NadoRS::Felipe Ferreira::Contra pirataria é ter preços mais acessíveis nos jogos.
Pois é, nunca vi baralho de Uno pirata. Por que será que pirateiam tanto carta de Magic, principalmente as mais caras?
Caro NadoRS
Esse é exatamente o meu pensamento. O único motivo para alguém optar pelo pirata ao invés do original é o preço, porque nada mais justifica isso. O Coup e o Love Letter são vendidos na casa dos R$ 60,00 / R$ 70,00, portanto, acho pouco provável que uma gráfica pirata se interessasse por pirateá-los, porque o lucro não compensaria. É preciso lembrar que o UNO custa R$ 15,00, porque é produzido pela COPAG em uma escala industrial, muitísimo superior a qualquer boardgame moderno.
Por outro lado, o Dixit, por exemplo, é vendido na casa dos R$ 200,00, e se uma gráfica pirata resolver produzir uma versão “alternativa” do jogo custando R$ 40,00 (com peões simples ao invés de coelhinhos ou até mesmo apenas as cartas), talvez a coisa não fique tão inviável assim. E nesse caso eu estou me referindo a uma situação fictícia, dentro da realidade nacional, porque se pensarmos em mercado internacional, não dá para deixar de pensar nas fábricas chinesas, que já produzem em larga escala e podem baixar o preço ainda mais. Basta acessar o site do Expresso do Ali Babá, que não me deixa mentir.
Por isso, eu acho que a indústria de boardgame nacional deveria refletir um pouco sobre a história da indústria fonográfica. Enquanto a única opção era a fita K-7, as gravadoras cagavam para a pirataria, porque se alguém quisesse ouvir música de qualidade, ela tinha de comprar o disco de vinil, pagando o preço que as gravadoras queriam. Quando a coisa migrou para o CD, e em seguida surgiram o gravador de CD, o mp3, o Napster, protocolo P2P, torrrents, Pirate Bay, e assemelhados, foi só aí que a as gravadoras resolveram começar a falar em preço justo, em redução de margem de lucros, e coisa e tal, mas aí já era tarde porque o estrago já estava feito, e o final dessa história todo mundo conhece.
Claro que a comunidade boardgamer nacional ainda se importa bastante com qualidade e opta pelo jogo original (pelo menos por enquanto, porque o aumento galopante dos preços força cada vez mais pessoas a abandonarem o hobby, e isso pode se transformar facilmente em uma opção por vias alternativas, se elas estiverem disponíveis), mas estes já fazem parte do mercado, e não é através deles que o mercado vai se expandir e se desenvolver. Por outro lado, o público em geral, que é totalmente alheio ao hobby, e que são aqueles que o mercado precisa para se oxigenar e crescer, estes talvez não sejam tão preciosistas, nem se importem tanto, em jogar o Dixit, ou qualquer outro jogo, com cartas ou componentes de qualidade um pouco inferior, mas com um preço sedutoramente mais baixo. Isso pode significar a ruína da maioria das nossas editoras nacionais de boardgames, que trabalham em escala quase artesanal, e esse é o verdadeiro perigo que a pirataria representa para o mercado brasileiro de boardgame.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Eu não trabalho em editoras de boardgame, não sou designer de jogos, não tenho canal no Youtube, nem sou o maior especialista nesse tipo de mercado, e, portanto, é possível que eu esteja completamente equivocado. Todavia, sem querer fazer qualquer tipo de justificação ou defesa da pirataria, mas uma coisa que eu sei, é que a pirataria só existe, quando uma quantidade razoável de pessoas gostaria de comprar um produto, mas não tem dinheiro para pagar o alto preço do produto original, e acaba optando pela versão alternativa mais acessível. Qualquer semelhança com o mercado nacional de boardgames, infelizmente, não é mera coincidência.