Por que jogo?
Não sou mais um guri. Já passei por todo tipo de fases que a vida adulta te impõe: me graduei, fiz mestrado, trabalhei na iniciativa privada, fui professor, comprei um carro, comprei um apartamento, casei, passei num concurso público... ufa! Só de pensar no passado sinto um misto de nostalgia, auto realização, e cansaço. Mas uma coisa, felizmente, sempre me acompanhou em todas estas fases da vida: os jogos.
Como a maioria das pessoas do hobby (creio eu), nunca fui do tipo esportista e nunca gostei de futebol. No máximo, quando criança joguei umas partidas de futebol de botão (posso considerar isso um board game genuinamente nacional?). Mas todos os outros tipos de jogos eu tive a felicidade de conhecer. Creio que muitos começaram com jogos clássicos como Xadrez, Checkers ou Ludo. Comigo não foi diferente, na minha infância costumava jogar na casa de amigos estes jogos, juntamente com Banco Imobiliário, War e Jogo da Vida. Não me lembro de ter tido um jogo destes quando era pequeno.

Videogame sempre esteve no meu sangue. Tive, e ainda tenho, vários. O ATARI explodiu minha mente na década de 80, e outros, alguns anos depois. Videogames tem uma série de vantagens aos amantes de jogos, principalmente a possibilidade de jogar solo. Ainda acho estranho jogar boardgames sozinho, acho que vai na contramão de uma das melhores facetas do hobby que é a coletividade.
Na metade dos anos 90, vi uma matéria na revista Veja (acho que foi lá, ou Superinteressante, realmente não lembro) sobre os jogos de RPG. Acho que aquele momento foi um divisor de águas, comecei a buscar a informação nos meios que tinha disponível. Note que esta época não tínhamos Internet e o nosso “Google” era a biblioteca pública ou a banca de revistas mais próxima. Meu avô era jornaleiro, e eu costumava ler muito.
Chegamos até o
HeroQuest. Hoje, analisando friamente, não era um RPG como o
Dungeons & Dragons Basic Game ou
GURPS - Módulo Básico. Estava mais para um boardgame. Talvez seria o Hero Quest o meu primeiro “board game (não tão) moderno”?
O Hero Quest ficou esquecido um tempo, depois que a GROW lançou o Dungeons & Dragons. Aí caí de cabeça no RPG, acho que joguei quase tudo que chegava aqui em Floripa. Vivia (e ainda vivo) frequentando a loja Dragons House, que permanece firme e forte como a loja mais antiga da região. O dono da loja acabou virando meu amigo.
Na Dragons House, no final da década de 90, tivemos a febre do
Magic: The Gathering. Sim! Eu tive esse vício e superei (não, não encontrei Jesus)! Na verdade não durou muito (acho que fui até a edição do Terras Natais), na época era estagiário nível médio e não podia gastar toda a grana necessária para manter a droguinha.
Passei por uma fase de colecionáveis como o
Mage Knight (o original, não o jogo do Vladinha) e joguei muito e investi pesado num card game (já extinto) chamado
Warlord: Saga of the Storm (cheguei a ganhar um campeonato local!).
Cheguei a ter o (infame)
Munchkin da Devir, na época fez bastante sucesso com o meu grupo de RPG da época. Também tive neste período uma fase de jogador de War.
Acho que a entrada oficial, embora tímida, para os boardgames modernos foi em 2009 quando estive em um mochilão na Europa. Conheci uma loja lá em Madri chamada Atlantica Juegos (acho que é uma rede de loja de jogos) e fiquei maravilhado. Ah, se tivesse o conhecimento dos jogos que tenho hoje... mas era outro tempo, era um jovem e inexperiente padawan. Acabei levando várias expansões de Munchkin (shame!), o Hombres Lobos de Castronegro (que é a versão original do
The Werewolves of Miller's Hollow),
Paparazzi (um party game vergonhoso sobre celebridades peladas) e o
Catan Dice Game.
No ano seguinte, em 2010, tive um artigo acadêmico aprovado em um congresso nos EUA, aproveitei e visitei a Toys Are US e a Barns and Nobbles (estava na capital do Arkansas e não achei nenhuma loja mais específica). Mas valeu a pena, comprei dois jogos pequenos da Gamewrite:
Castle Keep e
Ka-Ching!, e um jogo com lindíssimas miniaturas (mas um jogo bem regular) o
Halo Interactive Strategy Game.
Nesse meio tempo comprei uma coisa aqui e acolá nas lojas da região, como o péssimo
Zombies!!! e o bom (embora datado)
Illuminati.
Em 2012, minha namorada da época (e atual esposa) me presenteou com um
Catan. Esse foi o que arrombou o meu cérebro. Mal sabia eu, que um ano depois, este jogo definiria o meu (e o da minha esposa) estilo preferido, os “eurogames”.
Com o começo da enxurrada de jogos gringos chegando no solo brazuca, entre 2012 e 2013, acabei comprando vários:
Talisman, Summonner Wars, GOT card game, etc. O espaço para guardar os jogos começou a ficar pequeno. Minha sorte foi que comprei um apartamento novo e deixei um quarto só para guardar jogos!
Em 2014 comecei a fazer parte do, originalmente, grupo de jogos Onboard, antes de ser essa referência nacional sobre BG. Aprendi e conheci muita coisa lá. E este novo grupo que conheci de pessoas tão, ou mais, apaixonadas pelo hobby quanto eu. E isso fez a minha coleção quintuplicar de tamanho. O Onboard virou uma entidade, e foi muito legal o tempo que passei lá escrevendo resenhas, participando de encontros e mesmo gravando alguns vídeos. Fiz grandes amigos no grupo, alguns que jogam semanalmente comigo.
Hoje não faço mais parte deste seleto grupo por motivos pessoais. Mas mantenho as minhas amizades, já que é uma das coisas mais preciosas deste hobby.
Hoje comecei, junto com a minha esposa, a investir no game design. Vamos tentar, temos algumas ideias boas que, quem sabe, não aparecerão na comunidade em breve?
Bom voltando ao título deste post: “Por que jogo?”
Jogo porque é uma atividade que me traz uma satisfação intelectual, que me fazem fugir do terrível mundo real. Jogo, porque enquanto estamos imersos numa partida, as pessoas se tornam jogadores e o mundo só é limitado pelas regras do manual, esquecemos nossos problemas. Jogo porque conhecemos pessoas interessantes. Jogo porque forjamos
amizades.
E você? Qual a sua história? Por que você joga?