certamente vão perceber, que alguns board games ficam anos sem sair da caixa. Por isso, realmente o Eduardo está muito correto quando diz que as pessoas deveriam se preocupar mais em jogar os jogos que tem, do que ficar juntando caixas e mais caixas de jogos e expansões (é de vocês mesmo que eu estou falando Zombicide Friends and Foes e No Rest For The Wicked).
Por fim, eu quero a mesma coisa que vocês, que o mercado de board game se desenvolva, que os jogos passem a ser encarados de uma forma mais condizente com o que eles são e o que eles representam, pelo menos para nós boardgamers, que o crescimento do hobby leve a maiores tiragens, e isso leve a preços melhores, e uma maior qualidade. Mas da forma como eu vejo, acho que o mais provável é que se nada for feito no sentido de baixar o preço dos jogos, eu acredito que no futuro nós veremos a comunidade boardgamer dividida em dois grupos distintos. Um deles será composto de uma quantidade bem menor de pessoas, que jogarão board games "mais sérios" e com maior estrutura, custando mais de R$ 400,00 (e esse já é um valor muito alto), e o outro grupo será formado de uma grande maioria que jogará mesmo os party games (abaixo dos R$ 150,00), porque será tudo que os seus rendimentos poderão comprar e muito de vez em quando eles vão fazer um esforço e comprar um family game um pouco mais caro, dividido em incontáveis parcelas.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio