Antes de mais nada, um AVISO (você sabe que o bagulho é sério quando o jovem usa letra vermelha em capslock e negrito):
Eu não estou aqui para justificar se o preço desse jogo é caro ou não. Realmente não é esse o propósito do tópico. Esse vídeo excelente do jovem Studart pode ajudar o jovem leitor a entender melhor como a precificação de um jogo funciona:
É uma questão de perspectiva. Esse jogo é ridiculamente fácil de se reproduzir. É possível jogá-lo com um baralho comum, como indica o canal Shut Up and Sit Down nesse vídeo:
Dito isso, para o jovem entender o quanto esse texto de hoje é sério, eu não vou usar a palavra “jovem” ou derivadas nenhuma vez sequer, jovens!
Na verdade, jovens, a primeira vez que eu joguei esse jogo foi com dominós. Contexto:
Meu tio tem um karaokê em São Gonçalo, RJ. Eu sou um péssimo cantor. A única coisa que eu faço num karaokê, não importa que karaokê eu vá, é cantar Evidências - para desespero de todos no recinto. É uma questão de honra e tradição. Concluída minha missão, estava entediado, mas era aniversário dele, eu meio que tinha que ficar lá até o final da festa. Coisa de família. Por acaso tinha um conjunto de peças de dominó largadas num canto qualquer. Cheguei para os meus primos e ensinei-os a jogar Skull com as pecinhas de dominó. Os carroções eram as caveiras e as outras peças eram as rosas (já explico o jogo em detalhes mais adiante). Resumo da ópera: o karaokê virou uma noite de jogos. Mais especificamente uma noite de jogo. Não jogamos dominó naquela noite, jovens.
Quando eu descobri que esse jogo lançou no Brasil, eu tive que comprá-lo. Era uma questão de honra, assim como cantar Evidências no karaokê.
Eu não estou aqui para convencê-lo a comprar nada, jamais. Na verdade, não estou aqui nem para convencê-lo a ler esse texto…
Ah, que legal, você ainda está aqui, jovem! E eu nem precisei fazer nenhuma chantagemargumentação sólida e consistente desta vez. Que orgulho, jovem! Que orgulho ^^!
Skull é um jogo de blefe. Alguns dizem que é como pegar só a parte de blefe do Poker. Sinceramente, não sou muito fã de Poker, mas seguramente gosto de Skull (ah, não me diga?!). Também não sou muito fã de jogos de blefe (estou falando com você, Coup… “mimimi sou o Duque e pego 3 moedas” - vocês não têm ideia de quantas vezes eu ouvir isso, talvez vocês tenham… sinto muito, jovem… sinto muito, de verdade). Tentei gostar de The Resistance, mas é um lance pessoal e de grupo. Não nos adaptamos bem a esse jogo também. Aqueles jogos de vampiro e lobisomem, então, nem pensar… tem muito… eca.. tema… coff coff....
Eu tenho uma visão muito booleana sobre jogos de blefe. No fundo, você pode resumir tudo a duas opções: 0 ou 1, mentira ou verdade. Por isso, quando me interesso por jogos que envolvem blefe, eu prezo pela simplicidade. Não à toa, esse jogo é tão simples que pode ser reproduzido com quaisquer componentes substitutos.
Ok, jovem, além da simplicidade, o que me chamou a atenção nesse jogo? Bom, primeiro, você precisa ter uma noção de como ele funciona. Caso não saiba jogar, resumidamente funciona assim:
Ah, jovem, acontece que não faria sentido falar “biscoito de chopp”...
Se você coloca bolacha de chopp no google, você acha isso:
Se você coloca “biscoito de chopp”, você acha no máximo isso:
Fora que tecnicamente eu nem sou carioca, eu sou niteroiense, mas beleza, voltando.
Você tem quatro rodelas de chopp. 3 delas têm uma rosa e 1 delas tem uma caveira.
Uma rodada começa com todos os jogadores colocando um círculo desses de cabeça para baixo, sem revelar se é uma flor ou uma caveira. Dali em diante, os jogadores decidem se querem apostar ou colocar mais um redondo de cabeça pra baixo. Se ele colocar mais uma ficha, a vez passa para o próximo jogador que tem as mesmas opções. Isso vai se sucedendo até que, ao invés de colocar mais um biscoito de chopp (caveira ou flor) de cabeça pra baixo, um jogador decida fazer uma aposta:
O jovem desafiante então fala quantas fichas ele consegue desvirar sem acertar nenhuma caveira. Se assim ele o fizer, ele ganha um ponto. Quem ganhar 2 pontos vence a partida. Simples, não?
Eh.. mais ou menos, jovem, mas você não deixa de ter razão, de certa forma.
Você está tentando empurrar uma purrinha gourmet pra gente?!
Não, jovem, eu não estou vendendo nada aqui. Eu comprei o jogo porque eu quis, já vou chegar lá.
Ahem, voltando… Relaxa aí, jovem, eu ein?!
Voltando…
Depois que o jovem desafiante anuncia a purrinha, digo, o desafio, outros jogadores podem cobrir o seu lance como numa espécie de leilão, indicando um número superior de fichas que eles acreditam conseguir desvirar sem acertar nenhuma caveira. Quando ninguém mais subir o lance, o jogador vencedor deve cumprir com o que prometeu.
E é aí, jovens senhores, que esse jogo me ganhou. Um mero detalhe, um pequeno ponto de inflexão, mas que é significativo o suficiente para me fazer gostar desse jogo de blefe em particular, mas não muitos outros.
Quando o jogador vence o leilão, as primeiras fichas que ele tem que desvirar são as dele! (depois, ele pode escolher quais outras fichas desvirar, pode ser de mais de um jogador, desde que sejam sempre as fichas do topo das pilhas deles, mas antes de começar a virar as dos outros jogadores, primeiro ele tem que desvirar todas as dele² !)
Você não entendeu errado, jovem. Lá em cima eu falei que você pode colocar uma bolacha de rosa ou bolacha de caveira…. mas se sou eu que vou ter que desvirar as minhas bolachas primeiro, porque eu colocoaria uma bolacha de caveira… isso seria suicídio…. OHHH!!!
Sim, jovem, em outras palavras, às vezes, você joga “pra perder". Você joga na expectativa de que outro jovem cubra seu lance e encontre uma bomba no seu jardim!
Se você vence o leilão, você tem que desvirar as suas bolachas.
Se você colocou caveira, você é um idiota por ter anunciado o leilão.
Então é óbvio que você tem rosas aí.
Vou cobrir o seu lance!
Você não é mais ousado do que eu, então você peida fora!
Eu desviro as minhas fichas porque eu sou um cara honesto, um verdadeiro paladino branco da justiça. Super Xandão!
Desviro as suas fichas, porque você não seria otário de colocar caveira e anunciar um leilão e então, lucro!
O que você não esperava, jovem Xandão, é que o pequeno juvenil da bolacha havia colocado uma bolacha armadilha (você pensou em Yugi-Oh, que eu sei).
Ele previu todos os seus movimentos e jogou com o sangue frio de uma pessoa que abre uma caixa de Bis e só come uma unidade! Um verdadeiro sociopata! Que medo orgulho, jovem!
Ele com suas supremas habilidades de ator de suporte da Malhação conseguiu enganar o jovem Xandão e agora sua amizade está completamente abalada. Xandão não acredita em ninguém e perdeu a fé na humanidade! Valeu a pena, jovem bolacha da caveira. Valeu a pena.
Claro que você não vai sempre jogar para perder. Eventualmente você vai ter que deixar a zoeira de lado e virar umas rosas se você quiser ganhar o jogo, senão…
Lembra que eu falei que jogo de dedução para mim é na verdade um jogo de 0 ou 1, mentira ou verdade?! Acontece, jovem, que Skull pra mim é um jogo de 1 ou 0, um jogo de verdade ou mentira! (Uhh)
Relembrando, se você vencer dois rounds, isto é, se você consegue cumprir com o seu lance de desvirar todas as bolachas de rosas por duas vezes, você vence o jogo. Skull é um jogo muito rápido e dificilmente você joga uma partida só.
Se você por acaso virar uma caveira, além de frustrar sua tentativa de ganhar seu suado pontinho de vitória (que vale mais do que tudo nessa vida), você perde uma ficha aleatoriamente. Seus oponentes não sabem que ficha você perdeu, mas se você perder a caveira, você já perdeu a sua margem de blefe quando eles perceberem que você não tem mais a caveira para se defender, logo será uma presa fácil.
O jogo é “só” isso e cinquenta referências zoeiras que eu coloquei no meio do texto só pra te entreter. É isso, jovem, pode ir embora, tchau! Abraço…
Luis, além de você estar esquecendo dos prós e contras, você não respondeu a verdadeira pergunta desse tópico. Ok, você gosta do jogo, eu entendo, mas por que comprar o jogo de fato se você pode jogá-lo virtualmente com qualquer coisa?
Para ser muito sincero, jovem, além de, naturalmente, prestigiar o trabalho do autor, eu gosto da arte do jogo. É isso.
É isso?
Sim, é isso. Olha só.
Até a caixinha é legal, saca só .
Jovens, a grande verdade é que eu escrevi essaladainha toda exposição argumentativa para justificar a compra de bolachas de chopp bacanudas de rosas e caveiras. Todos os anos destinamos quantias consideráveis do nosso orçamento pessoal para alimentar o nosso hobby em comum. Compramos componentes de luxo, sleeves, inserts, jogos caros, acessórios em geral, enfim. O importante não é o quanto gastamos (desde que a gente não esteja fazendo mal a ninguém, ou a nós mesmos), mas sim estarmos perfeitamente conscientes daquilo que estamos fazendo…
Mas então porque se justificar tanto?!
Não estrague o raciocínio, jovem!
Uhh… tá estressado…¬¬
Voltando. Não é pelo valor da coisa em si, mas o quanto que aquilo te faz feliz. Skull é um jogo que me fez escrever essa bobagemhomenagem toda ao autor do jogo e ao jogo propriamente dito. Se esse jogo é pra você ou não, só tem um jeito de descobrir, jogue-o. Pegue cartas de baralho, qualquer coisa do tipo e descubra. Se você acha que deve comprá-lo de fato ou não, é só você que sabe e não cabe a ninguém mais julgá-lo por isso.
Vamos aos prós e contras:
Prós:
- Com muito pouco, o jogo proporciona decisões muito interessantes, ainda que simples; um verdadeiro exercício de teoria dos jogos (eu sei que ele sabe que ele sabe que eu sei que ele sabe que ele sabe que eu sei que ele sabe que ele sabe que eu sei que ele sabe que eu sei…);
- Facílimo de ensinar e partidas rápidas com setup instantâneo;
- Acessível (falando do conceito do jogo em si, não necessariamente do jogo produzido);
- Arte linda;
Contras:
- Ele pode ser caro, de acordo com o seu critério de valor de jogo por componente e não pelas ideias em si, mas isso depende de você (veja o “Acessível” acima);
- Ainda não aconteceu com as minhas bolachas, mas dizem no BGG que, a depender da intensidade (leia-se violência) com que as pessoas jogam esse jogo, as bolachas podem ficar marcadas, o que estraga completamente a ideia de um jogo de blefe. Naturalmente, são bolachas de papelão. A qualidade é padrão, mas ainda assim estamos falando de papelão. Sinceramente, jovens, eu sou um dos caras mais frescoscuidadosos do mundo com meus componentes, mas isso não é o tipo de coisa que me incomoda com esse jogo em particular. A essência desse jogo é ler os jogadores e não as cartas na mesa. Se você pensa em desvirar as bolachas olhando para elas, analisando, procurando detalhes, no intuito de obter uma certa vantagem competitiva, certamente você não entendeu a proposta real do jogo e, portanto, esse jogo definitivamente não é pra você.
Olá, jovens. Não, eu não voltei, mas voltei. Começamos bem, super claro. Reformulando, vamos lá.
Ainda estou mega enrolado com as coisas da faculdade e a produção de textos para cá segue em segundo plano (ainda que particularmente eu goste mais de escrever aqui do que nos textos científicos, mas enfim, não é assim que funciona a vida).
Estou escrevendo alguns textos em paralelo, jogos como Tash-Kalar e Friday estão confirmados para ser analisados na Season 2. Esse era pra ser um deles, mas como encontrei um tempo livre hoje e o jogo foi recém lançado por aqui, decidi agilizar um pouco as coisas, assim como a sua publicação para quem sabe ajudar (ou não) as pessoas a decidir se esse jogo é ou não para elas.
Considerem isso um preview. Jovens, Canal do Luis Perdomo, Season 2 - Ep. 0: Skull.
A gente se vê por aí.
Eu gostaria de saber com que frequência você clica nos hiperlinks e lê os comentários escritos propositalmente com coloração mais clara. Se você leu e/ou clicou no hiperlink dessa mensagem, por favor comente no final do seu comentário normal, porém em fonte clara só de sacanagem, hahaha.
frankhiromi::Hummm... interessante, vou testar o jogo aqui. Ele roda bem com quantos jogadores?
Eu estou achando que você comenta em seus posts só para não ter risco de ninguém falar "first!"
Particularmente prefiro ele com 4~5 jogadores. Com 3 eu acho que falta um pouco de sustância e com 6 eu acho um tanto fora de controle.
E pensar que quase não li a sua mensagem em branco. Eu pensei em comentar aquilo logo em seguida porque era offtopic, era mais relacionado ao canal do que ao post em si. Se alguém que só quer saber do jogo, mas não tá ligando pro canal, lesse a mensagem em meio ao texto principal iria ficar boiando. Haha
Entendo o motivo do tópico. Ainda mais quando se gosta do jogo. Mas tenho certa (muita???) birra quando o assunto é o criador e não a criatura (mais uma vez entendo que esse post, especificamente aborda a criatura).
Tenho essa birra da literatura, e ela ficou ainda mais forte na graduação de história. Me ataca os nervos dizer que "a obra do fulano é fundamental", e que tudo precisa ser digerido e apreciado ( no entender da academia; no meu entender é engolido mesmo). Ler um determinado livro porque é de Machado, Foucalt, Sartre, Tolstói, Dostoiévski ou Marcel Proust, mesmo que seja um livro chato, pedante, e desnecessário, é o mesmo que comer jiló e quiabo, mesmo sendo um trem ruim demais!
Mas o desabafo nada tem a ver com o objeto principal do tópico. Fica só pra encher o saco de quem lê. E, como sempre, o jeito do autor desta pérola é uma flor num mar de lama de canais nas ludopédias da vida!
adolfocaetano::Entendo o motivo do tópico. Ainda mais quando se gosta do jogo. Mas tenho certa (muita???) birra quando o assunto é o criador e não a criatura (mais uma vez entendo que esse post, especificamente aborda a criatura).
Tenho essa birra da literatura, e ela ficou ainda mais forte na graduação de história. Me ataca os nervos dizer que "a obra do fulano é fundamental", e que tudo precisa ser digerido e apreciado ( no entender da academia; no meu entender é engolido mesmo). Ler um determinado livro porque é de Machado, Foucalt, Sartre, Tolstói, Dostoiévski ou Marcel Proust, mesmo que seja um livro chato, pedante, e desnecessário, é o mesmo que comer jiló e quiabo, mesmo sendo um trem ruim demais!
Mas o desabafo nada tem a ver com o objeto principal do tópico. Fica só pra encher o saco de quem lê. E, como sempre, o jeito do autor desta pérola é uma flor num mar de lama de canais nas ludopédias da vida!
Sim, jovem. Você pegou a essência da coisa. Sinceramente, também detesto essa sobreposição do autor em relação à obra. Não é porque a pessoa é um destaque em seu meio que necessariamente todo os seus trabalhos sejam bons e mereçam ser citados. Isso é muito frequente no meio acadêmico.
Voltando para o jogo em si, de fato, apesar do título, o texto é sobre o jogo. É um jogo que eu já havia jogado de forma improvisada por não ter uma cópia oficial e quando lançou no Brasil, decidi que era hora de recompensar o autor pelos momentos de entretenimento que ele me proporcionou.
Interessante você colocar o "feito em casa" na falta de um produto nacional. Fiz muito isso. No Facebook tem um grupo chamado Homemade Board Game, onde o pessoal compartilha arquivos para PNP; mas tem uma norma dizendo que é proibido o compartilhamento de jogos publicados no Brasil. Acho válido. Sei que via ter muita gente jogando pedra, reclamando que "importa o jogo, que vende jogo importado, que é errado", blá-blá-blá.
Mas, num país onde os jogos parecem "querer" custar um salário mínimo (jogos custar 1000,00 reais, independente da justificativa, é uma obscenidade), um garotão imprimir umas cartas e colar umas folhas A4 num papel paraná não me parece tão absurdo assim! Eu já fiz jogo e, depois dele lançado no Brasil, com preço próximo do razoável pra nossa realidade, comprei.
Boa iniciativa.
adolfocaetano::Interessante você colocar o "feito em casa" na falta de um produto nacional. Fiz muito isso. No Facebook tem um grupo chamado Homemade Board Game, onde o pessoal compartilha arquivos para PNP; mas tem uma norma dizendo que é proibido o compartilhamento de jogos publicados no Brasil. Acho válido. Sei que via ter muita gente jogando pedra, reclamando que "importa o jogo, que vende jogo importado, que é errado", blá-blá-blá.
Mas, num país onde os jogos parecem "querer" custar um salário mínimo (jogos custar 1000,00 reais, independente da justificativa, é uma obscenidade), um garotão imprimir umas cartas e colar umas folhas A4 num papel paraná não me parece tão absurdo assim! Eu já fiz jogo e, depois dele lançado no Brasil, com preço próximo do razoável pra nossa realidade, comprei.
Boa iniciativa.
Sim, concordo. Já fiz vários print and play. Sempre de jogos que não tinha como acessar aqui. Nas duas vezes que eles chegaram ao Brasil, eu comprei o jogo oficial, que foram "No Thanks" e o próprio "Skull".
Em alguns lugares vejo gente vendendo o print and play do jogo, isso eu já acho errado. Já vi até no mercado livre gente vendendo jogo impresso de forma caseira. A pessoa que fez o PnP para jogar um jogo que ela não conseguiria importar porque é muito caro já não ia comprar o jogo original de qualquer jeito. Ela não deixou de comprar o jogo porque o PnP é mais barato. Ela muito provavelmente só fez o PnP em casa porque o original é inviável, mas é óbvio que ela preferiria ter o original se pudesse. Agora, outra pessoa se aproveitar do fato para lucrar em cima da propriedade intelectual dos outros é no mínimo criminoso.