Caro Leonardo Araújo
Eu inicio pedindo perdão pelo longo texto, mas para mim, começar a escrever é fácil, o difícil é conseguir terminar. De todo modo, antes de te responder, e necessário fazer uma ressalva aqui, que é o "Dixit", porque na minha opinião, absolutamente nenhum jogo se compara a ele, no quesito, “apresentar o hobby para quem não conhece”. Eu já vi pessoas não gostarem do “Coup” ou do “Love Letter” porque foram eliminadas muito cedo e tiveram que esperar o final da partida, pessoas que não gostaram do Zombicide porque apesar de divertido o jogo é longo demais, ou pessoas não gostarem do “The Resistence”, por serem mais tímidas e menos articuladas, e também por acharem o jogo muito confuso, no meio daquela característica gritaria bem humorada. Porém eu nunca vi alguém que não gostasse do “Dixit” logo de cara, independente da idade, do nível de maturidade ou do grau de instrução. O “Dixit” agrada desde o netinho até a vovó, e mesmo os meus amigos e familiares, que não curtem muito board games, gostam do “Dixit”. O único possível problema, se é que isso pode ser visto como um problema, é que depois que você coloca o “Dixit” na mesa, fica difícil convencer as pessoas, a experimentarem outros jogos.
Indo além, sou capaz de afirmar que muitas namoradas, noivas e esposas, começaram a jogar board games, porque seus respectivos queridos tiveram o tino de apresentar esse jogo, mais ou menos naquele esquema, “amorzinho, primeiro a gente joga o Dixit, depois a gente joga aquele meu jogo”. Então para mim o Dixit já extrapolou o mundo do board games, e merecidamente ocupa a condição de “hors concurs”.
Dito isso, eu gostaria de salientar também que o tipo de gateway está muito ligado à idade do publico alvo, porque é difícil um jogo funcionar num espectro muito amplo de faixa etária. O Carcassonne, por exemplo, que pode funcionar com pessoas de mais idade, talvez não seja tão atrativo para adolescentes, que talvez o achem muito parado, ou para crianças menores que talvez tenham dificuldade de entender as regras. Eu não sei quanto ao resto de vocês, mas foi essa a minha experiência, na apresentação do hobby para novos jogadores.
Por isso, eu peço vênia, ao autor do tópico, para dar uma leve trapaceada e apresentar duas opções de jogos gateway para três faixas etárias diferentes: crianças, adolescentes e adultos. .
Para crianças, eu acho que, em termos de gateway, os melhores são o “6 nimmt” ou ”Pega em 6” e o “Dead Man’s Draw (pena que esse último já tem um tempo que está esgotado, e com poucas chances de reprint). Esses jogos têm em comum a ausência de texto, e regras muito simples, em que todos os jogadores fazem a mesma coisa, e nesse caso o adulto pode ir controlando o jogo, sem estragar a experiência. No caso do “Pega em 6”, a criança só precisa escolher uma carta e baixar, enquanto que o “Dead Man’s Draw” o jogo é aberto, e mesmo que a criança não decore o que cada carta faz, o adulto pode sempre dar uma força, apresentando o leque de opções, à disposição da criança.
Quanto aos adolescentes, não tem jeito, minhas sugestões de gateway são o “King of Tokyo” e o “Zombicide”, porque, via de regra, o pessoal dos hormônios e espinhas, não está nem aí para estratégia, tática, regras, elegância, nem nada, o que eles curtem mesmo é dar tiros em zumbis, e distribuir sopapos entre a galera, e nisso tanto “Zombicide”, quanto “King of Tokyo” são excelentes.
No caso dos adultos, meus “jogos de entrada” fundamentais, como não podia deixar de ser, são o Ticket to Ride, pela simplicidade das regras, e o “Stone Age”, que apesar de um pouco mais complexo, ainda assim é simples o suficiente para uma pessoa aprender na hora, e se sair razoavelmente bem, durante a partida. O "Stone Age" ainda tem o mérito de ter mostrado a muita gente, que os jogos “euro” não são esse “bicho de sete cabeças” todo, e que também não precisam de anos de board game para começar a pensar em jogar.
Para terminar faço aqui duas menções honrosas (para vocês verem como eu curto “force a sua sorte”), que são o “Carcassonne”, que perdeu a indicação para o “Stone Age”, porque eu considero esse último verdadeiramente imbatível, no quesito alocação de trabalhadores, e a segunda menção vai para o “Spyfall”, que apesar de ser um gateway excelente, na minha experiência, não foi tão bem sucedido no caso das crianças, porque nem todas pegavam todas as referências dos lugares e às vezes precisavam de um adulto para explicar isso, e também não funcionou tão bem com adolescentes e adultos, como as demais indicações.
No mais, parabéns pelo excelente tópico e vídeo.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio