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Consciência negra e o desafio de criação de jogos de mesa

Diário de Assisi: De Volta pra Casa

Sanderson07/12/19 01:23

Sanderson

07/12/19 01:23

29 mensagens MD

Eu sou criador e desenvolvedor de jogos, faço parte de um estúdio colaborativo chamado Casa do goblin e também do EDIJ, o encontro de desenvolvedores de jogos de mesa que ocorre na cidade do Rio de Janeiro.
De tempos em tempos, organizamos um desafio de criação, em que escolhemos, aleatoriamente, o tema, a mecânica e alguma condição limitante que devem ser obedecidos para fazer o jogo.

Esse ano, com ajuda do Valter Bispo, criador do jogo Quilombolas — A Guerra dos Palmares, organizamos o 1° Desafio da Consciência Negra. Nesse desafio, foi proposta a criação de um jogo com temática referente à consciência negra, a utilização da Mancala como uma das mecânicas e, o mais importante, o protagonismo negro.

Qualquer um poderia participar, trazendo jogos em qualquer estágio para serem apresentados e jogados no dia 30 de novembro, data do 7° EDIJ.
Então, comecei a estudar e procurar mais sobre Afrofuturismo, e vi que se encaixava perfeitamente na proposta que eu tinha em mente.

Afrofuturismo é esse movimento de recriar o passado,

transformar o presente e

projetar um novo futuro através da nossa própria ótica.

— Fábio Kabral

Quanto mais eu lia sobre o assunto e procurava referências, mais maravilhado eu ficava. Nesse processo, acabei conhecendo muitos trabalhos interessantes e relevantes, em especial o trabalho do Fábio Kabral. Além disso, há muito material importante sendo produzido e discutido sobre esse assunto.

Vou deixar alguns ótimos links.

Mamilos #227: Afrofuturismo
https://www.b9.com.br/shows/mamilos/mamilos-227-afrofuturismo/

Perifacon 3: Afrofuturismo
https://open.spotify.com/episode/0hpwVeVIdSpiZVow2gDxpM

Então, vamos ao jogo!

Imaginem um futuro em que a humanidade se desenvolveu ao ponto de realizar um grande êxodo do planeta Terra em direção ao cosmos. Esse processo foi encabeçado por diversas organizações que viajaram para direções diferentes. Nossa história vai focar em uma nova sociedade que se forma em um planeta longínquo. De lá, um povo melaninado, de cabelo crespo, lábios carnudos e com alto conhecimento tecnológico e científico conseguido através da ancestralidade, passa a desbravar o espaço. Seu objetivo é expandir ainda mais seu conhecimento criando novas tecnologias e sociedades.
Sob a liderança de Assisi, encontram um planeta azul, o terceiro em um sistema solar distante, que é capaz de suportar vida sem muitas modificações em sua atmosfera. Mas o que não suspeitam, é que um dia ele foi chamado de Terra. Sem nem saber que esse fora o planeta de seus ancestrais, eles vem com o objetivo de construir e desenvolver o planeta para viver por aqui.

Esse processo se tornara possível através da avançada tecnologia de pesquisa e adaptação desenvolvida. Suas pinturas corporais compostas de pigmentos nanotecnológicos, que brilham em um tom branco levemente misturado com alguma cor, concedem ao seu povo diversas habilidades, tais como: capacidade de fazer análise estrutural de moléculas e reconstrução virtual de locais e objetos. Suas aplicações são infinitas e, dependendo da afinidade do usuário, podem mostrar resultados impressionantes.

Tenho a pretensão de expandir o universo desse jogo para outros jogos usando como personagem central Assisi, uma mulher negra destemida que viajou através do cosmos utilizando a avançada tecnologia ancestral. Sinto que muito ainda pode ser contado.



O jogador é um dos líderes das equipes de pesquisa e deverá tomar decisões para viabilizar a construção da cidade e do conhecimento do povo. Ao final vencerá aquele com maior liderança, que se tornará o principal regente e nomeará esse desconhecido planeta e a nova cidade.

O jogo tem como mecânica principal a mancala, que faz com que os jogadores sempre tenham que compartilhar conhecimento por todo o tabuleiro. A cada jogada, eles recolhem conhecimento específico de cada pesquisa e sempre que constroem um conhecimento aumentam o nível de evolução da sociedade, contribuindo para o seu avanço e o término do jogo.



As cartas possuem cores e símbolos que representam os conhecimentos e as especializações. Os símbolos são adinkras, um conjunto de ideogramas que tiveram origem no povo Akan. Cada um deles possui um significado, ideais e virtudes fundamentais.



Imagens tiradas do livro,
História e Cultura da África nos anos iniciais do Ensino Fundamental: Os Adinkra,
de Autoria da Eliane Fátima Boa Morte do Carmo

A utilização de cada um tem a ver com seu significado dentro do jogo.

Ao final do jogo, teremos a formação de uma nova cidade que será habitada pelo povo preto e caberá ao novo regente nomeá-la.

Em breve, falarei um pouco mais sobre o processo de criação e desenvolvimento do jogo, e disponibilizarei o seu manual provisório.
AQUI

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leobetosouza
255 mensagens MD

leobetosouza07/12/19 04:06

leobetosouza » 07/12/19 04:06

Que foda, man. Tô doido pra ler o próximo "capitulo".

Muito legal esse desafio de vocês, e muito bom usar o tema consciencia negra. Que venham mais ideias assim, e que elas ganhem mercado. O protagonismo negro nos jogos é quase inexistente.

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fagvalo
97 mensagens MD

fagvalo07/12/19 07:23

fagvalo » 07/12/19 07:23

Achei muito foda tbm! Parabéns pelo trabalho e tô muito afim de jogar esse jogo!

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guilhermezardo0
210 mensagens MD

guilhermezardo007/12/19 10:20

guilhermezardo0 » 07/12/19 10:20

Muito bom!

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joaoclaudio
3449 mensagens MD

joaoclaudio07/12/19 17:34

joaoclaudio » 07/12/19 17:34

Parabéns, realmente esse universo que você imaginou é bem instigante. Tomara que tenha muito sucesso esse ou outros jogos nesse cenário.

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valter_bispo
51 mensagens MD

valter_bispo07/12/19 21:59

valter_bispo » 07/12/19 21:59

leobetosouza::Que foda, man. Tô doido pra ler o próximo "capitulo".

Muito legal esse desafio de vocês, e muito bom usar o tema consciencia negra. Que venham mais ideias assim, e que elas ganhem mercado. O protagonismo negro nos jogos é quase inexistente.

Exatamente, Leo. Estamos trabalhando para transformar esse cenário. Nosso povo quer se ver.

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vilesva
28 mensagens MD

vilesva08/12/19 12:01

vilesva » 08/12/19 12:01

Além de um game designer iniciante, eu sou ator e pretenso escritor e negro. Mas o quanto que alguém vendo qualquer uma das artes que faço sabe que aquela arte foi feita por não-brancos sem me ver? Será que "só" colocar figuras negras em um jogo o torno um jogo afro?
Na antropologia (e aqui de fato tem minha profissão, no sentido de ganha pão rs) tem uma discussão muito rica de que os povos tem lógicas de pensamento bem diferentes entre si. Tendo a considerar que uma arte indígena o é não só porque tá rolando um idioma daquele povo ou tem um índio cantando, mas que aquela arte se estrutura em uma lógica daquela etnia específica.
Tá... E daí?
O lance que nós, ocidentais (brancos ou não), carregamos uma lógica muito especifica que é transmitida nas nossas criações. Aristóteles afirma que o ser não pode ser outro ser ao mesmo tempo, ou seja, eu sou eu e jamais poderei ser você. Suave. Alguns povos indígenas que tem terras no Brasil não trabalham a partir desta lógica, um feiticeiro é ao mesmo tempo aquela pessoa que estamos vendo e uma onça que está dando rolê (naquele mesmo momento) na mata ao lado. Aí cê pensa: um tanto de jogos nós só somos um personagem, grupo, família, empresa e etc. Fritando um pouco, um jogo que conheço que de certa forma assumimos de fato dois seres virtualmente antagônicos é o Arcadia Quest que somos o grupo de heróis que controlamos e em algumas situações somos os monstros.
Pierre Clastres estuda sociedades diversas que as pessoas têm um esforço constante de não deixar que surjam lideranças. Quantos jogos voce já jogou que você não é, de certa forma, um líder inconteste dos seus meeples?
Uma das maiores questões das invasões europeias é que grande parte dos grupos indígenas simplesmente não trabalhavam mais do que era necessário para o próprio sustento. Outras tinham uma lógica de sequer acumular alimento pra tempos de penúria. Cê consegue imaginar um euro que você não acumule coisas? Que crie não trabalhe na lógica de criar maquinas mais eficientes ?

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Sanderson
29 mensagens MD

Sanderson08/12/19 14:48

Sanderson » 08/12/19 14:48

Acho que sim, eh possível fazer algo nesse sentido e não ficar preso a estilos, e sim usa-los para criar algo diferente e inusitado.

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vilesva
28 mensagens MD

vilesva08/12/19 14:58

vilesva » 08/12/19 14:58

Acho que sempre é possível. Mas o quanto que será "jogável"? No sentido de ser algo divertido mesmo, que vai fazer a galera da mesa se envolver e ficar pilhado de jogar mais.
É que nem o caso do cinema, tem vários filmes que passagem longe do modelo hollywoodiano, tem uns que cê fica olhando e nem sabe bem se dá pra chamar de filme. Rola uma quebra cabulosa de narrativa, de personagem, mas geralmente quem curte é uma galera mais restrita

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Sanderson
29 mensagens MD

Sanderson08/12/19 15:11

Sanderson » 08/12/19 15:11

vilesva::Acho que sempre é possível. Mas o quanto que será "jogável"? No sentido de ser algo divertido mesmo, que vai fazer a galera da mesa se envolver e ficar pilhado de jogar mais.
É que nem o caso do cinema, tem vários filmes que passagem longe do modelo hollywoodiano, tem uns que cê fica olhando e nem sabe bem se dá pra chamar de filme. Rola uma quebra cabulosa de narrativa, de personagem, mas geralmente quem curte é uma galera mais restrita

Acho que isso é uma questão de criação e desenvolvimento, de realmente fazer, criar uma experiênca nova e interessante, diferente do que se tem feito, se fizer direito não vejo qual seria o problema.
Quando vc fala "jogável", me parece como se qualquer coisa fora do comum não pudesse ser jogável, mas acredito muito que o jogo é uma experiência que vai alem alem dos rótulos, além disso não da pra agradar a todos por isso manter em mente seu publico alvo ajuda bastante no processo de criação.

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