Renan Dúnadan::Olá, Luís. Tudo bem?
Olá, Renan. Tudo bem sim, e você?
Renan Dúnadan::Cara, eu teria diversas observações a fazer sobre o seu texto -- que, aliás, é muito bem escrito --, mas isso poderia atiçar os ânimos polarizados.
Primeiramente, obrigado pelo elogio. Sobre as diversas observações, só posso dizer que você é totalmente bem vindo para fazê-las. Estamos promovendo uma excelente discussão aqui. Sobre atiçar os ânimos polarizados, entendo a sua preocupação. Na realidade, para ser perfeitamente honesto, a princípio eu fiquei receoso de publicar esse texto exatamente pela mesma razão.
Renan Dúnadan::Faço apenas uma: estando carregado de uma série de pressupostos e com uma cosmovisão mais à esquerda, só alcança os, como dizem, convertidos. Esse público pode ser o seu alvo, mas se você se propõe a tratar sobre "injustiças sistêmicas e estruturais", não sei se faz muito sentido que o texto seja desprovido de uma linguagem mais propositiva e convidativa ao debate. Observa-se que todos os comentários, ou em sua quase totalidade, são de concordância com o teor da mensagem. Mais uma vez, se esse era o seu objetivo, então tudo bem.
Então, foi bastante interessante você citar essa questão dos meus "objetivos" com a publicação desse texto. Sinceramente, em um primeiro momento, ao escrever o texto, eu não pensei nessa questão de polarização direita/esquerda que está um tanto fora de controle no Brasil contemporâneo. Eu não quero dar muitos detalhes da minha vida pessoal aqui, mas eu fiz esse texto motivado por uma pessoa. É uma pessoa muito importante para mim, ela me ensinou muita coisa, abriu meus olhos, sensibilizou-me para uma série de questões nesse sentido, que eu não enxergava com tanta precisão, e infelizmente sofreu e ainda sofre muito racismo.
Existem dois tipos de texto no meu canal: a maioria deles são de caráter humorístico e outros apresentam reflexões que partem de algum pretexto relacionado aos jogos de tabuleiros, mas transcendem esse elemento em algum ponto. Curiosamente eu levo muito mais tempo produzindo os textos humorísticos do que os textos de opinião. Em um texto humorístico eu penso em um roteiro, uma narrativa, nas piadas, nas referências, existe todo um processo criativo que consome algumas horas de trabalho. O texto reflexivo opinativo é muito mais direto. É algo que está me incomodando e que eu coloco para fora de alguma maneira. Esse texto foi bem mais espontâneo do que a maioria dos textos que costumo postar, logo eu nem pensei muito em um objetivo no aspecto mais formal da coisa, sabe? Eu só escrevi o que estava pensando.
A internet, como você bem apontou, ainda que indiretamente, é um ambiente muitas vezes tóxico, especialmente quando estamos lidando com assuntos sensíveis. Antes de postar esse texto, eu fiquei bem ansioso, com um pouco de receio, inclusive, como anteriormente citado. Eu não sabia o que esperar. Felizmente eu encontrei uma comunidade que abraçou a causa, mas nesse Brasil louco que estamos vivendo, a gente nunca sabe. Há pessoas e pessoas em todos os lugares, com as suas mais diversas índoles. Nesse sentido, antes de finalmente fazer o upload do texto, eu o enviei para duas pessoas: essa pessoa que considero imensamente, que é preta, e outra pessoa que também admiro muito e que é branca. Ambos curtiram o texto e me incentivaram a postá-lo. A partir daí foi uma aposta cega, seja o que Deus quiser.
Quem acompanha o canal sabe que o combustível que mais me motiva a continuar postando não são os "joinhas", mas os comentários extensos e bem elaborados em resposta ao texto, seja ele um texto sério ou não. Após a publicação do texto, eu sigo sua repercussão por um bom tempo, enquanto ele está em evidência no site, e respondo praticamente todos os comentários com a mesma dose de empenho. É só você ver a partir desse próprio texto ou qualquer outro no canal. Sobre a linguagem, do mesmo jeito que eu não pensei nos mínimos detalhes, em função do caráter espontâneo dessa postagem em particular, eu não parei para pensar em que tipo de público eu estaria alcançando ou deixando de alcançar, foi apenas uma expressão da minha personalidade na forma de texto, como costumo fazer aqui sempre. Aqueles que já me seguem há um tempo já esperam um textão a cada novo tópico, sou bem prolixo.
A única coisa que eu fiz questão real de não escrever, justamente para mostrar que, diferentemente dos outros, esse texto é mais sério, foi o vocativo "jovem", outra marca registrada do canal. Propositalmente um texto meu tem dezenas de repetições dessa palavra em meio a toda a prolixidade. Nesse texto em particular você não vai encontrar essa palavra. O resto foi totalmente espontâneo mesmo, sem parar para analisar muito os pormenores como que espectro eu estava cativando ou qualquer coisa do tipo.
Gosto de acreditar que o combate ao racismo, homofobia, qualquer tipo de intolerância deve ser universal e apartidário. Infelizmente na prática isso não se configura muito bem como uma realidade, vide muitos representantes políticos no Brasil e no mundo que não compartilham desse ideal. Há uma série de valores distorcidos e retrógrados em nossa sociedade. Pessoas que usam o nome de Deus em vão para vários interesses pessoais e mesquinhos. E olha que eu nem sou religioso e fico profundamente incomodado com esse tipo de gente, é um desrespeito à fé alheia. Pessoas que acham que o conceito de família só pode assumir uma única forma, negando a felicidade de muitos que só querem construir um lar e viver em harmonia com seus pares... enfim

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Eu entendo que, para um monte de gente, em função da criação, dos valores construídos, anos, décadas vivendo em função daqueles moldes sociais mais rígidos, seja muito difícil compreender tudo isso. Apesar disso, respeito é fundamental, e está em falta. Pessoas apanham, são assassinadas brutalmente por conta da cor da sua pele, sua orientação sexual, o deus, não deus ou deuses em que acreditam. A pessoa pode até acreditar em outra coisa, mas tenha a decência de respeitar aquele que pensa diferente.
Vivemos em um mundo onde está cada vez mais difícil imaginar duas pessoas que digam: "olha, eu posso até não concordar com você, mas respeito o seu direito de pensar diferente de mim". Mais do que difícil, isso está cada vez mais próximo do utópico

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Renan Dúnadan::Com todo o respeito, faço votos de um bom ano novo.
De um não-bolsonarista (é preciso dizer),
Obrigado pelo respeito, Renan. Igualmente, um novo ano de paz para você e para todos.
De outro não-bolsonarista (concordo, hoje em dia às vezes é preciso dizer. Que mundo louco, não é mesmo?).
Forte abraço,
Luis.