Escrita por: Rodrigo Neves.
Sinopse do Jogo:
Dragonscroll é um jogo temático de exploração, fantasia e um leve toque de humor. Os designers responsáveis foram os irmãos Gordon Lamont e Fraser Lamont, da Fragor Games, que já desenvolveram outros jogos como Snow Tails, Shear Panic e Poseidon's Kingdom. Publicado em 2014, aceita partidas de 2 à 4 jogadores. Foi um jogo de única edição, via financiamento coletivo. Uma partida do jogo dura de 50 à 120 minutos e possui baixa dependência de idioma, mais na leitura das cartas de história.
Curiosidade: Quase todo ano, a editora Fragor Games faz uma produção limitada de um jogo (em média 1000 cópias), sendo extremamente procurado pela produção magnífica de seus componentes e design original. Em 2011, foi lançado o Poseidon's Kingdom e a preorder daquele jogo acabou 11 dias depois de ser anunciada. Em 2012 lançaram Spellbound, cuja preorder não só acabou em 7 dias, como depois dessa resolveram não mandar mais para o Brasil. Em 2014, eles anunciaram o Dragonscroll, que novamente acabou a preorder em menos de 2 semanas. (Adaptado de um texto do Victor)
Objetivo:
Em Dragonscroll, os jogadores assumem o papel de dragões, cada um tentando se tornar o mais famoso na terra. Cada jogador tem um número de cartas de história, contendo tarefas para aumentar a sua notoriedade, caso elas sejam completadas. Durante seu turno, um jogador compra e coloca uma peça no reino. Estas peças podem revelar inimigos, como magos, elfos e orcs. O jogador, então, voa para um novo local antes de chover bolas de fogo em todos os inimigos desavisados, usando a torre para determinar a quantidade de hits em cada tipo de inimigo. No fim do jogo, o dragão com a história mais ilustre ganha.
Mecânicas:
- Colocação de Peças;
- Tabuleiro Modular;
- Administração de Cartas;
- Pegar e Entregar;
- Rolagem de Dados (Ou similar, em forma de bolas caindo em uma torre).
Componentes:
Um dos grandes pontos fortes em Dragonscroll são a originalidade e o primor no acabamento de seus componentes. Todas as miniaturas do jogo são em resina e pintadas à mão. Tiles e tokens possuem boa qualidade, e os meeples variados são de madeira.
As peças da torre de ataques possuem uma rigidez muito boa, ótimo acabamento e recorte, assim como encaixes precisos. Temos um manual de montagem exclusivo para ela. Depois de montada, é possível guardar ela separada em duas partes, o que agiliza o setup.
Todas as 4 miniaturas de dragões (uma para cada jogador) e as 5 miniaturas de vilas (uma para cada raça de inimigos em jogo) vem acondicionadas em caixas próprias, com divisórios e revestimento interno de isopor. Impressiona pelo capricho e cuidado.
Os 64 tiles de terreno possuem em seu verso a imagem de um vulcão. Na frente, as peças podem ser classificadas em três tipos de terrenos: campos, florestas e montanhas. Existem peças com as mais diversas combinações destes terrenos.
Cada peça pode vir com representações, de 0 à 4 marcações, de combinações das cinco raças em jogo: prismas verde (elfos), cubos vermelhos (orcs), prismas amarelos (anões), meeples roxos (magos), peões brancos (cavaleiros) e animeeples brancos (bodes). Curiosidade: nos tiles de terreno temos imagens de bodes, mas os animeeples usados são de ovelhas....
Existem 5 tiles especiais com vilas, uma para cada cor de inimigos em jogo. Quando os tiles são comprados em colocados de acordo com o desejo do jogador da vez, as vilas devem entrar permanentemente em jogo.
Existem também 3 tiles de quests especiais, envolvendo a mecânica de pick-up and delivery (pegar e entregar). Eles se referem as escoltas de personagens da realeza: rei anão, princesa orc ou príncipe elfo. Quando os tiles surgem em campo, o primeiro jogador a parar nele pode anunciar que está escoltando o personagem e receber a carta da missão correspondente. Ao entrega-lo na vila indicada na carta, o dragão poderá adicionar a carta a sua linha de história pessoal.
Orcs, elfos, anões e bodes são personagens desconhecidos, que ao serem derrotados vão para a reserva do jogador. Mas temos apenas 5 magos em jogo e cada vez que enfrentarmos um, devemos comprar uma carta de mago da pilha para saber qual o mago será enfrentado. Cada um tem seus critérios próprios para serem derrotados. Após suas mortes, as cartas entram para a linha de história pessoal do dragão também, e valem pontos no final.
Existe um baralho com 27 cartas de missões, chamadas de cartas dragonscroll (fundo com dragão cinza). Estas cartas são obtidas por ações bônus nos turnos dos jogadores e apresentam missões como: fechar uma floresta (montanha) com 2/3 tiles grandes, pulverizar em um único ataque 2/3/4 inimigos ou conseguir acumular 1/2/3/4 “corpos” de inimigos de um tipo na reserva. Quando completas, elas entram para a linha de história pessoal do dragão também, e valem pontos no final.
Temos ainda 5 cartas de destino (fundo com dragão vermelho). Cada jogador possui uma, que será revelada quando o jogo terminar. Ela lhe dará uma pontuação extra de acordo com a quantidade de orcs/anões/elfos que restarem em sua reserva. Como ela é comprada no início do jogo, já irá encaminhar seu dragão para ser o predador natural de um certo tipo de criatura.
O jogo vem com 4 miniaturas de dragão bem cartunescas. Acompanham ainda para cada dragão: 1 carta de referência, 1 carta de início de história e 3 cartas bônus que lhe darão uma ação extra, em cada turno seu no jogo.
O jogo ainda conta com um estoque de 36 tokens de bolas de fogo, que marcam a capacidade de ataque permanente de cada jogador, e 33 tokens de “Bardo morto”. Neste jogo não temos pontos de vida e danos. Se acertarmos um ataque o inimigo morre. Se falharmos, o fracasso será conhecido por todos e nossa fama seria prejudicada. Para isto, seremos obrigados a matar o Bardo que conta a nossa história. Estes tokens representam a quantidade de bardos que matamos para impedir que nossos feitos fracassados fossem conhecidos, e contarão um ponto negativo de vitória por token no final.
E por fim na listagem de componentes, para a mecânica da torre, temos 11 bolas: 1 preta grande (que fica fixa dentro da torre, em seu centro), 1 preta pequena e 9 vermelhas pequenas.
Síntese do Jogo:
O setup inicial de cada jogador é muito simples: Ele recebe a miniatura do seu dragão, uma carta de referência, a carta inicial da sua história, as cartas bônus, 3 cartas aleatórias Dragonscroll (o limite da mão é de 5 cartas por jogador durante todo o jogo), uma carta aleatória de destino e dois tokens de poder de fogo.
Existem 4 tiles iniciais, que montados formam uma imagem de dragão prateado. Coloque-os em jogo e posicione um dragão de cada jogador sobre cada um, a decisão de vocês.
Para terminar o setup posicione a torre com as esferas próximas, os estoques de meeples e tokens, assim como as pilhas de cartas dragonscroll, de magos e de escoltas.
O primeiro jogador é escolhido aleatoriamente. O jogo seguirá de agora em diante em uma sequência contínua de turnos, onde cada jogador terá as seguintes ações a disposição, nesta ordem:
Explorar o reino (ação obrigatória): Compre uma carta de terrenos e a coloque adjacente a uma peça conhecida. Deve ser respeitada a conexão dos tipos de terreno. Caso apareça algum personagem no tile, o coloque em jogo do estoque imediatamente. Se for um tile de vila, o jogador deve retirar um tile extra também. E assim sucessivamente até terminar em um tile sem vila.
Caso um espaço vazio e fechado seja formado durante a exploração, o mesmo deve ser preenchido por tiles fechados da pilha, colocando vulcões em jogo. Nenhum dragão pode passar ou parar sobre vulcões.
Movimento (ação opcional): o dragão pode se mover para qualquer outro tile que desejar em um único movimento, desde que não mude de terreno. Caso ele avance sobre um terreno de tipo diferente ao que estava, ele imediatamente interrompe o movimento sobre a primeira peça do novo tipo. No turno seguinte ele poderá se mover livremente neste novo terreno.
Ele também deve parar o movimento imediatamente se passar sobre um tile com um ou mais cavaleiro. Pois estes, em busca de fama, atacam o dragão e forçam o combate. Ao parar em um tile com qualquer outro tipo de inimigo, você poderá optar por declarar combate ou não naquele turno. Se parar sobre um tile com um bode sem nenhum outro tipo de inimigo, poderá devorá-lo na hora, pois este não está protegido. Bodes não combatem!
Importante: Um dração não pode terminar seu movimento sobre um tile com outro dragão ou uma vila.
Combate (ação obrigatória): O combate deve acontecer se o dragão parar em um tile na qual haja unidades inimigas ou se há unidades inimigas ao alcance (Exemplo:: orcs, elfos em tiles de floresta e o dragão parou num tile com elfos na mesma floresta conectada). Ao declarar combate a um inimigo, devemos pegar uma quantidade de esferas compatível com seu poder de fogo e lançar na torre. Cada um dos quatro lados corresponde a inimigos específicos.
Se após um ataque nenhuma bola cair no lado do tipo de inimigo combatido, ele fracassa e recebe um token de “bardo morto”. Importante: O jogador pode optar em descartar uma carta Dragonscroll da sua mão para evitar pegar o token.
Se uma ou mais esferas acertarem o alvo, o inimigo é destruído e você pode coletá-lo para sua reserva.
Importante: Ao declarar combate com um mago, compre imediatamente uma carta da pilha e revele a identidade dele. Magos tem condições especiais para serem derrotados.
Importante: Anões e elfos são povos unidos. Ao declarar combate a um anão em uma montanha ou a um elfo na floresta, todos os demais inimigos na mesma montanha/floresta entram juntos em combate com o dragão. Eles não saem de seus respectivos tiles. Se um ataque destruir uma parte deles, você pega para a reserva apenas os derrotados e leva apenas um token de “bardo morto”, independente de quanto sobreviveram.
Importante: Ao declarar combate a um inimigo (ou vários) que se encontra adjacente a um castelo de mesma cor, adicione a bola preta ao seu lançamento. Se esta esfera cair do lado do inimigo em combate, nenhum acerto terá efeito neste turno, pois será considerado que ele se abrigou no castelo.
Aumentar poder de fogo (ação opcional, feita a qualquer momento no seu turno): um jogador poder “consumir” três corpos do seu estoque pessoal, de qualquer tipo, para ganhar mais um token de bola de fogo. Estes deve ser devolvidos ao estoque geral.
Aumentar sua história (ação opcional, feita a qualquer momento no seu turno): um jogador pode revelar uma carta dragonscroll e executar a tarefa na hora, para adicioná-la a sua linha de história.
Usar uma carta bônus (ação obrigatória, feita a qualquer momento no seu turno): o jogador deve virar uma das suas 3 cartas bônus e receber uma ação extra entre: explorar um segundo tile, uma bola de fogo extra na ataque daquele turno ou comprar uma nova carta dragonscroll.
O jogo termina imediatamente quando o último tile de terreno disponível é colocado em jogo. Cada jogador revela os pontos obtidos em sua história, conta os pontos extras pelo seu destino e desconta os tokens de bardo. O jogador com a melhor história vence o jogo.
Avaliação:
Dragonscroll é um jogo único e com grande potencial. A proposta de escrever a história de um dragão, dando missões e tecendo um destino é, pelo menos, original. A qualidade do jogo é soberba, com materiais de acabamento excelentes.
Vale ressaltar que ele incorpora algumas mecânicas bacanas: a torre de esferas no lugar dos dados, vários tipos de missões, movimentação por tipo de região e combates com regras atípicas. É um jogo fácil de explicar, não muito demorado e que encanta as pessoas pela beleza e proposta. No entanto é um jogo muito leve, que não impõe grandes desafios. Então se você gosta de euros que "esquentam" o cérebro ou de batalhas épicas, este jogo não é para você.
O grande problema dele, talvez seja justamente a parte mais inovadora: a torre. Existe algum erro brutal de balanceamento ali. Como cada jogador só tem um ataque por turno, as duas esferas iniciais não são suficientes para conseguir fazer quase nada. Todo mundo fica frustrado com os sucessivos erros. Com 75% dos tiles colocados, os jogadores conseguem cumprir uma ou duas missões apenas. O jogo está prestes a acabar, e ninguém conquistou quase nada... Muito desestimulante. Existem muitas queixas sobre isto no BGG.
Por experiência própria, usei o seguinte ajuste: os jogadores recebem 5 tokens de bola de fogo no início do jogo. Pode parecer absurdo... mas já vi pessoas lançarem 7 bolas de fogo contra um anão por 3 turnos diferentes para conseguir destruí-lo. Mesmo assim não dá para ganhar sempre. O resultado foi muito bom. A visão do jogo muda completamente. Os jogadores conseguem fazer fluir sua história. Vale mais a estratégia de combinar corretamente os objetivos e tipos de terreno, em busca de uma História mais valiosa que à dos adversários.
Vale lembrar que este é um jogo bem raro, de tiragem ultra limitada e bem difícil de se importar para o Brasil. Mas para quem gosta de experimentar jogos novos e family games, vale a experiência de uma partida. Pessoalmente achei encantador! Para quem se interessou pelo jogo, outros jogos mais conhecidos dos mesmos designers são: Shear Panic e Poseidon's Kingdom.