Marco Polo é um jogo que tem um espaço cativo na minha coleção, não é o jogo mais incrível ou genial da minha estante, mas é um excelente jogo que traz consigo um valor afetivo. Junto com Tikal foi um dos primeiros Euros que joguei e me encantei. E que até hoje sempre que tenho chances coloco na mesa para jogar.
Por isso, quando soube que lançariam uma nova versão do jogo, fiquei bastante receoso, mas também curioso. Será que é uma expansão com preço de jogo? Será que estragaram um clássico? Será que de Marco Polo só tem o nome? Será que cabem os dois na coleção? Se complementam? Enfim, após algumas partidas de Marco Polo 2 não sei se tenho todas essas respostas mas vou tentar dividir a minha opinião comparando o sentimento que tenho com as duas versões.
Tempestade x Bonança
Se tivesse que definir Marco Polo 2 tendo o primeiro como referência, eu diria que esse jogo é o MARCO POLO DESTRAVADO. E isso não é bom, nem ruim, depende do que você valoriza.
Eu amo jogos econômicos e por isso tenho um certo apreço por experiências que tragam uma economia mais apertada. Com uma geração de recursos dificultada, jogabilidade mais travada, pois acho que isso gera escolhas mais interessantes ao mesmo tempo que punitivas. E esse era o sentimento presente em Marco Polo I .
O primeiro jogo era apertado de várias formas, a começar pelos pouquíssimos espaços de alocação de dados, o que tornava a marcação bem mais agressiva, dado o fato que para empilhar dados você precisa pagar o custo (aproveito para ressaltar que todas as mecânicas básicas de Marco Polo I se repetem na nova versão, não há nenhuma mudança no básico das regras) e para pagar esse empilhar dos dados você precisava conseguir planejar e administrar muito bem suas economias principalmente pelo enorme custo dos caminhos de viagem. Aliás esse altíssimo custo de viagem era uma das maiores reclamações de Marco Polo, para fazer a rota das cartas de objetivo era preciso bastante planejamento e saber improvisar com as marcações, o jogo era tão apertado que a estratégia mais óbvia era otimizar a geração de recursos para cumprir o máximo de contratos em detrimento das viagens.
Em Marco Polo II tudo nesse sentido é diferente. Primeiramente, se viajar era difícil, agora é mandatório. O jogo está todo desenvolvido em torno das viagens e por isso a economia e geração de recursos ficou bem mais frouxa. E a destravada do jogo começa na própria ação de viagem que agora possui 3 espaços para alocação de dados (com potências diferentes, fornecendo mais ou menos ações de movimentação) e ainda define o first player do próximo round.
Os custos de viagem entre as cidades, ainda parecem altos, mas percebe-se logo que a geração de recursos se tornou mais fácil, e os principais fatores que contribuem pra isso são a nova formatação do mercado e o "espaço de cartas de cidades que fica fora das cidades". Esse último confesso que foi uma “solução” que me incomodou demais e não faz o menor sentido pra mim, mas vamos lá:
O mercado agora deixa de ser estático no tabuleiro e é o novo contador de rodadas, durante os 5 rounds, novos tiles de mercado entram em 3 espaços diferentes. Em cada um desses espaços você pode escolher entre 4 ofertas, sendo que duas dessas ofertas custam jades, (um novo recurso que é uma espécie de coringa no jogo de diversas formas), e oferecem uma avalanche de coisas. Esse é mais um elemento que mostra como Marco polo 2 vem aliviar o aperto do jogo anterior, mesmo que prejudique o fator estratégico, já que adiciona uma randomicidade nessa gestão de recursos apesar da bonança. Mas no geral achei uma mudança bem bacana.
Já o espaço novo para as cartas de cidades, trás duas novas cidades a cada rodada, é mais espaço para dados e mais oportunidades de gerar dinheiros, camelos, ouro, ou qualquer outra coisa.
Tem também o income de recursos que vem com os selos de guildas, mas entro em maiores detalhes adiante.
A Importância das viagens!
E porque viajar agora é tão importante? Basicamente porque praticamente todas as fontes de pontos estão agora pelas cidades, e isso inclui os contratos. Sim, agora os contratos ficam em determinadas cidades, e você para pegar-los precisa passar por elas e deixar um de seus postos avançados.
Além disso, as cidades são identificadas por diferentes brasões e deixar um posto avançado nelas, conta como um set collection que no final do jogo chega a render absurdos 43 pontos. Essa pra mim a grande “cagada” dessa versão do jogo. Uma injeção de pontos a la Stephan Feld que era absolutamente desnecessária e que mais uma vez descasa com um planejamento mais estudado da partida, já que as cartas de objetivos de visitar as cidades perdem um pouco do sentido se escorrem pontos por quem visita praticamente todas.
Os selos de Guilda, Novos personagens e Jades
Orbitando isso tudo temos uma nova adição ao jogo que são os selos de guilda. Mais um novo espaço para alocação de dados que fornece selos de 4 guildas diferentes, cada um associado a um tipo de recurso (camelo, jade, moeda, etc) Esses selos servem para cumprir rotas de viagens entre cidades, mas basicamente são importantes porque podem ser evoluídos (cada um com seu custo) e gerar incomes no início de cada rodada (parecido com as cidades que possuem o bônus de exclamação). Além disso eles potencializam (quando evoluídos) o beneficio de determinadas cidades (a chuva de recursos é torrencial amigos)
Sobre os novos personagens não tenho muito a acrescentar, são novos poderes que podem ser ou não desbalanceados dependendo da mesa. Isso jánão me incomodava no primeiro Marco Polo (e não incomoda em nenhum jogo desde que não seja um desbalanceamento situacional e randômico no meio da partida)
Jades conforme disse anteriormente são o recurso novo do jogo e basicamente funcionam como um grande coringa, porque tendo elas você consegue trocá-las por recompensas maiores nos espaços de mercado, e também porque elas efetivamente podem funcionar como um camelo ou uma moeda simplesmente.
Qual o melhor?
Depende de você. Marco Polo como disse no inicio da resenha tem um lugar cativo no meu coração e sua segunda edição não compete nesse espaço. Eu particularmente acho Marco Polo I mais jogo, mas em compensação acho o Marco Polo II mais divertido, mais “feels good”. Ainda não sei se cabem os dois na coleção mas enxergo perfeitamente ocasiões e mesas diferentes para jogá-los. Ambos trazem a mesma atmosfera e conceito de regras, acho os dois excelentes jogos e se for o caso de optar por um, seja qual for a sua opção, estará bem escolhido. Basta saber o que te agrada mais, um planejamento mais apertado ou uma partida mais descontraída.
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