Em uma sociedade livre, as pessoas tem o direito de vender aquilo que possuem pelo preço que acharem adequado. Se eu possuo uma unidade do Pueblo (Kiesling e Kramer) e resolvo vender por R$ 5.000,00, e alguém comprar, em tese nçao há nada de errado nisso. O problema é o impacto que o superfaturamento dos preços causa no mercado. E isso afeta a todas as pessoas, mesmo aquelas que não participaram do negócio relatado acima.
Se os jogos ficam cada vez mais caros, obviamente a escala da produção acaba diminuindo a longo prazo. Isso porque preços cada vez mais caros são um dos principais fatores que impedem a expansão do mercado consumidor. Isso afeta o reprint de jogos OOP, afeta a publicação de expansões, isso afeta o investimento em maquinário para melhorar a produção nacional, e por aí vai.
O Gloomhaven foi anunciado na pré-venda por R$ 1.000,00 e esgotou em algumas horas. O resultado disso é que, obviamente, as editoras vão gostar da contra-dança e vão subir o preço dos outros jogos, afinal sempre tem quem pague. Assim, enquanto nós boardgamers nos comportarmos como colecionadores, é assim que seremos tratados pela indústria. O Renato Simões da orc'n'geeks fala sempre que o nosso problema é a escala, pois nossa produção doméstica é de poucas cópias. Mas não tem como produzir jogo, em grande escala, cobrando R$1.000,00.
Veja o caso do Dixit, a expansão vem com 150 cartas e custa em média R$200,00. Pelo amor de Deus, é papel, basicamente isso, papel. Aí as editoras dizem, mas nós temos de produzir na China, por conta do contrato com a editora gringa. Perdão, mas eu não posso acreditar, que uma editora vai deixar de vender um jogo em um país continental,e que tem um povo gregário, festeiro como o Brasil, com uma população de 210 milhões de habitantes, só porque nós queremos produzir o jogo nacionalmente.
Isso sem falar que a Copag é uma das maiores produtoras de baralhos do mundo, e que a Grow tem um parque gráfico industrial monstruoso. E aí não é preciso pagar frete internacional, não é preciso desenrolar na aduana, não se fica atrelado ao dólar, etc. A Copag produz o " na Uno" e vende a R$ 15,00 em tudo que é loja americana. Se o Uno custasse R$ 70,00, como custa o "Coup", é claro que ele não venderia a mesma coisa. E aí eu me pergunto, se a Copag pode imprimir o "Uno", e vender a R$ 15,00, porque ela nçao pode fazer a mesma coisa com o "Coup", ou com o "The Resistence" que custa R$ 120,00. Isso não é feito porque sempre vai ter gente que pague R$ 70,00 no Coup, e R$ 120,00 no "The Resistence". A Redbox resolveu produzir o Tsukiji na China, o navio que vinha para o Brasil deu problema, e o da Argentina e da Alemanha não, no final das contas os que bancaram o kickstater foram os últimos a receber, e a situação ficou tão ruim que a editora até mudou de nome, de tão queimada que a marca ficou. Se tivessem produzido o Tsukiji na Copag, nada disso tinha acontecido. Mas como nós boardgamers tupiniquins só aceitamos jogos se os mesmos forem produzidos no mesmo lugar onde se produz o internacional, ou seja, se a cor da carta vier um pouco mais clara u um pouco mais escura, se a carta vier um pouco mais brilhosa ou um pouco mais fosca, todo mundo corre para dizer que a produção ficou um lixo, então o nosso destino é esse mesmo, continuarmos pagando R$600,00, R$ 800,00, R$ 1.200,00, em um jogo. Isso quando o jogo é produzido aqui, e nós não temos de importar e pagarmos 200% de imposto.
A lei de oferta e procura é muito clara e funciona no mundo inteiro. Enquanto tiver gente pagando R$ 600,00 em um jogo de tabuleiro, as editoras vão continuar vendendo jogos a R$ 600,00. Então ou nós consumidores começamos a valorizar o nosso dinheiro e pressionamos as editoras a produzir jogos nacionalmente e mais baratos, ou nós vamos continuar mantendo o nosso hobby como coisa de uma meia dúzia de extravagantes, que não têm lugar melhor onde gastar o seu dinheiro.
Pelo menos é assim que eu penso.