Já que deram aqui as primeiras impressões, então vou de segundas mesmo [rsrsrsr].
Tive a chance de estrear (finalmente) o U-BOOT, um dos jogos de tabuleiro mais comentados do momento. Todos já sabem que se trata de um SIMULADOR DE SUBMARINO, mas vamos com calma aqui porque eu prefiro olhar pra ele como um jogo de tabuleiro mesmo (pelo menos os elementos estão todos lá: cartas, miniaturas e tokens).
O jogo não é meu, por isso não vou analisar MANUAIS, CAIXAS, INSERTS e nada disso (aliás tudo isso já está analisado nos vídeos no Youtube, pra quem tiver curiosidade).
O JOGO
U-Boot é um jogo cooperativo que coloca até 4 pessoas no comando de um Submarino alemão da segunda guerra mundial cumprindo missões passadas a nós através de um aplicativo (de PC ou CELULAR). Baixe o aplicativo, monte o setup e tcharam, pode sair jogando. Escolha a missão, escolha a dificuldade e vamos para o alto mar.
São 4 profissões: CAPITÃO (o pica grossa), NAVEGADOR (os olhos), ENGENHEIRO CHEFE (o Escrava Isaura) e o IMEDIATO (coça-saco).
Cada uma dessas profissões tem 4 marinheiros para trabalhar. O jogo funciona por revezamento de turnos, ou seja, a cada 6 horas esses 4 marinheiros tem que parar para descansar e outros 4 entram para substituí-los, então a grosso modo cada jogador controla 8 marinheiros. Cada marinheiro só pode ser ativado 3 vezes, ou seja, pode fazer 3 coisas e depois disso tem que esperar chegar o fim do turno para descansar.

QUE TIPO DE MISSÕES?
Jogamos DUAS MISSÕES. Na primeira foi uma CATÁSTROFE COMPLETA, não fizemos nenhum ponto e morremos todos. Já a segunda foi bastante satisfatória, conseguimos até afundar um inimigo! (galera, vocês não tem noção quão alegre a gente fica quando isso acontece, porque a dificuldade para isso é muito, mas muito grande).
As missões que o aplicativo nos dá (na verdade o QG nos dá) geralmente envolve tirar relatório de CLIMA e (caso você deseje), AFUNDAR algum barquinho inimigo.
Você começa numa parte do mar e deve ir do PONTO A ao PONTO B. No caminho você pode topar com alguma coisa estranha então o APP vai te avisar para evitar determinados locais (quadrantes) mas pode sugerir ir até outros para pegar um pouco de ação. Tudo é opcional, você pode dar uma bela banana para os combates e focar apenas no objetivo (mas qual é a graça?).

É NAVIO OU SUBMARINO?
Isso foi algo que achei interessante neste jogo. Nossa primeira ideia é de que vamos ficar o tempo todo enfurnados dentro de uma lata de sardinha debaixo dágua olhando pelo periscópio procurando inimigos e ficar disparando torpedos. ERRADO CARA PÁLIDA!
Os primeiros submarinos da segunda guerra eram na verdade BARCOS que podiam (eventualmente) submergir. Pasmem mas a quase totalidade do tempo você vai passar EMERGIDO, ou seja, na SUPERFÍCIE. Mesmo na linha dágua você consegue disparar torpedos e, principalmente, usar seus CANHÕES para destruir embarcações inimigas.

A razão para ficar na superfície é que você é infinitamente MAIS RÁPIDO que qualquer outra embarcação. Agir como submarino é uma ação FURTIVA que você só vai usar se pegar inimigos escoltados por navios de guerra (destroiers). Debaixo dágua seu "barco" fica muito mais lento e portanto submergir é uma ação bastante situacional.
ALOCAÇÃO DE TRABALHADORES?
A primeira coisa que notei ao ver os vídeos no Youtube é perceber que UBOOT parece um jogo de Alocação de Trabalhadores. Quando joguei, essa sensação se confirmou. Antes que me joguem pedras, vamos explicar:
Você vai passar boa parte do seu tempo CONSERTANDO COISAS. Sim, é incrível a quantidade de problemas que esses barcos davam em alto mar. Você pode passar horas sem detectar nenhuma embarcação inimiga, mas nesse meio tempo você não vai ficar parado (muito pelo contrário). O tempo todo ocorrem problemas (Verdinhos, Amarelinhos ou Vermelhinhos) que requerem MANUTENÇÃO, e praticamente tudo falha no submarino, desde problemas sérios nos motores ou parte elétrica até coisas bobas como manutenção em BANHEIROS e FOGÕES.
Essas falhas simplesmente acontecem naturalmente (lembrem-se, era 1940!), ou seja, você está apenas navegando e as ordens para manutenção aparecem no APP. Se vira pra consertar, malandro! Lembrando que o APP rola em tempo real, ou seja, enquanto os jogadores ficam discutindo QUEM VAI fazer os trabalhos, o problema vai piorando e se ninguém arrumar ele vai QUEBRAR, o que vai tornar seu conserto muito mais demorado (o que pode comprometer sua missão).

E como todo jogo de alocação de trabalhadores, seu objetivo será posicionar seus homens no lugar certo para realizar as tarefas certas com o menor custo de "ações" evitando assim que fique cansado. Colocar marinheiros para fazer coisas paras as quais eles não tem competência vai cansá-los mais rápido.
Eu comandei o ENGENHEIRO-CHEFE e o IMEDIATO. Pelo que pude perceber o CAPITÃO e o ENGENHEIRO CHEFE são os caras que mais tem trabalho neste jogo, ou seja, eles vão ficar o tempo todo movimentando seus homens pelo navio executando tarefas, pois o CAPITÃO tem que botar gente pra observar o mar enquanto o ENGENHEIRO CHEFE tem que ficar consertando os (constantes) problemas que surgem além de também estar sempre pronto pra SUBMERGIR em caso de emergência.
O IMEDIATO pra mim parece o cara mais sossegado do jogo, sua principal função é trocar de curso e ajudar na submersão.
Agora, o NAVEGADOR é de longe o cara mais importante da equipe e não me refiro às tarefas de seus marinheiros e sim pelo sua profissão em si. Ele é o OLHO do submarino quando este está as cegas. Se ele ERRAR, pode matar todo mundo a qualquer momento. Se houver um erro de ROTA o submarino pode se chocar contra o continente, ser direcionado para um campo minado ou topar com destroyers inimigos. Existe também a possibilidade de errarmos uma rota de interceptação para um inimigo mas isso não chega a ser um problema porque podemos "estimar" a direção dele e persegui-lo novamente.
Traçar rotas é super fácil, uma régua e um esquadro são elementos simples de serem assimilados. Traçar a rota de interceptação para inimigos já é algo mais chatinho, mas com 2 ou 3 partidas já se pega o macete.

Também, saber usar o DISCO DE ATAQUE é a coisa mais importante que ele precisa saber no jogo. Sem isso não vamos conseguir atacar navios inimigos ou fugir de destroyers. É uma peça extremamente complexa de se usar pela primeira vez, mas quando se pega o macete começamos a estimar as direções possíveis e ele já começa a ser usado apenas para "tirar a prova real".
QUIETO! ELES ESTÃO NOS CAÇANDO
Isso sim foi algo que nos pegou muito (mas muito) de surpresa. Quando um DESTROYER INIMIGO está nos caçando (o APP avisa), ele (o aplicativo) liga o MICROFONE (no notebook, do celular ou do Tablet). A partir de agora, qualquer SOM que você produza na sua sala (estou falando da SALA galera, não do submarino!!!) é produzido no APP e mostrado numa barra de ruído na tela. Se você falar alto o som vai se refletir no aplicativo e o inimigo VAI TE ENCONTRAR, pelo menos é o que eu acho que acontece porque dá pra notar que sons altos aumentam a barra de ruído enquanto silêncio mantém a barra sem movimento. Tanto que as vozes do APP começam a cochichar quando nos informam alguns acontecimentos...
Obviamente é algo que dá pra desligar porque muitos ambientes não vão permitir silêncio absoluto, mas não deixa de ser algo interessante, principalmente se funcionar.

A "barrinha verde" na imagem acima é o RUÍDO produzido pelo som ambiente. Se ele passar do pontinho vermelho, cuidado, o inimigo pode te encontrar (pelo menos essa é a ideia). Se funciona? Melhor não arriscar...
Em nossa partida, quando esta parada estava rolando, o inimigo ficou muito tempo acima da gente. Então eu sugeri ligarmos os motores a baixa velocidade e vazar do lugar. O Capitão teve receio dele ouvir os motores mas fizemos isso e conseguimos fugir (ufa!).
NADA É TÃO RUIM QUE NÃO POSSA PIORAR
Mesmo com todos os seus homens ocupados consertando coisas é bem nessa hora que você vai topar com as TENTAÇÕES oferecidas pelo jogo. Você vai avistar embarcações inimigas e vai ficar seriamente tentado a afundá-las (caso estejam sozinhas) ou terá que planejar bastante caso ela esteja sendo escoltada para evitar o contra-ataque dos Destroyers, e eles são implacáveis. O IMEDIATO terá que tentar identificar o tipo de embarcação que está aparecendo na tela através de uma série de silhuetas. Ali é visual, não tem jeito, é olhar e comparar com a ficha (como era feito na segunda guerra). Muito legal!
Só que ao tomar esta decisão de atacar você terá que retirar todos os seus homens de seus afazeres e alocá-los em locais diferentes, é uma verdadeira correria.
O simples ato de SUBMERGIR por exemplo exige um total de 6 marinheiros, todos em locais específicos do Submarino. Se não me engano mais 4 são exigidos para os TORPEDOS ou para os CANHÕES DA SUPERFÍCIE. Se estiverem realizando tarefas de manutenção, terão que parar.
Se um sucesso for obtido no ataque, tudo as mil maravilhas, é uma sensação pra lá de gratificante, o Moral é elevado, fica todo mundo feliz e satisfeito.
Mas se houver uma FALHA e formos avistados, seremos CAÇADOS e podemos tomar dano do inimigo com cargas de profundidade. Poucos danos (gás tóxico, incêndios, pane elétrica) podem ser consertados, marinheiros feridos podem ser curados e tudo pode voltar ao normal após alguns minutos de jogo (horas na missão).

Mas se os danos forem extremos, aí meu amigo... Se prepare para INFERNO!!!! Gás tóxico, incêndio, explosões, homens feridos, homens mortos, cai o moral (o que acarreta mais coisas ruins).
Se houver rompimento do casco e uma seção começar a inundar, temos 2 minutos pra montar um quebra-cabeças que mostre a figura da seção onde está havendo o vazamento. O APP então dispara um áudio que é simplesmente TERRÍVEL, com som de água entrando, homens gritando, alarme disparado, JESUS AMADO, dá vontade largar tudo e sair correndo [rsrsrsr]. Juro por Deus, é uma sensação terrível, de total desespero, a gente tentando montar o quebra-cabeças e olhando os minutos diminuindo...
CONCLUSÃO
"Eurogamisticamente falando", U-BOOT é essencialmente um jogo de alocação de trabalhadores. Cada jogador tem 4 peças à sua disposição, cada uma com suas qualificações. Se forem ativados para fazer o que sabem fazer, trabalham melhor, caso contrário gastam mais ações e se cansam mais rápido.
Mas esse parágrafo por si só passa a uma distância quase ABISSAL da imersão que este jogo proporciona. Todas as peças, o aplicativo, os tokens, as cartas e as profissões nos fazem MERGULHAR neste universo de combate de uma forma pouco vista em outros jogos de guerra.
Quando o capitão dá uma ordem de MOBILIZAÇÃO é uma correria total dentro do submarino, com marinheiros correndo de uma seção para outra assumindo seus postos para executar suas atividades da forma mais eficiente possível.
Quando um inimigo é avistado o coração dispara, começamos a suar frio, corremos para o binóculo para tentar identificar que tipo de inimigo é, quantos são, se estão sendo escoltados e o tipo de escolta.
O que fazer em seguida? Qual a rota dele? Estamos nos aproximando ou nos afastando? Vale a pena virar para atacá-lo? Submergimos? Tudo isso em TEMPO REAL onde precisamos decidir rapidamente antes que o inimigo nos detecte ou ele escape.


Some a tudo isso um aplicativo que tem como principal função te dizer apenas qual é seu objetivo primário e quais problemas de manutenção você precisa resolver para manter seu barco navegável. Ele não te diz o que fazer, ele apenas APONTA. A decisão de ir atrás da morte ou da glória é toda sua.

