Olha, amigo, eu li o seu texto, que tem questionamentos relevantes a respeito do tema, e vou dar minha contribuição aqui.
Especificamente sobre essa dinâmica criadores-editoras, é óbvio que é ruim ter jogos com erros ou problemas na produção, mas quem tem que ser cobrado por isso são as editoras, não quem faz review de jogo. Particularmente quando consumo esse tipo de conteúdo, estou mais interessado em saber como o jogo funciona, quais as mecânicas, gameplay, etc, e menos se houve problemas na produção. Até porque, se eu já estava propenso a comprar o jogo, dificilmente deixarei de adquiri-lo por conta de erros, ainda mais se a alternativa a isso for adquirir o jogo em outro idioma. Não é um problema pra mim ter e jogar jogos em inglês, por exemplo, mas convenhamos que é chato ter que ficar traduzindo os textos de cartas ou de tabuleiros pra quem não sabe o outro idioma na mesa. Um pouco da dinâmica da partida se perde nesse aspecto.
Vou dar um exemplo prático aqui: todos sabemos que o jogo Tiranos da Umbreterna veio com uma série de problemas de produção até graves, desde erros em textos de cartas, versos de decks com cores diferentes, passando pela tradução do título, que muita gente achou ruim. Não sou lá um grande fã de D&D e de RPG no geral, e não conheço absolutamente nada da história dos elfos negros. Dito isso, mesmo ciente de todos esses poréns e problemas de produção, eu adquiri não só o jogo, mas a expansão que veio pro Brasil, e se lançarem mais expansões, provavelmente comprarei também. Por que eu sou masoquista e gosto de sofrer? Por que me apaixonei pela incrível história do D&D? Por que passo pano pras editoras? Ou simplesmente por que eu gostei da mecânica e gosto de um bom deckbuilding, e estou mais propenso a perdoar erros nesse caso? Talvez um pouco de cada, talvez todos, dependendo de quem estiver lendo isso. Mas o fato é que mesmo se houvesse um vídeo de 50 minutos falando sobre todos os problemas de produção, ou uma infinidade de posts aqui na Ludopedia reclamando (há vários, e eu li a maioria), eu ainda assim teria adquirido o jogo, apesar dos problemas, simplesmente porque o jogo agradou a mim e a meus amigos de jogatina, e é isso que importa de fato pra mim no fim das contas. Pra mim o papel do criador de conteúdo é esse, te apresentar o jogo, te mostrar o que ele oferece em termos de mecânicas e dinâmica. Se você vai comprar ou não, se vai relevar erros ou não - e aí pra mim entra muito nesse cálculo o fato de você já estar ou não propenso a adquiri-lo e de achar que vai agradar você e seu grupo- entra a questão do livre-arbítrio e do que cada um faz com seu dinheiro.
Agora, sobre essa questão de críticas de produtores levarem ao boicote por parte das editoras, não sei se concordo com isso não. Quem tem mais a perder nessa relação, pra mim, é a editora. Muitas vezes vemos jogos hypados e que estão em todos os canais de reviews encalharem nas lojas mesmo assim. Imagina se houvesse, de fato, esse veto a críticas por parte das editoras. Sabemos de casos de jogos consagrados lá fora que simplesmente não venderam bem aqui no Brasil, como Tigris&Euprathes, Torres, Cidades Submersas, etc., talvez por uma estratégia de marketing e vendas inadequada, talvez por não caírem no gosto do brasileiro mesmo. Como foi bem observado por você no seu texto, esse é um hobby de nicho. Se as editoras cortassem um dos poucos canais de comunicação com o publico, aonde iriam veicular seus produtos? Eu acho, pelo contrário, que muitas vezes falta marketing e transparência por parte das editoras, seja para atrair novos consumidores, seja para mostrar aos potenciais compradores o que têm a oferecer em troca do nosso dinheiro.
Enfim, esses são meus dois centavos sobre o tema. Certamente vão ter muitos que irão discordar, mas o contraponto é sempre interessante. Só acho que muitas vezes gastamos energia demais discutindo por picuinhas aqui, e menos no que realmente importa no hobby, que é a diversão e interação com as pessoas. No fim das contas um jogo é só papel e papelão encaixotado, muito caro, é verdade, mas ainda assim papel e papelão.