RaphaelGuri::
Eu idem. A graça de ver as pessoas nos olhos, sejam adversários ou não, para mim é insubstituível.
Grand0rbiter:: Quando leio gente falando que jogar no computador é melhor que jogar no tabuleiro, sempre acho estranho.
Porque o maior argumento a favor do boardgame em comparação a jogar jogos de computador é o aspecto social, mas aí leio várias pessoas falando que jogar no computador/celular/tablet é melhor.
Então o social não é la tão importante assim o que no fim acaba meio que passando a impressão de que boardgames são na realidade jogos digitais capados e limitados.
Caros RapahelGuri e GrandOrbiter
Em primeiro lugar, meus parabéns Raphael por mais um excelente review de um excelente jogo. Bom trabalho, camarada!
Quanto à questão do jogo digital, eu concordo com vocês. Uma coisa que eu percebo aqui na comunidade boardgamer, é que para alguns é muito mais importante ser o melhor jogador daquele título, ser o melhor estrategista, ter a maior quantidade de vitórias, e para isso é indiferente jogar no computador ou na mesa. E não dá nem para culpar exclusivamente a pandemia, porque esse fenômeno já acontecia bem antes dela, muito embora a pandemia tenha contribuído bastante, para aumentar esse tipo de posicionamento. Claro que todo mundo sempre quer vencer qualquer jogo do qual participa, mas quando isso se torna mais importante do que se divertir, pelo menos na minha opinião tem algo de errado. Por outro lado, o curioso é que o grande diferencial dos jogos de tabuleiro é justamente o elemento altamente socializante desse tipo de atividade. O jogo de tabuleiro, em formas gerais (excluído os jogos solo), praticamente te obriga a arrumar amigos, ou pelo menos alguém que também queria jogar, caso contrário essa atividade não é possível.
Nesse sentido, na verdade board games não se tratam de board games, mas sim de pessoas que jogam board games. No computador, também é possível ter alguma interação humana, nos jogos on-line. Porém essa é uma experiência muito mais fria e menos humanizada, do que o contato tête-à-tête. No meu ponto de vista, por mais práticos e enriquecedores que sejam os jogos digitais, nada substitui a expressão na cara do seu adversário, ou na sua própria, quando você compra aquela carta fundamental para a estratégia do outro, ou quando ele faz isso com você. Isso sem falar na impagável sacaneada, que você pode dar ou ter de aturar, quando o jogo tem aquela reviravolta miraculosa, que muda tudo, no último turno da partida.
O problema é que, por melhor que o jogo físico seja, em comparação ao digital, e isso acontece em alguns casos e outros não, para muitas pessoas o digital é a única opção, não só pela oportunidade de comprar o jogo, mas principalmente pela questão do preço. Para quem chegou atrasado na festa, e desencontrou da Grow, antes dela ir embora à francesa, quando o "Castle of Burgundy" custava entre "uma garoupa" e "três onças", fica muito difícil comprar ele hoje em dia. Até porque todo mundo está esperando um reprint nacional, com uma arte melhor, porque o jogo é realmente muito bom, mas também é feio de doer, vamos combinar.
Assim sendo, hoje o "Castles of Burgundy" está sendo vendido no mercado de usados por R$ 400,00, e isso é um absurdo de caro, por melhor que ele seja. Esse preço está artificialmente inflacionado por conta da raridade do jogo, e se acontecer o mesmo que ocorreu com o Stone Age, é muito provável que um eventual reprint, torne o jogo ainda mais caro. Claro que essa é uma regra de mercado da qual não tem como fugir, ou seja, oferta baixa e procura alta sempre tornará os produtos mais caros. Porém, para se defender disso, uma boa prática é procurar pelo melhor preço ou por alternativas mais baratas. Nesse caso, a versão digital do Castles of Burgundy custa menos de R$ 30,00, na Steam, então não há nenhuma dúvida em uma situação dessa, caso a pessoa esteja interessada, mas não tenha o jogo. O mesmo se aplica ao Splendor, ao Lords of Waterdeep, ao Terraforming Mars, ao Invasores do Mar do Norte, ao Ticket to Ride e muitos outros. No caso do TTR você pode gastar menos de R$ 100,00, e jogar com diversas expansões, inclusive as mais interessantes. Com esse dinheiro não se compra nem as expansões 1910 ou 1912, que são apenas algumas cartas.
Então não é nem uma questão de preferir esse ou aquele jeito de jogar, mas principalmente uma questão de não ter dinheiro para comprar as versões físicas de todos esse jogos, mas ter condições de, gastando apenas cento e poucos reais, conseguir jogar todos esse board games de alguma forma, mesmo não sendo a ideal.
Para terminar, se os jogos continuarem se tornando cada vez mais caros, mantendo o ritmo alucinante verificado nos últimos anos, possivelmente a parcela da comunidade boardgamer que não conseguir acompanhar essa elevação de preços, talvez migre cada vez mais para as versões digitais dos jogos de tabuleiro. Isso fará com que cada vez mais gente jogue, e seja cada vez mais fácil conseguir jogar on-line. Acho que isso será muito triste para o hobby, mas também vejo esse prognóstico cada vez mais plausível. É a vida, simples assim.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Só para não falar que eu não comentei, segundo as últimas notícias, a Asmodee está em vias de ser comprada por uma gigante do universo dos jogos digitais. Se isso realmente se concretizar, e, consequentemente, a Asmodee disponibilizar mais jogos do seu vastíssimo acervo, em versões digitais, principalmente os jogos antigos, que já não se acham mais para comprar, e ainda, se forem mantidos os preços no nível da Steam (nessa plataforma o princípio é vender muito mais barato e ganhar muitíssimo mais dinheiro com isso, no maior volume de vendas), aí é que os jogos digitais vão deslanchar de vez...