THIS IS SPARTAAAA!
Weuro?
Polis é um wargame para dois jogadores. Essa talvez seja a forma mais reducionista e equivocada de apresentar esse jogo, apesar de não ser mentirosa.
A guerra do Peloponeso, foi um confronto histórico no século V a.C. marcado pelo temor Espartano em perder sua hegemonia territorial para o acelerado crescimento do poder Ateniense. Afim de disputarem o protagonismo como civilização desse período, tanto Esparta quanto Atenas formaram Ligas de cidades estado espalhadas pela Grécia Antiga e Ásia Menor para construir e abastecer seus exércitos.
Esse é o recorte histórico que o jogo traz, onde um jogador irá controlar as forças espartanas (vermelho) e outro a ameaça ateniense (azul). A forma mais comum de se imaginar um jogo de guerra para dois jogadores, seria uma experiência centrada em mecânicas de combate pelo controle de áreas com muitas rolagens de dados ou uma gestão de cartas controlando o timing de eventos, porém dessa vez, Polis surpreende bastante.
Isso porque Polis é o que muitos categorizam como Weuro (Wargame + Euros) um jogo que combina magistralmente conceitos e mecânicas de ambas classificações. O designer consegue traduzir o tema do conflito na dificuldade de se administrar uma guerra. Com uma gestão de recursos extremamente desafiadora e punitiva e uma economia flutuante bastante escassa e apertada. Os confrontos seguem lá como todo bom jogo de guerra, mas as demandas e os objetivos por trás deles vão além de promover baixas ao exército inimigo (ou remover cubos do tabuleiro).
Gestão de guerra
Como é de se esperar, o controle de área precisa se fazer presente em um jogo que retrata uma guerra territorial. Porém em Polis, essa mecânica não está diretamente ligada a pontuação ou condições de vitória, mas sim a proteção de um "recurso" fundamental que são as cidades de cada lado que irão compor as Ligas. No jogo, há dois tipos de controle. O controle de regiões (que é basicamente o controle de maioria nas áreas do mapa) e o controle de cidades, que formam um tableau que os jogadores precisarão administrar de forma muito precisa, principalmente entre os rounds. Quero dizer aqui que, o fato de um jogador controlar uma cidade não significa necessariamente que ele tem o controle da região onde aquela cidade se localiza, isso obviamente pode torná-la mais vulnerável, mas é um conceito fundamental do jogo.
A interação entre cidades e territórios e as mecânicas escolhidas nesse quesito do jogo são de uma beleza quase inexplicável tanto na temática quanto na jogabilidade. Sem querer entrar nas regras mas basicamente ao controlar uma cidade (que são representadas por cartas no seu tableau) você irá se tornar responsável pela sua população (cubos nas cartas), isso significa que no final de cada round você precisa não só alimentá-los, como decidir se impulsiona seu crescimento (adicionar mais cubos dentro dos limites de cada cidade) e tudo isso com o mesmo recurso (comida) que é um dos mais escassos do jogo. Essa é uma informação importante, pois é uma das principais decisões dos jogadores.
Isso porque a pontuação do jogo é basicamente a sua quantidade de prestígio somada a população final de suas cidades. Por fim, a única forma de colocar cubos da sua cor no tabuleiro, é promovendo a população da sua cidade em Hoplitas (soldados terrestres) ou os enviando para o mar na frota naval. Dessa forma no final de cada round você terá que lidar com o desafio de saber quais cidades sustentar e quais fazer crescer sabendo que ao passo que está aumentando a sua pontuação, você precisará abrir mão dela seja por distribuir estrategicamente mais cubos no mapa, seja pela incapacidade de gerar os recursos necessários para sustentar e popular todas.

Além desse nível de gestão populacional e de prestígio, há outros 5 recursos no jogo, Vinho, Ferro, Madeira, Prata e Comida, obviamente todos bem difíceis de gerenciar, sendo prata e comida os mais complexos de se obter. O Importante aqui , é perceber o que já disse anteriormente, de como o jogo te conduz para o papel de administrar uma guerra não pelo combate, mas pela administração do seu povo e dos recursos para abastecê-los.
Não se faz um exército sem ferro para forjar suas armas, como não se constroem navios sem madeira, em paralelo, não se conquista o prestígio e apoio de cidades, sem a entrega de benesses como promoção de jogos, estátuas, monumentos, contruções, etc... que obviamente requisitam uma boa soma de recursos.
Recursos que podem ser obtidos através da taxação de tributos nas regiões que você controla, ou estabelecendo rotas comerciais em terras estrangeiras, que farão o valor de cada recurso flutuar (como se fosse uma especulação de commodities) a cada negociação executada. Todas escolhas em Polis, tem suas consequências.
Volto aqui então à trilha de prestígio, que assim como a população das cidades, são pontos de vitória no fim do jogo, mas fundamentais para serem gastos durante ele. Isso pois quase metade as ações que você pode executar no jogo, necessitam o dispendio de um ponto de prestígio, basicamente as ações militares que geram indisposição com os povos de suas cidades, mas que permitem que você se expanda sobrepujando seu inimigo. A Administração dessa trilha de prestígio é difícil e muito punitiva, pois a única condição de derrota imediata, é a falta de prestígio quando for necessário por parte de algum jogador. O cobertor de Polis é curtíssimo.
Acreditem, essa costura de mecânicas e recursos interligados gera camadas de decisões incríveis. Muitas vezes, será mais eficiente bloquear as rotas comerciais de uma liga de cidades do que partir para conquista delas.
Sistema de combate inteligente
Por mais que não seja o foco, o combate do jogo ainda é mais uma grata e satisfatória surpresa. Polis é dividido em 3 rounds, com turnos alternados entre os jogadores até que ambos passem. E ao final de cada turno, todas as regiões contendo oito cubos ou mais entrarão em conflito. Cada jogador então saca uma quantidade de cartas igual ao numero de cubos daquela região e se alterna jogando duas por vez em ataque e defesa. O atacante revela seu par de cartas (que representam formações e manobras militares) e o defensor precisa apresentar cartas iguais para segurar o dano e não perder cubos. O bacana aqui é que a informação da quantidade de crtas por manobra vem impressa em todas elas, então vira uma tensão em escolhas baseadas na contagem dessas cartas que irão gerar a probabilidade do seu adversário ter a capacidade de defender. Independente do resultado de baixas, sempre há a possibilidade de se ganhar prestígio nessas pelejas, que muitas vezes é mais valioso do que retirar cubos inimigos.

Conclusão
Euro ou wargame, Polis é um jogo incrível com uma capacidade de promover a imersão dos jogadores de forma bastante peculiar. Conquistar cidades sitiando-as utilizando sua força ou promovendo sorrateiras guerras civis com seu diplomata político e uma boa soma de prata, investir no crescimento de cidades que possam promover tropas mais estratégicas, assegurar rotas comerciais para garantir comida e prata durante todo conflito ou até mesmo para bloquear a capacidade do inimigo de gerar esses recursos, decisões e mais decisões que promovem uma experiência única em um dos melhores jogos para 2 jogadores que eu conheço.
OBS: POLIS FOI RELANÇADO PELA DEVIR EM 2020 NUMA EDIÇÃO LINDA E COM UMA PRODUÇÃO E ALTA QUALIDADE, INFELIZMENTE ACHO DIFÍCIL TRAZEREM PARA O BRASIL, MAS ACREDITO TER SIDO UM DOS GRANDES LANCAMENTOS DE 2020
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