Caros Boardgamers
Esse mercado de board games é realmente muito interessante e peculiar, porque acontecem coisas aqui que não se vê em nenhum outro lugar, nem no circo, para vocês terem uma ideia!
A relação de consumo, no mercado de board games é totalmente às avessas. Eu fico sempre com a impressão de que as editoras estão fazendo um enorme favor de venderem seus jogos às pessoas, e bem caro, diga-se de passagem, e todo mundo deveria ficar muito agradecido por isso, e aceitar qualquer coisa goela abaixo.
Em qualquer mercado, qualquer um, se uma empresa erra em um produto, ela tem que consertar o erro, mesmo que custe muito dinheiro. Não tem essa de errei vou consertar e melhorar na próxima, mas quanto ao erro dessa vez, não vou fazer nada e “ema, ema, ema, cada um com seus pobrema”. Como eu sempre digo, negócios são negócios, e da mesma forma que a editora tem o direito de cobrar o que quiser pelo jogo, ela também está obrigada a me entregar o produto correto, sem erros, e se eles acontecerem, o que é natural, afinal todos somos humanos, a obrigação da editora passa a ser pedir desculpas aos consumidores e clientes, e consertar o erro. É assim que as coisas funcionam em todos os lugares, menos no mercado de board games.
Além disso, é justamente porque custa muito caro para consertar um erro, que as empresas de qualquer setor se esforçam bastante para não errarem. Você nunca vai ver em uma gôndola de supermercado, escrito “LiNpol” em um frasco de detergente, ou “Scol” em uma latinha de cerveja.
Tudo bem que a Bombril e a Ambev são empresas muito maiores que a Galápagos, mas esse princípio “errou tem que consertar” é o mesmo, para ambas as situações. Além disso, não dá para esquecer que a Galápagos faz parte do Grupo Asmodee, que por sua vez pertence à empresa européia de investimento PAI Partners, baseada na França, e que tem muito, mas muito dinheiro mesmo. Por isso, não faz o menor sentido, pelo menos na minha opinião, tratar a Galápagos como se ela fosse um editorazinha familiar de fundo de quintal, e como se ela não tivesse dinheiro para mandar produzir um milhar de tampos da caixa do “Profecia dos Reis”, e enviar para os consumidores, ou se ela fizesse isso, correria o risco de falir, porque isso nem de longe é verdade.
Se a reposição da caixa da expansão vai gerar um enorme prejuízo para a empresa, e ela vai acabar gastando mais do que ganhou com o produto (o que eu sinceramente duvido muitíssimo), isso faz parte do jogo chamado “negócios”. A Galápagos não está nesse jogo só para ganhar os bons lucros que recebeu com o "Gloomhaven". Além do que, se alguém na Galápagos errou e enviou o arquivo equivocado para a gráfica, ou se foi a gráfica que imprimiu errado, os consumidores não tem nada com isso, e o problema é todo da Galápagos. Ela que apure e responsabilize os culpados, e se for o caso que processe a gráfica.
As empresas em geral não erram, ou fazem o possível para não errarem, porque errar custa caro. Se não fosse assim, as empresas errariam e não estariam nem aí para os erros. É exatamente isso que acontece com a Galápagos e demais editoras de board games, ou seja, mesmo que elas jurem o contrário e que os seus “advogados de defesa do Ludopedia”, procurem mil desculpas e justificativas, a verdade é que elas até tentam não errar, mas se isso acontecer elas não ficam muito preocupadas não. Afinal de contas, se elas errarem não vão consertar nada mesmo, porque a grande maioria, salvo um ou outro, vai comprar o jogo ou a expansão do jeito que ele estiver, e ainda vai aparecer um montão de gente para dizer que não tem problema, porque isso não afeta a jogabilidade (mesmo quando os erros efetivamente afetarem).
Quanto ao que se pode fazer, uma das atitudes seria não comprar mais nenhum jogo, principalmente da Galápagos, em pré-venda, e ao invés disso, esperar ele ser lançado e os primeiros corajosos e intrépidos comprarem e dizerem se ele veio muito errado ou não. Mas isso implica em correr o risco de ficar sem o jogo, ou ser obrigado a comprar depois e bem mais caro na mão dos revendedores, e esse é um risco que ninguém correr.
Infelizmente, muitos dos usuários que agora reclamam a valer das práticas da Galápagos, e do que aconteceu com o “Masmorra do Mago Louco”, com o "Nemesis" e agora com o "Twilight Imperium – Profecia dos Reis" são os mesmos que estão juntando dinheiro para garantir, já na pré-venda, sua cópia do "Descent: Lendas da Escuridão" e do "Arkham Horror Card Game", mesmo que eles corram o sério risco de terem a mesma quantidade, e profundidade, dos erros que ocorreram nos jogos citados anteriormente.
O resumo da ópera é que nós estamos nos acostumando a pagar preço com padrão europeu, e a recebermos jogos com padrão de qualidade de 3º Mundo. Por mais triste que isso possa parecer, ainda vai levar algumas décadas para que o jovem mercado de board games brasileiro amadureça o suficiente, para que as pessoas entendam a simples verdade de que, quando alguém paga o preço de um jogo, a editora tem a obrigação de entregar o jogo sem erro, ou de consertá-los se eles ocorrerem. Talvez nossos filhos, ou netos consigam viver em um cenário assim.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Em tempo, eu fui dar uma pesquisada, (um eufemismo para usei o Google) e consegui apurar que, em 2018, o Grupo Asmodee foi vendido por sua antiga proprietária, a Eurazeo, para outra empresa de investimentos francesa a PAI Partners, pela bagatela de 1,2 bilhoes de euros. E tem gente que ainda acha que a Galápagos não tem condições financeiras de bancar a impressão e remessa de 1.000 caixas do Profecia dos Reis...