caiom88::
Acabei vindo tarde (mas melhor do que nunca) da 3a parte da série para prestigiar o tópico da 1a parte do Iuri, mais uma vez excelente.
Já lanço um questionamento:
Qual a opinião de vocês sobre a nossa ''dependência'' das fábricas da China para a impressão/confecção dos board games?
Seria possível uma empresa do Brasil quebrar essa barreira chinesa de custo de produção?
Seria possível termos uma empresa nacional mais preocupada com o mercado nacional? (digo preocupada no sentido de desenvolvimento local de jogos e designers, tendências nacionais e sobretudo desenvolvimento sócio-econômico local).
Caro caiom88
Meu camarada, mais uma vez obrigado pelo elogio.
Quanto aos seus questionamentos, curiosamente eu estou trabalhando em um texto justamente tratando dessa questão da nacionalização da produção de board games. Na minha opinião o principal empecilho para que os jogos sejam produzidos nacionalmente é que a nossa produção é mínima. As editoras brasileiras produzem algo em torno de 1.500/2.500 unidades por jogo. Não é por ano, é por jogo. Isso é muito pouco. Na verdade a versão nacional do jogos é um produto praticamente artesanal.
Com isso, fica muito difícil convencer as fábricas nacionais a investirem em maquinário capaz de produzir componentes de board games. Para piorar a situação, isso só seria possível com jogos nacionais, porque os jogos estrangeiros não tem jeito, eles têm de ser produzidos na China mesmo porque os preços são imbatíveis. Como a produção chinesa atende o mundo inteiro, os jogos são produzidos quase na casa do milhão de unidades. Quanto maior a produção, menor o custo do produto por unidade. É mais ou menos como a diferença entre comprar no varejo e compara no atacado.
E mesmo que compensasse produzir um "Ticket to Ride" aqui no Brasil, há o entrave das exigências contratuais, que determinam a produção centralizada do jogo, para garantir a qualidade do mesmo. Se for levado em conta o padrão de controle de qualidade das editoras brasileiras, não tenho dúvida que o "Ticket to Ride Europa", teria escrito em seu tabuleiro, ou nas cartas de trajeto, verdadeiras pérolas como Varçóvia capital da Polônia e Istocoumo capital da Suécia. E para consertar você receberia apenas um adesivo para colar em cima.
Por isso, a única opção que eu vejo viável para a nacionalização do board game seria Grow e Estrela começarem a produzir elas mesmas em suas fábricas próprias, jogos de designers nacionais. No caso da Grow ela até que tentou alguns anos atrás, mas utilizou jogos estrangeiros ao invés de nacionais e certamente acabou esbarrando nos mesmo problemas das demais editoras de jogos. Já a Estrela está fazendo isso mas de forma muito tímida através da linha Estrela Premium Games. O problema é que a Estrela ainda está acertando a mão na questão da qualidade dos componentes. O Herdeiros do Khan pecou muito nesse quesito, mas o Front Total já melhorou sensivelmente, nesse quesito. E os preços dos dois jogos são excelentes, bem abaixo da média dos board games em geral.
Para terminar vamos torcer para que a Estrela continue apostando em jogos nacionais, e tenha um sucesso tal, capaz de trazer de volta a Grow para esse setor. Com isso, pelo menos alguns jogos nacionais vão ter preços mais compatíveis com a nossa realidade socioeconomica.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio