Seeker::
Tem gente com problemas de consumismo desenfreado serio q podem ser considerados sim patologia. Vicio em compras
melchisedech:: Seeker. Entendo sua indignação em relação ao preço, mas como eu disse cara, se não quiser comprar ou não puder, não pega. O jogo são 175 dólares, só aí já vai 1000 reais. Vc tem que ficar pistola é com a produtora ffg. Tem gente, como eu, que adora dungeon crawler e principalmente a franquia descent. Compra certa
smsnick::
Mas isso não é argumento amigo, me perdoe dizer a vdd, mas isso é inveja. Se vc fosse rico, estivesse na condição deles, vc viveria como pobre? Deixaria de comprar as coisas caras?
Comparando a situação, seria razoável eu atacar a Lamborghini, pq a empresa só vende carros à milhões de reais e em edições limitadas? Óbvio q não. A questão é que a empresa não fabrica pensando em vender para o povão rs. Ela não quer o povo como cliente, ela quer, apenas o 1% que tem dinheiro. De uma forma geral, os jogos caminharam pra isso tbm.. então é muito mais fácil fazer como a grande maioria tem feito, gire a coleção.
Como exemplo, vendi 4 jogos e somei uma quantia complementar e peguei o Gloomhaven. Na minha análise, claro q subjetiva, optei em pagar pois atendeu ao que eu gosto. Entretanto, vários lançamentos saíram, inclusive o Descent sai sexta agora, mas tive que abrir mão temporariamente de adquiri-los. Infelizmente, se acabar.. só aguardar o reprint. Se vier caro, recicle a coleção e vai vivendo assim.
Caros Seeker, Smsnick, Melchisedech
Em primeiro lugar, eu queria deixar claro que eu acredito que as pessoas têm o direito de gastar seu dinheiro como acharem melhor e ninguém tem nada com isso. Porém tudo que se faz na vida, até mesmo não fazer nada, tem uma conseqüência.
As empresas de um determinado segmento atuam conforme a mensagem recebida pelo seu público consumidor. Assim sendo, se uma empresa lança um produto por um determinado preço, todo mundo reclama que está caro, mas compra assim mesmo, a mensagem que esse público passa para as empresas é de que o produto não está tão caro assim, tanto que todo mundo comprou. O mesmo ocorre em relação à qualidade, na medida em que se a empresa lança um jogo com defeito, mas apesar de reclamar todo mundo compra, a mensagem que se manda para a editora é de que não há a menor necessidade de procurar fazer um jogo sem defeito, porque as pessoas não ligam para isso, e vão comprar o jogo, do jeito que ele for lançado, mesmo que cheio de erros.
Por isso, se uma editora lança jogos por valores na casa dos R$ 1.000,00, ou lança jogos com componentes defeituosos e cartas com problema de tradução, e todo mundo compra mesmo assim, certamente a empresa não vai se preocupar nem um pouco em adotar estratégias para baratear o custo, e muito menos irá investir e revisão de alto nível e controle de qualidade.
Nesse sentido, as pessoas que compram jogos de R$ 1.000,00, sem pestanejar, ou que compram jogos com defeitos, realmente têm uma parcela de culpa por esses problemas. Somente na hora em que as pessoas se tornarem mais conscienciosas, e começarem a adotar e praticar o consumo consciente, é que as empresas começarão a realmente se preocuparem com redução de custo e preço, bem como aumento da qualidade dos jogos.
Foi essa a leitura que eu fiz do comentário do Seeker, e apesar da paixão com que ele escreveu e das cores mais fortes do seu comentário, eu concordo plenamente com ele. Quando o Seeker comenta a respeito de combater essa elite abastada que paga preços altíssimos pelos boardgames, e que através disso, contribuem para manter os preços dos jogos tão altos, na verdade o que eu entendi é que o combate proposto é quanto às práticas e não às pessoas, como ficou parecendo.
Em relação a isso, já respondendo ao questionamento do Seeker, eu acredito que o único caminho, por mais árduo que seja, é o despertar da consciência, inclusive como consumidor, bem com a demonstração da força que os consumidores possuem, enquanto grupo, e que podem efetivamente tornar o mercado mais justo. Ninguém quer ou tem a ilusão de que os jogos virão “a preço de banana”. As editoras são empresas que precisam dar lucro, caso contrário elas deixam de existir. Então é necessário que as empresas tenham lucro, e um lucro bom, a ponto de incentivar que elas cresçam ainda mais. Porém não dá para as editoras terem um lucro tal, que elas afastem justamente as pessoas que fazem com que elas tenham lucro. Isso é simplesmente insustentável no médio e longo prazo.
Do mesmo modo, não se defende aqui que as empresas parem de trazer jogos de R$ 1.000,00, até porque existe demanda para esse tipo de jogo. O problema começa, quando o sucesso exagerado dos jogos de R$ 1.000,00, começa a refletir nos jogos de R$ 200,00 / R$ 300,00, que é o que boa parte da comunidade board game pode pagar, de modo que eles passem a custar o dobro disso, ou que as empresas simplesmente deixem de lançar esses jogos. Eu não sou contra o consumo de ninguém, desde que isso ocorra de forma consciente, eu quero apenas ter condições de consumir também, e essa capacidade está sendo afetada pelo consumo desenfreado dos jogos de R$ 1.000,00. Até porque, quando todos os menos abastados forem excluídos do hobby, porque não haverá mais jogos, dentro da sua realidade socioeconômica, quem é que vai sustentar esse mercado? Será que apenas os 1.000 ou 2.000 mais abastados, que são os responsáveis pelo sucesso dos jogos de R$ 1.000,00 serão suficientes para sustentar todo o mercado de board game, incluindo editoras, lojas, autores, eventos, produtores de conteúdo, entre outros? Sinceramente eu acho muito difícil essa pequena elite, mesmo que muito abastada dar conta disso tudo.
Desse modo, para que o mercado de board games se torne mais saudável, não há outro jeito a não ser, escrever aqui no Ludopedia, fomentar o debate e promover as discussões a respeito. Ao invés de somente xingar e vilipendiar as pessoas, com argumentos rasos do tipo: “a culpa é só desses riquinhos que atrapalham tudo”, “ah, o mercado é assim e nada vai mudar então e melhor se conformar”, e coisa e tal, eu prefiro propor o questionamento e levar as pessoas, que assim quiserem a uma reflexão sobre o tema.
Por exemplo, a edição nacional do Gloomhaven foi lançada em maio/2020, pouco mais de um ano atrás, e esse jogo tem uma campanha com mais de 80 missões. Assim, o questionamento que eu proponho é o seguinte: a pessoa que gastou R$ 1.000,00 com o “Gloomhaven”, e que agora pretende gastar mais R$ 1.200,00 com o “Descent: Lendas da Escuridão” será que essa pessoa já terminou de jogar toda a campanha do “Gloomhaven”, e já explorou todas as possibilidades que o jogo tem a oferecer, antes de gastar tanto dinheiro em um novo jogo? Como as pessoas conseguiram esgotar o Gloomhaven, durante a pandemia, considerando que o jogo necessita de um grupo, e jogatinas regulares? E se as pessoas ainda não esgotaram o "Gloomhaven", será que vale mesmo a pena, partir para o “Descent: Lendas da Escuridão”, tendo um jogo tão bom na prateleira, ainda por ser explorado? Se a pessoa ainda não jogou nem um terço do Gloomhaven e já está partindo para o próximo jogo de R$ 1.000,00, só por uma questão de consumismo desenfreado ou “de comprar só porque pode comprar”, será que essa compulsão não é um sintoma de um problema pessoal mais grave e mais profundo, que definitivamente não será resolvido, comprando board games? E por aí vai.
Então é isso que eu acho que se pode fazer, e é o que eu procuro fazer, ou seja, propor o debate e reflexão, para através disso despertar a consciência das pessoas, e com isso tentar melhorar a mensagem que o público consumidor está transmitido para as editoras. Porque em relação ao mercado de board games, não há nenhuma dúvida de que enquanto as pessoas continuarem a pagar mais de R$ 1.000,00 pelos jogos, e enquanto elas aceitarem jogos com defeitos, as editoras continuarão priorizando os lançamentos de jogos de R$ 1.000,00 e não se preocupando muito com revisão, reposição e controle de qualidade.
Além disso, e isso talvez seja o mais grave, enquanto o público consumidor continuar apoiando, da maneira como faz, esse aumento absurdo de preços de jogos, verificado de dois ou três anos para cá, certamente isso se alastrará ainda mais, para os jogos das outras faixas de preço. Assim sendo, qualquer jogo família ou euro médio já partirá da base de R$ 500,00. Ainda não chegamos nessa situação, apesar de estarmos quase lá, porque ainda são lançados jogos na faixa de preço de R$ 250,00 a R$ 400,00. Mas se as coisas continuarem a seguir esse caminho em que elas se encontram, muito provavelmente, num futuro próximo, as pessoas menos abastadas terão de abandonar o hobby, ou pelo menos os jogos físicos e migrarem para as versões digitais dos board games, que mesmo não sendo, nem de perto a mesma coisa, serão a única opção viável economicamente.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Só para não dizer que eu não citei, já tem gente que possui a segunda edição do Descent, aqui no tópico mesmo, realmente se perguntando se vale mesmo a pena pagar todo esse dinheiro, ou se não seria melhor continuar com a edição que já possuem