Fala Galera!
Como é que vocês estão meus queridos?
Hoje falaremos sobre o jogo Bruxelles 1893. E aí, será que vale a pena jogá-lo de novo?
Bom, a minha resposta logo vocês irão descobrir.
Bruxelles 1893 é um jogo do designer Etienne Espreman, lançado em 2013, e é o jogo mais conhecido do designer (na verdade, além dele, tem apenas mais dois jogos cadastrados no BGG, o Bruxelles 1897 e o Essen the game). O jogo encontra-se na posição 273 do ranking geral da BGG e na posição 155 de jogos estratégicos também da BGG. Na ludopedia, o jogo encontra-se na posição 111.
Suas principais mecânicas são: Alocação de trabalhador, leilão, seleção de cartas e tabuleiro modular. Mas eu ainda coloco que tem influência de área, pois há uma pontuação baseado em quem tem maior controle de pequenas áreas no tabuleiro de arte nouveau.
(Bruxelles 1893 utiliza do art noveau em praticamente todos os seus componentes)
No jogo, os jogadores são arquitetos no final do século 19 e cada um está tentando alcançar a obra máxima na arquitetura em estilo Art Nouveau. E para isso utilizará das várias ações possíveis no jogo para demonstrar que ele é o expoente máximo desse estilo de arte.
Esse é o tema do jogo. E apesar que no gameplay o tema fica bem superficial (o jogador acaba se concentrando em realizar as ações que mais lhe parecem ótimas independente de criar ou não uma obra de expoente nesse estilo de arte), não podemos dizer o mesmo da arte do jogo. Ela é toda feita em Art Nouveau, trazendo a temática para dentro dos tabuleiros e cartas do jogo. Sei que terá pessoas que achará o jogo feito por causa de seus tons pastéis ou desenhos mais cartunescos (mas que tentam mostrar as faces e arquiteturas reais). Mas, no meu caso, acho o jogo lindo. Na mesa, chama bastante atenção.
O jogo funciona em 5 rodadas onde os jogadores realizam ações, em turnos alternados. Na sua vez o jogador precisa alocar um de seus trabalhadores em um dos vários espaços de ação que tem no jogo e realizar a ação. E essa decisão não passa apenas pela escolha da melhor ação possível, mas também pelo dinheiro que o jogador tem disponível e as cartas de bonificação que estão disponíveis na rodada.
(No tabuleiro de Bruxelles é onde ocorre o mini game de venda de obra de arte)
Antes de continuar, é necessário falar que em Bruxelles nós temos dois tabuleiros com ações e a alocação que é feita nesses tabuleiros são distintos. São eles o tabuleiro de Bruxelles e o tabuleiro de Art nouveau.
No tabuleiro de Art Nouveau vamos encontrar 5 ações cujos efeitos são: nomear as ações. Vamos detalhar cada uma delas.
- Ação de materiais: Nessa ação os jogadores pegam dois recursos nobres que são cubos nas cores azul, marrom e preto;
- Ação de oficina: O jogador trabalha em uma obra de Art nouveau e pega um token de arte da reserva geral e coloca em seu estoque virado para cima. Existem 5 cores de arte que impactam a sua venda e também o valor que o jogador vai ganhar quando realiza a ação de passar. O jogador pode ter quantas obras de arte quiser;
- Ação de venda: O jogador vende uma de suas obras de arte. Para isso o jogador poderá realizar uma quantidade de movimentos igual a quantidade de obras de arte que tem no momento. Esses movimentos são usados para melhorar o valor de pontos de vitória e dinheiro que o jogador ganhará quando vender sua obra de arte no grid que existe no tabuleiro de Bruxelles. A cor da arte influencia bastante essa venda, pois o jogador vai ganhar na linha e coluna onde está a cor da obra de arte. Mas também existe um detalhe hiper importante: A cor não pode estar no espaço de demonstração, ou seja, se já tiver uma obra de arte da mesma cor no espaço em cima do grid, o jogador não poderá vender uma obra de arte daquela cor.
- Ação de teatro real: jogador pode influenciar uma das figuras públicas disponíveis pagando seu valor. Quando o jogador pega uma pessoa pública ele deve decidir se fica com ela, podendo realizar sua bonificação nas outras rodadas, mas pagando seu custo no final do jogo (se não conseguir pagar o jogador toma 5 pontos negativos de ponto de vitória para cada pessoa pública que não pagou) ou então descartar. Em ambos os casos o jogador vai receber a bonificação que a figura pública tem;
- Ação de construção: O jogador pode construir parte de sua obra arquitetônica. Para isso, basta olhar o custo no seu tabuleiro individual, que vai de dois recursos a 4 recursos, dependendo do espaço que tirar a construção. Os tipos de recursos são vistos no rondel que tem no tabuleiro de Bruxelles. O jogador precisa pagar pelo menos 1 tipo de recurso em cada espaço que a seta está indicando. Depois de pagar os recursos, o jogador gira a seta, alterando os recursos que são necessários para a construção. Um ponto importante é que os jogadores podem usar o recurso branco para realizar a construção. Ele é um coringa e pode ser utilizado inclusive para pagar dinheiro. Contudo, quando o jogador utiliza esse tipo de recurso ele não ganha 5 pontos de vitória que ganharia caso utilizasse o que está sendo mostrado no rondel.
(Tabuleiro de art noveau com suas ações)
Existem três pontos interessantes no tabuleiro de Art nouveau. O primeiro é que, no começo de cada round, a partir de uma carta de mercado, é definido quais ações estarão disponíveis para ser utilizado naquela rodada. Isso mesmo, o tabuleiro pode ter uma quantidade de ações disponíveis maior ou menor dependendo desse setup. E isso conta bastante para os outros dois pontos que falarei aqui.
O segundo ponto interessante é que, quando um jogador utiliza uma ação do tabuleiro de Art nouveau, obrigatoriamente, ele tem que por pelo menos 1 moeda junto. Isso ocorre porque cada coluna desse tabuleiro tem uma carta de bonificação que será leiloada. Ganha o jogador que tiver mais dinheiro naquela coluna. E essas cartas são muito valiosas pois dão bônus que auxiliam o jogador na sua caminhada junto a vitória.
(Tabuleiro de Bruxelles com suas ações)
E o terceiro ponto é que existe um pequeno controle/influência de área que é pontuado a cada rodada. Existe um ícone da cidade de Bruxelles no tabuleiro de Art nouveau que divide cada espaço desse tabuleiro em um quadrado. Se esse quadrado for preenchido pelos jogadores, ele será pontuado. E quem tiver mais meeples lá ganhará pontos de vitória igual a trilha de Bruxelles. Se lembra da carta bônus que eu falei logo ali em cima? Uma de suas bonificações é andar nessa trilha. No começo, o jogador ganha um ponto de vitória apenas. Mas pode ganhar até 4 pontos.
Agora vamos falar sobre o tabuleiro de Bruxelles. Nele temos 4 ações disponíveis para os jogadores fazerem. Mas ao contrário do tabuleiro de Art nouveau, não é necessário pagar dinheiro para realizar a ação. Além disso, as ações não são feitas apenas por 1 jogador como no tabuleiro de Art nouveau. Aqui, os jogadores podem realizar a ação mesmo que tenha outro jogador ou ele mesmo. Mas calam que tem caroço nesse angu.
Se o jogador for o primeiro ou segundo a ir naquele espaço, ele pode ir apenas com 1 meeple. Mas se for o terceiro e quarto, terá que pagar dois meeples. Se for o quinto ou sexto, terá que pagar 3 meeples, e assim por diante (isso para um jogo de 4 a 5 jogadores. Para um jogo de 2 ou 3 jogadores, apenas se o jogador for o primeiro paga 1 meeple. Se for o segundo, já terá que pagar 2 meeples).
(O leilão é bem estratégico e auxilia bastante na estratégia do jogador, principalmente para pontuação final)
No final do round, quem tiver mais meeples nas ações do tabuleiro de Bruxelles, terá que se explicar no tribunal, perdendo um dos seus meeples para o começo da próxima rodada (em caso de empate, ambos os jogadores perdem 1 meeple).
Falei que tinha caroço nesse angu, não falei? Mas vamos as ações desse tabuleiro.
Ação de Mercado: O jogador pega 3 cubos brancos;
Ação de Bolsa de Valores: O jogador ganha o valor de dinheiro indicado na carta de mercado (número circulado)
Ação do Parque: O jogador pode fazer qualquer ação do tabuleiro de arte nouveau. Ele não coloca seu meeple no tabuleiro de Art nouveau, apenas faz a ação. Logo ele não paga o dinheiro, mas também não participa do leilão das cartas bônus;
Ação da praça central: O jogador ativa uma quantidade de pessoas públicas igual a trilha de castelo (que varia de 1 a 7).
Ufa. Acho que consegui passar um pequeno overview do jogo. Claro que tem mais detalhes nas regras, mas acredito que possa dar meu feeling sobre o jogo.
Pois é, agora é que começa minha análise para chegar a resposta que se vale a pena jogar Bruxelles 1893 de novo.
(Tabuleiro individual só jogador)
Ei, fecha o navegador não. Já ficou até aqui. Continua até o final manolo! Ajude esse servo dos deuses a ascender... tá forcei a barra.
Bruxelles é um jogo com muitos pequenos detalhes. Como vocês podem ter percebido, ele tem pequenos mini games em algumas de suas ações, bem como trabalha muito bem várias mecânicas juntas. É incrível como o designer conseguiu trabalhar de forma tão harmoniosa a alocação de trabalhador, leilão e controle/influência de área. No decorrer do jogo você nem percebe que está fazendo uma ou outra mecânica, mas sim, jogando o jogo, trabalhando com todas as suas mecânicas juntas.
O jogador precisa buscar o equilíbrio entre as diversas ações no jogo. Nada em Bruxelles pode ser subestimado. Mas também é impossível conseguir fazer tudo. Então esse equilíbrio é necessário para conseguir pontuar nas diversas formas que o jogo te proporciona a fazer isso.
É incrível como o designer conseguiu criar um leilão que funciona com qualquer quantidade de jogadores. Para fazer uma ação no tabuleiro de Art nouveau tem que pôr uma moeda pelo menos e, a partir daí, está participando. Mas engana-se quem acha que foi somente isso. Ao colocar cartas poderosas que os jogadores irão disputar, o jogo faz com que essas caras sejam disputadas e a ordem de pôr seus trabalhadores no tabuleiro conta muito. AS vezes vale mais a pena esperar um pouco e ver se é o último a fechar aquela coluna e, assim, ter a oportunidade de ganhar aquela carta. Claro, isso nem sempre acontece, pois pode ser que o ‘lance’ esteja bem alto (não é raro você colocar 5 moedas ou até mais para fazer uma ação).
E isso ocorre porque essas cartas ajudam bastante o jogador. Seja pela ação bônus, seja pela pontuação de final de jogo que ela aumenta.
E esse é um outo ponto que preciso falar desse jogo.
(O jogo fica muito bonito na mesa)
O jogo, ao permitir que você mude a forma que terá de pontuação final de jogo, te proporciona um caminho a seguir. Você pode focar em conseguir peças de arte e fazer com que, no final do jogo, cada uma valha 5 pontos. E se você tiver 6 delas, terá 30 pontos garantidos. Só que ao fazer isso você pode abdicar de vender essas mesmas peças que, dependendo, pode lhe proporcionar 6 de dinheiro e ponto de vitória.
E são essas decisões que permeiam o jogo durante toda a partida. Você precisa avaliar qual delas é melhor. O que deixará de fazer para conseguir outra ação. Por qual ação ou bônus lutará contra os outros jogadores. Se vale a pena aguardar ou já partir para o ataque e bloquear uma determinada ação que será ótima para outro jogador. Vale a pena fazer aquela ação no tabuleiro de Bruxelles e perder um trabalhador para o próximo turno? Vale a pena construir, usando cubos brancos, fazendo com que os 5 pontos não sejam computados, mas permitindo colocar uma de suas construções em um espaço que está sendo disputado? Essas são as respostas que você terá que responder.
E Bruxelles tem muito disso, deixando o jogo bastante tenso. Cada escolha do jogador tem consequências, não somente para a sua própria estratégia, mas também para os outros jogadores que precisam responder a esses atos.
Se posso falar que Bruxelles tem um ponto negativo, talvez seja pelo fato de que ele tem uma tendência a mostrar aos jogadores de que determinado jogador está ganhando e que ninguém pode pegar mais ele. E isso pode frustrar algumas pessoas e acabar desistindo do jogo. Só que isso não é verdade. Por mais que um jogador esteja ganhando muitos pontos de vitória, os outros jogadores também podem conseguir esses mesmos pontos (vendendo artes, construindo sem cubos brancos, pelo controle de área) sem contar a pontuação final que é bastante relevante. Nunca desista em Bruxelles. Continue com sua estratégia e você poderá sim ser recompensado.
(A influência de área é outro ponto crucial em Bruxelles)
Por isso mesmo que esse jogo não é para todos os públicos. Ele é indicado para jogadores que já vivenciaram outros jogos no nosso hobby. Por ter várias mecânicas implementadas, trazendo alguns mini games dentro do jogo, pode ser que na primeira partida, o jogador fique meio perdido em entender o que pontua e onde focar. Por isso, Bruxelles é um daqueles jogos que, quanto mais se joga, mais se gosta e entende suas pequenas nuances.
Se eu jogaria novamente Bruxelles 1893?
A resposta é definitivamente sim.
Bruxelles foi uma das gratas surpresas que tive no ano de 2019. E me fez pensar porque perdi tanto tempo em não o jogar. A cada partida que acaba fico com vontade de jogar novamente. Tentar fazer outra estratégia. Fico pensando onde errei. E são poucos os jogos que me fazem sentir assim.
Claro que isso é uma posição pessoal. E por mais que tenha colocado várias das qualidades desse jogo aqui nesse texto, ele pode não agradar algumas pessoas. O que é normal. Mas não o descarte após uma primeira partida. É realmente difícil o jogar pela primeira vez. Mas jogue uma segunda ou quem sabe uma terceira e se deixe encantar por um dos jogos mais bem feitos dos últimos anos e que, infelizmente, não tem tanto apreço quanto merecia.
Espero que tenham gostado de mais esse review. Logo mais volto com outros meus queridos.
Abraços
