Em Eldritch Horror, de 1 a 8 jogadores assumem o papel de investigadores que andam pelo mundo, trabalhando juntos, e devem resolver mistérios relacionados aos Grandes Antigos cuja intenção é a destruição global. Nessa busca você pode reunir pistas, encontrar situações estranhas, lutar contra monstros e embarcar em expedições ousadas.
O Arkham Horror Third Edition é também um jogo cooperativo para 1 a 6 jogadores que assumem o papel de investigadores tentando livrar o mundo de seres antigos baseados na mitologia de H.P. Lovecraft.Os jogadores terão que juntar pistas, derrotar monstros aterrorizantes, e encontrar ferramentas e aliados se quiserem ter alguma chance de derrotar as criaturas que habitam um pouco além do véu da nossa realidade.Aqui a escala mundial recebe um zoom para a cidade que dá nome ao jogo.
Semelhanças e diferenças de mecânicas
Essa postagem fica mais bem aproveitada para quem já conhece / jogou 1-2+ partidas de pelo menos um dos jogos, preferencialmente de ambos... Ok caros(as) companheiros(as) de campo de batalha? Nos dois trabalhar em equipe contra o horror cósmico é a bola da vez!
Em ambos os personagens vão seguir uma estrutura de atributos (conhecimento/influência/observação/força/determinação) com valores de 1 a 4 que se traduzem em rolar essa quantidade de dados tentando obter sucessos. Um atributo que atinge valor zero (caso sejam aplicadas penalidades) ainda te deixa rolar 1 único dado. Cada rolagem 5 ou 6 conta como sucesso, e vale dizer que existem itens e especificidades dos personagens para dar bônus, bem como situações em que ocorre penalidade nos atributos e por consequência nas rolagens. Em testes de eventos normalmente você busca apenas 1 sucesso, se tirar mais tudo bem, porém em combates após testar a insanidade cada sucesso será o dano evitado bem como o dano causado ao algoz. Em Eldritch essa luta é simultâneo em encontros de combate, em Arkham na fase do jogador se ataca, na fase dos monstros se é atacado
Uma característica marcante em ambos e que ajuda ou atrapalha os jogadores é a condição/status de abençoado ou amaldiçoado. Ao conseguir o abençoado você passa a acertar com 4,5 e 6! Já com amaldiçoado você só consegue na rolagem 6... nada está tão ruim que não posso ficar pior, essa é a premissa da série como um todo
. Cabe destacar que no Eldritch você pode perder esses status por efeitos do mythos/ancião podendo lamentar ou comemorar a volta a “normalidade” das rolagens, já no Arkham perde-se esses status se errar um teste abençoado (como se o jogo falasse “você é ruim e não merece”) ou acertar um teste amaldiçoado (“como conseguiu? Parabéns”) e isso é diretamente herdado do Elder Sign. Falando em heranças ou reaproveitamentos, o Cthulhu da vez numa partida no Eldritch age através das famigeradas cartas de costas roxas, desencadeando eventos e ativações, já no Arkham cada investigador deve tirar tokens com efeitos, de uma “chaos bag”, importação assumida do Arkham Horror: The Card Game

Enquanto no Eldritch a escala é mundial, e tratamos de viagens e expedições, no Arkham há um zoom para um tabuleiro modular em um ambiente de ruas, praças, bares, hotéis, armazéns e outros, não menos permeados de maldade (seja pelo mal em si, da “lore” do jogo ou pela maldade com o pobre jogador
). Isso incute diretamente nas mecânicas dos monstros é claro! No primeiro uma parcela mais do que generosa fica parada em seu local de aparição, o estímulo ao enfrentamento é para fechar portais, obter pistas, buscar artefatos... ou seja resolver o que está disponível na mesma casa dessa ou daquela cria de capiroto. Aqui e ali é que surgem algumas criaturas que vão em direção ao jogador, fato que foi bem realçado com as expansões, mas se nos atermos ao jogo base fica como está descrito acima mesmo. Já o Arkham uma perseguição nervosa, e oponentes que querem e vão te “fechar” em algum momento, tanto que existe a regra de evitar/fugir do monstro onde ao dar essa despistada, o dito cujo terá que perder tempo para voltar pra sua perseguição costumeira. Alguns dos seres tenebrosos do Arkham também dão “espólio” (representado por um tentáculo, recurso não presente no irmão mais velho) que é um recurso adicional para magias, ou para “queimar” em eventos específicos para ajudar na resolução.
A obtenção de itens acontece com testes de influência no Eldritch e resolvendo eventos em locais no Arkham, que leva em consideração o gasto de dinheiro (recurso também não presente no irmão mais velho). No primeiro os itens ficam dispostos no tabuleiro, enquanto no segundo tem que ser uma loja ou um local onde tenha um negociante para você comprar (exceto itens encontrados/obtidos em eventos, claro). Falando em disposição no mapa, no Eldritch temos cidades, locais selvagens e marítimos, e as cidades se dividem em normais e “notáveis”, com uma indicação do que você pode conseguir nelas (como feitiço, aparecer pistas, aprimorar determinado atributo etc) e fica entre um pouco menos ou pouco mais de 50% chance de isso acontecer (isso no base, as expansões dão certa alterada nesse premissa matemática). No Arkham você visita esse ou aquele local de forma mais certeira dentro do que pode acontecer. Você ganha nesse “quase” corte de aleatoriedade, mas perde pelo menos em 2 pontos importantes: Para obter itens e para recuperar vida ou sanidade. No irmão mais velho dele, basta estar numa cidade e não ir mal no teste de influência para interagir em termos de itens, bem como basta anunciar que está fazendo a ação de descansar, enquanto que no Arkham tem que se destinar para locais específicos, ou seja, mais uma coisa para se preocupar e pra ter que correr atrás! E acredite já tem demandas suficientes pipocando no tabuleiro hehe.
Pra encerrar essa parte das mecânicas vamos falar sobre 2 questões específicas dos personagens. Uma é que os investigadores “são o que são” no Eldrtich, em seus papéis de confrontar monstros, fechar portais, dar suporte etc. No Arkham eles têm builds A e B, podendo começar a partida com alguns itens diferentes por exemplo. Alguns de cara parecem bem melhores nessa ou naquela configuração, outros te fazem querer jogar 2 vezes para testar esses “2 lados” do mesmo personagem. Um segundo ponto é que no Eldritch no decorrer da partida, através de eventos que demandaram grande esforço do personagem, ou treinamentos/ensinamentos, ou ainda itens específicos como artefatos, o jogador pode obter uma melhoria de atributo em tokens de +1 ou +2 esses bônus são permanentes (existe a versão negativa desses tokens nas expansões, mas deixemos de lado). No Arkham de forma muito menos sacrificada (ok, torra/custa uma ação, o que num jogo apertado é um tempo valiosíssimo) o investigador pode simplesmente se concentrar e obter esse “levelup”. Essa característica remete a rerolagem, sempre presente e sempre importante em jogos relacionados a dados, no Eldritch você consegue muito mais através de itens ou habilidades de personagem, nas expansões existe a opção de focar e ganhar um token de rerolagem, atendo-se ao base você pode até queimar as preciosas pistas para tal... Já no Arkham você pode consumir/descartar o bendito atributo melhorado (o citado token de “levelup”) para rerolar um dos dados, o que faz sentido já que pode melhorar o atributo novamente mais adiante (bronca é ter tempo pra isso, só jogando pra sentir o aperto
) DETALHE: o token melhorado não precisa ser o do atributo correspondente, que está sendo testado
Semelhanças e diferenças de experiência na partida
Como dá pra ver na foto acima uma das diferenças principais é o ambiente urbano VS mapa mundi, mas cabe dizer que ambos te dão motivo para transitar como um louco (muitas vezes literalmente como um louco!) no maravilhoso desespero do movimento ponto a ponto, gerenciando as “crises” que o jogo vai brotando rodada por rodada. Os monstros são obstáculos presentes nos 2 jogos, sendo que no Eldritch você vai até eles diante de necessidades, enquanto que no Arkham muitas vezes você está indo até os pontos de interesses e eles seguem numa valsa extenuante de te interceptar nesses percursos (por vezes você quase vai entrar no modo “pacman”) . Os tiles de criaturas do Eldritch trazem uma sensação tátil e uma disposição na mesa superior às cartelas das criaturas do Arkham, na modesta opinião deste kina que vos fala.
A maior diferença de feeling é em relação à narrativa. No Eldritch cada mythos/ancião tem 4 mistérios (6 com as expansões) e você tentará perpassar 3 deles como “wincondition”. As pistas também tem um deck próprio de cada um, porém todo o resto é aleatório! O que faz com que o Cthulhu da partida traga sua assinatura um pouco mais ou um pouco menos diluída nas linhas gerais de cada rodada. No Arkham existe uma narrativa, etapas a serem cumpridas, quase como em um livro jogo, isso foi trazido sem cerimônias do Arkham Horror: The Card Game também, até a pool de monstros muda bastante. Isso é uma benção/maldição, e não estamos falando daquelas que mudam o sucesso ou fracasso da rolagem! O excesso de aleatoriedade do Eldritch entrega partidas erráticas que podem parecer um treco genérico costurado pelo shuffle das cartas de mythos + de eventos, mas sempre deixa espaço pro inesperado! Falta coesão mas sobra surpresa! Nota de piada interna: quem nunca jogou “futebol” com os homens jaguar não viu nada do jogo ainda!!! 
A narrativa do Arkham fará com que enfrentar determinado “capiroto cósmico” normalmente envolva(seguem spoiler parciais e sem contexto) achar o token certo no meio de outros (como achar o x verde ou azul no meio dos vermelhos de Zombicide) ou enfrentar um cultista ou algum bicho estilo “midboss”, ou interrogar tal personagem etc etc. Se você superar o desafio, pode reprisar algumas vezes, pois os elementos devem vir em casas/setores diferentes, mas é isso basicamente. Então vai do seu perfil se aprecia mais ver quais ingredientes vão se apresentar de um caldeirão bem inusitado e insano, ou se quer algo mais estilo missão/quest com narrativa. Falando nisso o Arkham herda do Fallout a ideia de pegar uma carta e embaralhar junto com as 2 primeiras de um baralho.
Isso resulta obviamente na possibilidade dela ser a primeira, segunda ou terceira carta a ser resolvida naquele baralho, e isso representa uma determinada busca em um determinado local, e se traduz numa baita lâmina de 2 gumes. De um lado alia uma regra ao contexto de estar fazendo uma investigação (você terá 33% de chance de achar, depois 66%, depois 100%) por outro lado é oneroso de resolver, pois se for a terceira carta, haja paciência (e o mundo acabando ao seu redor) fora que “sem querer” o jogador pode marcar qual a carta desejada. Sabe aquelas apostas de rua com 3 tigelas e um objeto em uma delas? Daí na sequência embaralha e você aponta a que acha certa? Imagine que você mesmo embaralha, e você mesmo apontará... fica meio descompassado, o ideal é um embaralhar e passar pra um segundo jogador que embaralhe também, ou improviso do tipo.
No Arkham, cultistas, eventos, e outras circunstâncias vão colocando marcadores de corrupção que se acumulados geram um "surto da doença" portal/anomalia. Se você lembrou de Pandemic com ou sem a indireta entre aspas, você acertou! Da mesma forma que limpar os cubos de doença lá é o que impede uma derrota contundente, aqui também os jogadores tem que purificar as áreas onde estão acumulando os marcadores ou sofrer severas consequências, bem complicadas de reverter. Por último podemos dizer que o Arkham falhou em um aspecto em relação ao Eldritch. Cabe reconhecer que foi expectativa da comunidade, mas alguns comentários da própria ffg / de pessoas próximas em fóruns apontavam que esse Arkham traria um mix de novidades e uma partida menor, mas acaba entregando as mesmas 2-3 horas em média. Outro ponto é que ele é de 1 a 6 jogadores, e o Eldritch de 1 a 8 mas francamente não recomendamos nenhum número acima de 4 se você ainda quer uma mesa razoavelmente fluída.
Uma possível reflexão final
Ambos entregam aquela deliciosa e desesperada experiência de abraçar o mundo com as pernas, ou se preferir de dar passos maiores do que as pernas! Como dito acima todos dois são bem sucedidos em criar o metagame para combate de forças ocultas, fechamento de portais, fugas do intransponível (enquanto se tenta resolver uma série de problemas no caminho dessa “fuga”) e por aí vai. Eldritch entrega um serviço mais “fechado” (favor não confundir com mais completo) enquanto trás uma roleta russa em termos de pool do que vai acontecer na partida. Arkham é sobre sentar em torno de um ocorrido, uma história, uma narrativa mesmo.
É claro que Eldritch não é o inventor da roda (existe toda uma franquia da fantasy flight games chamada de Arkham files) mas fica muito mais notável o fator colcha de retalhos ou “soma” de elementos de outros jogos no Arkham. Como já citado no decorrer da postagem, temos o processo de evitar acúmulos de ameaças em uma mesma área lembrando pandemic, chaos bag do arkham living card game, formato narrativo mais ou menos como abordado no Mansions of Madness (2ª Edição)(sem app porém), o embaralhamento de “cartas alvo” no topo entre as 3 primeiras cartas como no fallout, até mesmo o giro de manter ou perder maldições veio do Elder sign. Vale lembrar que ele é tão bom quanto o eldritch com algumas diferenças no desenrolar da partida, mas falhou em ser uma versão mais enxuta (de partida mais curta), e isso não era oficialmente uma obrigação, mas era uma expectativa, conhecida inclusive pela empresa, salvo engano em torno de tópicos em fórum etc.
Então se for pra dizer (quem é o homem e o monstro quem é? ) os dois jogos são válidos, se você come o tema com farinha (e tem uma carteira generosa) pode ir colecionando os 2 aos poucos, mas vale dizer que Eldritch está começando a virar raridade (o base e 2 das expansões) enquanto que Arkham está “no rodeio” ainda. Eu acho muito difícil tirar os 2 jogos desse escopo que remete a terem equivalência, mas pensando num possível desempate técnico, a palavra chave é IMERSÃO. O Arkham é mais imersivo se você quiser algo mais "blocado" e lógico. Dando um exemplo extremo seria o bestiário, nele os anciões trazem criaturas que remetem ao seu lore, ao seu contexto, enquanto que no Eldritch você pode enfrentar um pingüim gigante que despertou por causa de um portal aberto pelo senhor da imundície, doença e pestilência (foi um exemplo aleatório, mas pra quem conhece é a pegada do abboth) hahahaha. Eldritch volta a ganhar essa contenda, se você curtia aqueles tabelões de encontro aleatório de RPG, pois em vários momentos é quase isso... então em termos de possibilidades semi infinitas (ou ao menos super elásticas) esse irmão mais velho de 2014 supera com folga, porém obter ele já está virando um encontro de expedição em busca de artefato, seja isso justiça poética ou não. 
Então por enquanto é isso, até o próximo reino a explorar, batendo forte, e também batendo de “kina”! 