Não conheço os jogos de videogame da franquia, então o texto trata única e exclusivamente da minha experiência com o boardgame. Uma grande polêmica é a dependência do uso do aplicativo. Vi muita gente criticar, alegando que ele controlava o jogador por determinar as ações a serem feitas, o que tornaria o jogo muito burocrático. Quando tive o meu primeiro contato com XCOM, não sabia ainda que o aplicativo era parte tão importante da mecânica. Minha ideia inicial é que seria apenas um contador de tempo para acrescentar um clima de tensão ao jogo, afinal se trata de defender o planeta de uma invasão alienígena.
Jogo arrumado na mesa.
Mas é no app que começa o jogo.
O aplicativo é bem mais que isso, a começar que ele te ensina a jogar. Isso mesmo, o jogo não traz um manual físico como estamos acostumados. O jogador aprende as regras através do aplicativo. Para isso existe a partida de tutorial, também é possível a qualquer momento consultar alguma regra específica que possa ter despertado dúvida. Além do cronômetro de ações, o aplicativo guia a montagem do setup que sempre muda e o andamento da partida de acordo com as situações do tabuleiro, como por exemplo: nível de pânico dos continentes e quantidade de naves alienígenas em jogo.
Orientação do setup. Determinando quais alienígenas serão utilizados na partida.
Informando situação do tabuleiro durante andamento da partida.
Cada turno de XCOM é dividido em duas partes. A primeira é a Cronometrada, em que o aplicativo dita as ações que deverão ser feitas e determina um tempo limite para cada uma delas, e depois temos a Resolução, aquele momento em que todo mundo respira aliviado. Após as duas partes do turno serem concluídas, teremos as perguntas do aplicativo sobre a situação no tabuleiro. As respostas determinarão o que vai ocorrer na próxima fase Cronometrada. A ordem das ações não é fixa, elas irão se adaptar ao que está ocorrendo na partida. Por exemplo, se temos vários continentes em pânico, o orçamento da XCOM vai cair.
Uma das ações da fase Cronometrada.
Todo esse controle do aplicativo que gera tantas críticas é um dos seus pontos fortes do jogo. A principio, eu também não gostei de tanta interferência. As ações sendo ordenadas de uma forma randômica e o relógio tão presente em tudo, até para comprar cartas e pegar o dinheiro da XCOM tem um tempo determinado. Eu tive essa sensação de não estar jogando realmente, apenas executando ordens. Mas após mais algumas partidas e jogando com a quantidade de jogadores adequada, fui percebendo os benefícios que o aplicativo adiciona a sua experiência.
XCOM é um jogo com mecânicas pensadas para melhor imersão temática. Nesse sentido, o aplicativo foi uma adição perfeita. Ele te coloca no clima de uma invasão alienígena, tendo que tomar decisões bem difíceis, e muitas vezes inesperadas, como muita rapidez. Outra questão, é que o aplicativo introduz uma série de variáveis que não seriam possíveis sem a utilização da tecnologia ou que até poderiam ser, mas com alto custo de tempo e trabalho para os jogadores. O aplicativo diz o que tem ser feito, mas o como, fica por conta do jogador.
Em XCOM, temos quatro funções muito bem definidas e todas com seus desafios próprios. Quando mencionei mais acima sobre a quantidade de jogadores adequada, era a isso que estava fazendo referência. Esqueça o papo da caixa sobre 1-4 jogadores. Infelizmente, muitos jogos forçam uma flexibilidade na quantidade de jogadores para atingir um público maior. Uma das maiores evidências desse problema é quando se estabelece que um jogador deve assumir mais de um papel, muito comum em jogos cooperativos, ou dividi-lo com outro jogador, isso ocorre bastante em jogos para apenas dois jogadores.
Cartas de cada função.
XCOM só funciona perfeitamente com quatro jogadores, cada um com uma função e com atenção total ao que está fazendo. Sendo um jogo cooperativo, é claro que todos os jogadores, não só podem como devem, opinar nas ações uns dos outros. Isso inevitavelmente vai acontecer porque as função interferem muito uma nas outras. O Comandante possui o controle do orçamento, então tudo o que é posto no tabuleiro precisa ser controlado por ele.
Uma das questões mais criticas do jogo é o controle do maldito orçamento. Tudo que se coloca no tabuleiro deverá ser pago no final da fase Cronometrada. Se não houver dinheiro suficiente, teremos aumento do pânico, que é outro ponto muito tenso do jogo. Acho que como na vida real, dinheiro e pânico são coisas difíceis de controlar e que causam um grande impacto. Além disso, é responsabilidade do Comandante designar as aeronaves para defender os continentes e escolher as crises. Ele é o cara que escolhe o menos pior, porque é bem difícil vir uma crise de boas.
Trilha de pânico dos continentes. Do lado esquerdo, as cartinhas de crise.
Aeronaves designadas para defender os continentes da invasão.
A outra função do jogo é o Diretor de Operações, ele é responsável por colocar os satélites na órbita do planeta. As invasões alienígenas não ocorrem apenas diretamente nos continentes. O jogador que assume essa função também será o responsável por controlar o aplicativo. Afinal, ele é o cara das comunicações. Quando a parada está feia no tabuleiro e ele informa isso no aplicativo, tematicamente funciona como uma falha no sistema de comunicações da XCOM, então a parada fica ainda mais complicada. É uma função mais tranquila em termos de ação no tabuleiro, mas fundamental no jogo.
Satélites falharam na defesa global.
Uma outra função relativamente mais tranquila no jogo é o Diretor Científico. Ele é o cara que vai distribuir os upgrades para a galera. Ele faz isso através das cartas de desenvolvimento tecnológico, com um limite de até três pesquisas simultaneamente e utilizando até três cientistas em cada uma delas. O sucesso é determinado através de rolagem de dados, cada carta tem um valor variável de acordo com o benefício que concede. A quantidade de dados é igual a de cientista utilizados, sendo que temos um D6 com sucesso em apenas duas faces. Junto com o dado da XCOM, é rolado também o D8 alienígena. Não existe limite de rerolagem, mas o marcador de ameaça vai subindo. Se no dado alienígena sair um resultado igual ou menor todos os cientistas morrem.
Rolagem perfeita.
A trilha de ameaça.
Por último, a função que considero mais difícil - o Capitão. Ele controla as tropas, que devem se dividir entre proteger a base da XCOM e completar as missões. São quatro tipos diferentes de tropas, cada uma começa com dois soldados disponíveis. Eles possuem diferentes tipos de ícones que determinam suas habilidades e especialidade (amarelo) que devem ser correspondentes aos que igualmente são apresentados nas cartas de alienígena e missão. O Capitão geralmente é o cara que recebe mais upgrades, então ele tem muita coisa para administrar. Essa função é o principal motivo de eu ter achado que o jogo só funciona bem com quatro jogadores.
Os diferentes tipos de unidades de combate.
Fazendo a correlação de símbolos entre unidades e alienígena a ser atacado.
Designando unidades para defesa da base da XCOM.
Unidades em Missão.
O combate ocorre utilizando o mesmo sistema de rolagem de dados das pesquisas do Diretor Científico, a diferença é aqui o nível de ameaça não zera entre um alienígena e outro que é enfrentado na base da XCOM. Isso vai ocorrer quando o jogador passar para os combates da Missão. Essa é a parte em que geralmente os jogadores são derrotados.
Perder tropas é muito ruim, assim como aeronaves, pois eles não voltam para a reserva. Para recuperá-los é preciso pagar por eles com créditos que sobrarem após o pagamento de todas as despesas geradas em cada fase Cronometrada, isso vai ficando cada vez mais difícil ao longo do partida, porque o orçamento vai ficando reduzido a medida que a invasão alienígena avança. Os satélites e cientistas são mais tranquilos de perder, porque eles só ficam com uso bloqueado durante um turno.
Local que vai ficando cada vez mais cheio ao longo da partida.
XCOM é um cooperativo bastante difícil, onde os jogadores precisam ter uma sintonia muito boa. O tempo para decisões é extremamente curto, então não há como ficar discutindo. A concentração na partida precisa ser total, não tem como parar para nada. No máximo, uma ida rápida ao banheiro na fase de Resolução. Considero que a utilização do aplicativo só agregou a experiência imersiva, que é o objetivo do jogo. Sendo algo inovador é compreensível uma certa resistência inicial por parte dos jogadores. Porém, discordo de quem diz que o aplicativo deveria ser opcional. Acho que veremos cada vez mais a integração de tecnologia em jogos de tabuleiro, assim como outras inovações como as utilizadas nos super comentados Pandemic Legacy e T.I.M.E. Stories. Em diferentes graus, a intenção é a mesma, dar ao jogador uma nova experiência.
Saiba mais ouvindo o podcast que gravamos sobre o jogo:
Excelente resenha, parabéns! Achei o jogo muito desequilibrado quando joguei, parece que os aliens levam sempre a melhor. Por isso eu joguei e não compro, mas toparia jogar novamente.
Além disso, os fãs analógicos de plantão que me perdoem, mas nada se compara ao jogo de computador para a Steam. E que venha fevereiro que eu quero jogar o XCOM 2 na Steam!
XCOM é fantástico. Sem o APP serie necessário um OVERLORD (coitado) para fazer tudo o que a IA faz. O jogo é difícil e isso e bom. Extremamente recomendado. A resenha ficou muito boa.
XCOM veio com uma nova proposta e até aonde ele chegou com o aplicativo vale a experiência, no entanto, entendo que se isso for tendência o risco dos jogos de tabuleiro se transformar em variantes de jogos de video game vai aumentar.
Outro problema é a necessidade de quatro jogadores considerando que os quatro cantos do tabuleiro são diferentes entre si. Isso dificulta a jogabilidade para um, dois e três jogadores já que acumular a ação de outro jogador vai exigidir do jogador ficar mudando de lugar o tempo todo. Modo solo, nem pensar.
Enfim, é um jogo que só funciona com quatro jogadores e manter esse número sempre na mesa fica mais complicado.
Bem com uma folha de instruções para baixar o app e uma visão superficial. No app da para ler as regras.
Eu particularmente não curti, era um jogo que eu tinha muita expectativa por conta até mesmo do app. Mas é muito focado na gestão da xcom, que é um aspecto menor no jogo original. Também não curti que tudo se resolve no dado, até curto jogo com dados mas ficou muito seco o uso da mecânica.
Em questões de rejogabilidade, ele tem um número finito de missões?
Dá pra jogar várias vezes sem enjoar ou ficar previsível?
Estou acostumado com Space Alert que tem 7 missões definidas (áudios). Então, apesar da aleatoriedade das cartas, acabei decorando a ordem que cada coisa acontece, podendo me prevenir antes. Isso tira um pouco a graça da "surpresa" da invasão.
Apesar da semelhança na mecânica de 2 fases, estou buscando algo que pareça que estamos jogando uma partida "diferente" da outra.