Em 2017, foi lançado Kitchen Rush, um jogo que, para mim foi um golpe de mestre. Além do sucesso dos diversos programas estilo MasterChef e do Overcooked, aquele joguinho de videogame extremamente divertido, a ideia de simular uma cozinha em tempo real era muito bacana, desde que a pessoa não tenha Toc com jogos caóticos e diversas mãos correndo pelo tabuleiro.
Porém, uma das maiores críticas ao jogo era sua dificuldade extremamente elevada. Isso pode ser visto tanto na ludopédia quanto no BGG. O fato do salário de CADA AMPULHETA ser 3 moedas (o que resultavam em 27 moedas por turno numa partida de 4 jogadores) e o fato de que pratos davam poucas moedas (geralmente apenas o suficiente pra pagar o próprio salário, resultando em ter que cozinhar uns 6 pratos por turno, o que é BEM difícil), tornava o jogo algo extremamente punitivo e não divertido. Não adianta ter cartas de melhoria disponíveis para compra. Ampulhetas extras para comprar. Simplesmente não há dinheiro para nada disso, mesmo no modo mais fácil. A briga era até para comprar os alimentos.
E isso nos trás a Rush M.D.
Ao contrário do que geralmente faço, não vou me aprofundar muito em detalhar as regras deste jogo. Ele é basicamente uma simulação de hospital em tempo real. As ampulhetas são divididas entre médicos (uma para cada jogador) e enfermeiras (quatro disponíveis, que podem ser utilizadas por qualquer um).
Tabuleiro montado com as camas lá no fundo.
Existem funções exclusivas de médicos e de enfermeiras, enquanto algumas podem ser utilizadas por ambas as ampulhetas.
Como num hospital, há a entrada dos pacientes, que são divididos em dois montes, os pacientes regulares com queixa comum e os graves, que valem mais pontos.
Quando uma enfermeira faz a ação de triagem, compra de 1 a 3 cartas de quaisquer dos montes, em qualquer combinação.
Se o paciente for regular, em sua própria carta tem a medicação que ele precisa receber. Basta colocar um médico ou enfermeira no espaço correto para aplicar a medicação.
Pacientes regulares após receber suas medicações.
Já se o paciente for grave, é necessário primeiro arrumar um leito para ele. E ai está a graça do jogo. O paciente no leito pode ter uma ou mais queixas, que precisam de um exame antes de serem diagnosticados e terem o tratamento correto.
Se o paciente precisar fazer um raio-x, existe um mini game para isso: cartas que simulam um raio-X e o jogador precisa encontrar a correta para o paciente.
Para exames de doenças infecciosas, é necessário “coletar uma amostra” que basicamente é ver um tipo de vírus numa carta e comparar com diversos tokens, tentando achar a correspôndencia.
Para doenças autoimunes, é necessário rearranjar cubos vermelhos e brancos, que deve simular algo como uma cadeia de DNA, na ordem correta mostrada na carta. Os tokens devem ser rearranjados usando uma pinça, o que deixa tudo mais difícil.
E por fim, existem doenças que necessitam de um Scan, na versão do kickstarter, recebemos um Scanner de papelão e precisamos passar o paciente ali pelo meio, sem derrubar a ampulheta de cima da peça. Já na versão retail, a ampulheta deve ser equilibrada em cima da cama do paciente (o que me aparenta ser bem mais difícil). Em qualquer dos casos, se a ampulheta cair, é necessário começar tudo de novo.
Obviamente, enquanto tudo isso ocorre, é necessário fazer ações na farmácia para pegar novos medicamentos, seringas ou bolsas de sangue, entre outros.
Alguns pacientes também necessitam de cirurgia (isso vai aparecer na carta de diagnóstico). A ideia aqui é levá-los para o centro cirúrgico e lá aplicar toda a medicação e troca de órgãos necessárias. Aqui, é necessário uma destreza bem grande, pois todas as medicações, órgãos, etc, devem ser pegos com uma pinça e colocados na carta do paciente. Inclusive, os cubos de medicação devem ser colocados dentro das seringas com a pinça, o que é algo extremamente difícil e pode esperar por pecinhas caindo da mesa.
Pacientes se recuperando em seus leitos. Um, precisou apenas de medicação. O outro, passou por cirurgia.
Tanto no centro cirúrgico quanto nos pacientes que aguardam em seus quartos, há possibilidade de infecção, contaminando todos os pacientes no mesmo andar (são dois andares) e fazendo com que, fora o tratamento para sua doença convencional, ainda devam receber tratamento extra para combater o vírus infeccioso.
Ao final do turno, verificamos se os pacientes receberam o tratamento adequado (exatamente o descrito na carta) em caso positivo, pontuamos este paciente. Se o paciente recebeu o tratamento correto E alguma medicação excedente, ele é curado, você ganha os pontos de vitória, porém perde “pontos médicos” uma espécie de pontuação inversa, que começa com um valor alto e vai diminuindo conforme erros ocorrem, sendo que se chegar a zero os jogadores perdem. Caso o paciente não tenha recebido o tratamento correto (ou tenha ficado na sala de espera) seu estado piora um nível (verde, amarelo e vermelho) o que faz perder mais pontos médicos e ocasionalmente levar a morte.
Paciente no centro cirúrgico, recebendo transfusão de sangue e arrumando algum osso quebrado.
Enfim, embora eu só tenha testado o jogo no modo solo e é óbvio ser um jogo para mais jogadores, a ideia é divertida, o jogo é lindo e imagino que jogar em mais pessoas seja extremamente gratificante, porém, numa própria resposta ao BGG, o designer confirmou que, como muita gente reclamou da dificuldade elevada do Kitchen Rush, esse ele fez mais fácil. O problema é que nos 3 objetivos que eu joguei (o primeiro no modo fácil e dois no modo normal), a dificuldade foi realmente mínima, com, uma rodada antes do fim do jogo eu já tendo cumprido todos os objetivos (assim como em Kitchen Rush existem cartas de objetivo diferentes para cada partida).
Talvez seja um jogo para jogar apenas no Hard. Alguns comentam inclusive que, dependendo do objetivo é possível vencer utilizando apenas as cartas azuis (pacientes que só precisam receber medicação e não são internados, não fazem exames, nem nada). O que tira metade da graça do jogo.
Já houve manifestação do designer de criar um modo “super hard” apenas aumentando os parâmetros necessários e diminuindo os pontos médicos de começo. Também senti falta de cartas “evento” que poderiam por exemplo deixar uma enfermeira doente e sem trabalhar, ou só receber determinados tipos de paciente, ou qualquer outra coisa que mudasse a resolução dos turnos. Porém, existem algumas cartas de “objetivo da rodada” que dão bônus ou ações extras, se os requisitos forem cumpridos naquele turno e isso dá sim uma variabilidade pra jogatina.
Ambulância do KS. Funciona mais como um Card holder de pacientes graves, mas é bonitinha.
De qualquer forma, não joguei ainda com mais gente, nem no modo hard, que provavelmente deve equivaler a um “modo normal” de qualquer outro jogo. Mas, para quem gostou de Kitchen Rush mas não havia curtido a extrema dificuldade, Rush M.D é uma excelente opção, com bem mais atividades diferentes para se realizar e de certa forma mais gratificante. Vale a pena conhecer e quem sabe alguma empresa trazer para o Brasil.
PS: Maior ponto negativo do jogo é que após camas, ambulância e scanner montado, quase nada mais cabe na caixa
