Jogos de tabuleiro Moderno e a Educação
Uma realidade corrida e frenética esconde muitas vezes a beleza da vida. Seguimos desconectados do mundo a nossa volta e conectados a um mundo virtual deveras atraente. Posso apostar que em diversas ocasiões você possa ter ouvido que o tempo passa hoje mais depressa. Talvez possamos julgar o tempo dedicado ao tão, tão distante universo imaginário da internet como tal devorador de horas.
Não se engane pois não condeno o encantador e o ilusionismo proposital nas redes. O que proponho é recomeçarmos a reparar o belo exatamente ao seu lado. Longe desta proposição está o objetivo ingênuo de mostrar uma realidade perfeita, porém podemos ver com melhores olhos, daqueles que conseguem entender o admirável neste mundo louco.
Antes que desfoquemos de vez falando de muitas coisas que cativam a medida em que as redescobrimos, podemos refletir sobre a convivência pessoal. O isolamento social imposto pela pandemia mundial no ano de 2020, trouxe consigo a busca de maneiras de viver e conviver. Cada família a sua maneira, processou este momento da maneira que foi possível. A nossa, entre outras práticas, revisitou os jogos de mesa. No entanto, em uma breve pesquisa na rede, conseguimos enxergar uma variável imensa dos ditos “board games” ou como Suassuna poderia puxar minha orelha, chamamos de jogos de tabuleiro modernos. Um mundo de entretenimento desligado da tomada.
Existem diversos temas, inúmeras mecânicas, diferentes categorias envolvendo uma extensa faixa etária que certamente te encantarão. Envolvendo criatividade, raciocínio lógico, estratégias que retiram definitivamente você do seu quadrado.
Habituados aos facilmente encontrados jogos tais como o Jogo da Vida e Banco Imobiliário, que a sorte é a desencadeadora do desenrolar da partida, percebemos a imensidão de possibilidades que se pode gerar com essas propostas incomuns.
Pode parecer novo este passatempo, porém durante várias décadas passadas eles já existiam. Temos como exemplo de algumas condecorações, o famoso prêmio alemão, o “Spiel des Jahres” . Criado no ano de 1978 exatamente para prestigiar o trabalho dos criadores e desenvolvedores destes passatempos notáveis, ele se divide em três categorias: os jogos para a família (Spiel des Jahres), jogos infantis (Kinderspiel des Jahres) e os mais complexos, os jogos expert (Kennerspiel des Jahres).
Vale destacar o Brasil neste contexto, com um mercado ascendente de editoras de jogos, organizações de eventos temáticos e projetistas. Vale conferir.
Gostaria de compartilhar algumas considerações de alguns jogos que tivemos a oportunidade de conhecer.
TAKENOKO
Este jogo atrai pela sua graça e beleza. Impossível ficar alheio aos encantos dos componentes do Takenoko. Desde as suas cartas de objetivo ao Pandinha que dispensa apresentações. No entanto, existe um contexto e uma história do imperador chinês que ofereceu o urso panda gigante ao imperador japonês como um símbolo de paz. Cada jogador simboliza um membro da corte que tem a árdua missão de alimentar o urso e cultivar o jardim de bambus.
Cada um, precisa administrar seus objetivos que ora necessitam fazer o bambu crescer, ora precisam levar o panda para devorá-los. Unindo estratégia a médio prazo, raciocínio lógico e uma dose de sorte, este jogo ainda traz uma paz como talvez se você mesmo estivesse ali cuidando deste lindo jardim. Jogo extremamente gostoso de jogar incentiva a concentração e o foco e de bônus, a contagem dos pontos finais ainda incentiva o cálculo mental e associação de números complementares para a soma. Sim, podemos trabalhar a matemática com os jogos!
Funciona para um intervalo extenso de idade. Minha filha tem 9 anos e ela aprendeu e joga facilmente.
Serenidade, de fato, é o que este lindo “board game” proporciona.
POTION EXPLOSION
Fazemos parte de uma Escola de Magia onde manipulamos artefatos e ingredientes fabulosos para elaborar diversas poções mágicas. Para os fãs da saga Harry Potter (aí me incluo), a homenagem é clara, visto que no próprio manual de instrução, cita o nome do professor “Alvo Soumelhor”, uma ligação com o professor de Hogwarts, Alvo Dumbledore.
Com componentes coloridíssimos, ainda apresenta um espetacular dispositivo onde são colocadas espécies de bolinhas de gude que em uma pequena rampa ligeiramente na diagonal, libera sob a gravidade as bolinhas em série à medida em que são retiradas. Estas pequenas esferas, representam o componente das poções e através da explosão destas, ou melhor, o encontro de duas com a mesma cor a medida em que a primeira foi retirada, o aluno pode retirar para formar sua própria combinação para coletar poções que poderá usufruir futuramente. Cada uma tem a sua especialidade e ajudará na obtenção das próximas, fazendo assim com que os alunos recebam medalhas do professor e como bom aluno, aquele que tiver mais boas notas, ganha o jogo.
Como havia mencionado anteriormente, os jogos estimulam a contagem de pontos mentalmente, estimulando as associações de números para facilitar a soma. Por exemplo, a criança percebe que os números 4 e 6, 3 e 7 somados formam o 10, ao mesmo tempo que 11 e 9, resultam em 20 pontos. Evoluindo para somas maiores que desenvolvem o entendimento da multiplicação.
Por outro lado, começa a desenvolver o raciocínio de estratégia a medida em que precisa estabelecer jogadas que podem se tornar eficazes apenas após algumas rodadas assim como a consequência de tomadas de decisões equivocadas podem o levar a perder o jogo.
Estes dois exemplos, não mostram uma mecânica bem interessante de cooperação, que é o caso do jogo Bandido. Nele, todos os participantes tentam evitar que o ladrão (personagem do jogo estampado na carta inicial) consiga escapar. Esta maneira de brincar, desperta o trabalho em grupo e colaboração coletiva onde todos ganham ou perdem juntos. Aliás, o próprio exercício de perder um jogo pode ser entendido como uma bela oportunidade de aprendizado. E isso se torna muito fácil com estes incríveis passatempos: a imersão nos temas é tão agradável, que ganhar o jogo se torna um bônus singelo.
Outros jogos, por exemplo, como o Dixit, muito recomendado para quem quiser conhecer este mundo, desenvolve a imaginação a medida em que para cada carta escolhida devemos associá-la a uma frase, música ou o que vier a mente. As cartas consistem em imagens belíssimas de diversos ilustradores que estimulam a criatividade. Os outros participantes precisam descobrir qual é a carta do jogador da vez de acordo com sua associação inventiva. Uma prática bem interessante poderia ser talvez, as crianças desenvolverem suas próprias ilustrações e jogarem seu Dixit personalizado, por que não?
São infindáveis as possibilidades de uso na educação de qualquer idade dos jogos de tabuleiro. Desde o respeito mútuo em uma competição à colaboração para dar as mãos e vencerem juntos. Podemos trabalhar matemática, gramática, filosofia, história, artes, entre muitas outras possibilidades. Um jeito criativo e lúdico para trazer encanto à sala de aula. Um mundo realmente fascinante que faz o tempo passar mais vagarosamente na companhia das pessoas que você ama.