O Peão de Tabuleiro resenha: Black Stories
Introdução:
Black Stories é um jogo de cartas festivo lançado Brasil pela Galápagos Jogos. Criado por Holger Bösch e com arte de Bernhard Skopnik, o jogo serve de 2 ou mais investigadores de 12 anos ou mais, em partidas que podem durar de 2 a 222 minutos, segundo a caixa.
Em Black Stories, 1 jogador apresenta uma pequena história com 1 mistério a ser resolvido, e os demais jogadores devem preencher as lacunas deixadas na história apresentada.
Obs: Esta resenha trata apenas da primeira caixa do jogo, mas a parte de regras e mecânicas se aplica a todas as outras versões lançadas no Brasil até o momento.
Mecânicas:
Black Stories utiliza as mecânicas de contação de histórias e perguntas e respostas.
Componentes:
Caixa:
Confeccionada em papel triplex de 0,6mm com tampa integrada, possui 9 x 13 x 2 cm por medidas. Possui um pequeno recorte circular em uma das faces laterais para facilitar a abertura da tampa.
A arte minimalista da capa impressiona e dá o tom que será seguido na arte de todo o jogo. Sobre um fundo preto listo estão presentes o nome do jogo em branco, o subtítulo “50 enigmas macabros” em branco, uma mancha de sangue em vermelho e os logotipos das editoras em preto e branco. As faces laterais mostram somente o nome do jogo em branco sobre fundo preto. A face traseira traz as informações de idade recomendada, número de jogadores e tempo de partida, além de uma breve descrição do jogo.
O material da caixa não é muito resistente. Com poucas partidas a conexão tampa-caixa rasgou-se e a caixa já apresentava alguns amassos.
Manual:
Confeccionado em papel supremo em formato de livreto, quando dobrado tem o tamanho das cartas.
O texto do manual é simples e direto. Por se tratar de um jogo de charadas, o manual não traz informações rígidas ou engessadas; são mais orientações gerais de como os jogadores devem proceder.
Cartas:
São 50 cartas, cada uma com um único enigma impresso. As cartas têm 0,03 x 8,9 x 12,8 cm por medidas (padrão sleeve Tiny Epic Kingdoms).
As cartas possuem fundo completamente branco, e linhas pretas demarcando as bordas. Na frente há o título do enigma, uma arte de referência e um pequeno trecho com as informações iniciais. No verso há mais texto, com todas as informações necessárias para se desvendar o mistério e mais uma arte de referência.
O tom macabro e minimalista apresentado na capa do jogo está presente em todas as cartas, que usam apenas as cores preta, branco e vermelho na arte, e apenas preto no texto.
Regras:
Um jogador é escolhido para ser o mestre. Este tira uma carta do baralho do jogo e lê o título e o texto inicial do mistério, presente na face frontal da carta, em voz alta. Ele pode também mostrar a arte de referência presente na frente da carta. Depois de fazer a leitura o mestre deve ler também o resto da carta, onde estão as respostas para as lacunas deixadas na apresentação do mistério.
Depois disso, os demais jogadores podem dirigir perguntas ao mestre, mas apenas perguntas que possam ser respondidas com sim ou não. De posse das informações confirmadas ou negadas pelo mestre, os jogadores devem ir montando a história, cobrindo as lacunas, até que cheguem à resolução completa do mistério.
Caso sejam feitas perguntas que não possam ser respondidas com um simples sim ou não, o mestre deve pedir para que o jogador reformule sua pergunta.
O mestre pode agir diferentemente em suas situações:
1 - Os jogadores estão partindo de uma premissa falsa. Quando perguntam, por exemplo: “O homem era alto?” e a história não gira em torno de um homem, mas sim de um animal. O mestre então deve informar ao jogadores que estes estão partindo de uma premissa falsa.
2 - Os jogadores estão a seguir uma pista falsa. Pode-se perguntar: “O homem tinha barba?” Se isso não fizer diferença para o caso, o mestre pode dizer aos jogadores que esta informação é irrelevante para o caso, ou que não está presente na resposta.
O mestre é o detentor de todas as informações, e o único que sabe a respostas do mistério. Somente ele pode dizer se os jogadores chegaram à resposta correta. Dependendo da carta escolhida e da mesa presente o mestre pode, se achar adequado, dar dicas aos jogadores.
Tema:
O tema sinistro proposto pelo jogo desde seu título está presente a todo momento e em todos os aspectos do jogo, com pouquíssimas exceções. As exceções são apenas 2 casos que não podem ser considerados macabros. São pegadinhas, mas mesmo fugindo ao tema do jogo, são divertidos de serem solucionados.
Arte:
Arte de traços minimalistas, utilizando apenas as cores preto, branco e vermelho, dão uma atmosfera noir ao jogo, com algumas imagens mórbidas e por vezes fortes, que contribuem para a construção do clima sombrio presente nas partidas. Algumas imagens presentes nas cartas podem ajudar a solucionar o mistério, já outras não possuem relação alguma com a situação em jogo ou podem servir como distração.
Opinião:
Eu já havia jogado Black Stories antes de saber que existia Black Stories. O autor do jogo nada mais fez do que juntar em uma coleção de cartas, jogos de mistério que circulavam via tradição oral em algumas comunidades. Acredito que tenham criado alguns destes mistérios também, mas a idéia do jogo já existia há muito tempo, e alguns dos enigmas eu já conhecia há anos, de brincar com os amigos. Já era algo de que eu gostava muito, e quando ouvi dizer que havia um compêndio disso, fiquei enlouquecido de vontade de ter todos.
As partidas podem realmente durar 2 minutos, na excepcional escolha de um caso fácil com a presença de jogadores atentos ou experientes à mesa, mas não creio que o limite de 222 minutos máximos seja válido. Algumas das partidas que joguei duraram mais de um dia para terem o mistério solucionado.
A idade recomendada de 12 anos me parece um tanto inadequada também. Nenhum dos caso na caixa tem conteúdo sexual, mas alguns deles podem ser indigestos até mesmo para adultos mais sensíveis. Pessoalmente, a idade recomendada deveria ser de a partir de 16 anos.
Apesar do tema pesado, Black Stories é um jogo ótimo para diversas situações: é um bom jogo de entrada, já que tem poucas regras, é baseado em mecânicas já conhecidas por algumas pessoas, e possui elementos de cultura pop nos casos; pode facilmente ser carregado num bolso traseiro de calça jeans; é muito divertido de se jogar; é um ótimo exercício cerebral; e não tem limite de jogadores. Minha única ressalva é com relação a pessoas mais sensíveis, ou ambientes menos descontraídos, ou com alimentos, como o jantar de 90 ano da sua tia-avó.
Achei uma compra muito válida. À época, paguei R$25,00 no jogo. Como são 50 enigmas, gastei R$0,50 por partida, o que me parece bastante razoável.
Quem vai gostar deste jogo?
Acho que principalmente um público mais jovem, que agrada mais do tipo e coisa macabra que aparecem nos filmes de terror made in USA, como Premonição e seus correlatos, mas também o público nerd, devido ao exercício mental presente no jogo, e aqueles que gostam de brincadeiras de adivinha ou que consomem cultura relacionada a detetives e investigações.
Quem não vai gostar deste jogo?
Pessoas que não gostam do exercício mental necessário ao desenlace do jogo, aquele preguiçosos ou que desistem com facilidade. Pessoas que lêem menos, que assistem a menos filmes, que vão pouco ao cinema, ou que consomem menos cultura, no geral, podem não ter o conhecimento de cultura geral necessário à resolução de grande parte dos casos presentes no jogo. Pessoas de estômago fraco também podem não entender a graça de se jogar algo tão macabro.
Joga bem com a quantidade de jogadores proposta?
Sim. Joga bem em qualquer quantidade de pessoas. Há, é claro, alguma diferença. Com menos cabeças pensando o mistério é possível que ocorra uma demora maior para que se encontre a solução. Normalmente essa diferença é de poucos minutos, mas ela existe. Com muitas pessoas pode parecer que o caso foi resolvido rápido demais e, caso o mestre não consiga organizar as coisas, o volume de perguntas com todos perguntando ao mesmo tempo e as respostas sendo dadas sem muita ordem podem atrapalhar o desenvolvimento da partida e frustrar os jogadores.
O que me encanta neste jogo?
Acho que o que mais gosto no jogo é o desafio mental de ter que produzir uma história tendo como base pouco mais de 2 frases para começar, uma imagem que pode não ter nada a ver com o caso, e podendo utilizar apenas perguntas que gerem respostas “sim” ou “não”. Ganhar um jogo desses, um desafio desta estirpe, gera um sentimento de conquista extraordinário. Gosto demais da possibilidade de poder jogá-lo no trabalho ou num bar com os amigos. Gosto dele também porque a esposa gosta muito e posso jogá-lo com ela.
Porque está na minha coleção?
Porque é o único do tipo. Não há outro jogo assim no mercado. Também porque é como uma biblioteca de casos diversos. Sempre que quiser posso ir lá e buscar um caso qualquer para brincar, como mestre ou investigador.
Ainda é divertido depois de 50 partidas?
Foram 54 partidas até o momento. Depois que se joga todos os 50 enigmas presentes no jogo, ele muda. A partir disso você só pode fazer o papel do mestre, uma vez que todas as soluções são de seu conhecimento. Eu demorei alguns meses para completar as partidas, tendo sido parte do time de investigação em aproximadamente metade dos casos. Acho muito mais divertido fazer as perguntas e, para algumas pessoas o jogo pode perder totalmente a graça depois que acabam os casos. No meu caso, apesar de gostar mais de perguntar, também gosto muito de ser o mestre e responder às perguntas dos jogadores, então eu mantenho me divertindo muito ainda, mesmo agora. Gosto de ver a cara de desespero, frustração, ódio, nojo e vitória na cara das pessoas, e gosto de ver suas cabeças funcionando enquanto formulam perguntas e tentam remontar o caso.
Pontos positivos:
Caixa pequena, cabe no bolso traseiro de uma calça jeans;
Bom jogo de entrada, mas agrada também aos gamers pesados;
Único jogo do tipo no mercado;
Fácil de ensinar;
Ótimo desafio mental;
Joga bem com qualquer quantidade de jogadores;
O jogo ainda funciona após se ter jogado os 50 casos;
Bom custo x benefício;
Arte e tema interagem bem, criando uma atmosfera temática muito interessante.
Pontos negativos:
São apenas 50 casos;
Caixa amassa e rasga com facilidade;
O desafio mental pode ser demais para mentes mais preguiçosas, ou pessoas que desistem fácil;
Em partidas com muitos jogadores pode haver confusão ao se ter muitas pessoas perguntando ao mesmo tempo;
Quem não aprecia o papel de mestre perde o jogo ao fim dos 50 casos;
Pode ser pesado para as pessoas mais sensíveis;
Idade mínima recomendada de 12 anos deveria ser de 16.
Esta foi minha quinta resenha sobre jogos de tabuleiro. Espero ter colaborado com sua busca por informações. Todos os comentários e sugestões são bem-vindos.
Seguuura, peão!