Antes de mais nada, as regras para o Top 100 de Jogos Solo da 1 Player Guild Brasil já estão no ar. A votação começa na semana que vem. Não deixe de conferir!
Lançado na Essen de 2017 e, apesar dos bons reviews que recebeu de algumas pessoas de peso, como o Rhado, ao longo do tempo achei que o Santa Maria teve menos atenção do que merecia. Fiquei muito feliz quando soube do lançamento desse jogo pela Papergames e sabia que seria um excelente acréscimo à ludografia nacional. Me interessei por esse jogo desde bem antes do lançamento, pois a Aporta Games, a editora gringa dele, começou sua divulgação cedo. Soube do modo nessa ocasião e fiquei esperando mais informações, porque esse jogo, a princípio tinha várias coisas que me agradavam: eurogame multiplayer solitaire com dados, uma alocação de trabalhadores levinha, produção/gestão de recursos e com algo que começava a bombar naquele período, o tile laying à la Patchwork e Feast for Odin.
Assim que o jogo saiu e tive acesso ao manual e a alguns vídeos de gameplay, pude perceber que esse jogo tinha muito potencial de me agradar. Peguei uma cópia ainda da primeira edição e joguei bastante esse jogo.
Bom, em termos de componentes, a edição da Papergames é idêntica à da Aporta, está muito boa. Gostaria de destacar especialmente os dados de madeira desse jogo. Eles são um charme em si! Digo e repito que um jogo bonito e bom é melhor do que um jogo feio e bom. No nosso hobby, que é essencialmente analógico, a experiência táctil e visual é muito importante para que a experiência global seja boa. O manual não é lá o melhor do mundo, mas é mais que o suficiente para se aprender a jogar sem erros, porque as regras são de fato bastante simples. Não sei como está a tradução do manual, mas pela experiência que tive com outros jogos da Papergames, acredito que não haverá nenhum problema. É um jogo completamente independente de idioma, tem alguma iconografia, mas ela é facílima de se aprender. O manual e uma folha de referência são suficientes para auxiliar nisso.
Setup inicial de Santa Maria solo. Como falei, os componentes são excelentes. Nessa foto só ficaram faltando os recursos iniciais.
O gameplay de Santa Maria é bastante simples. São três rodadas de jogo, que começam com o rolamento dos dados (trabalhadores), continua com a seleção de ações e termina com a pontuação final naquela rodada. A partida solitária tende a ser rápida, acho que alguma coisa entre 30 e 45 minutos, conforme sua velocidade para jogar. Dada a natureza multiplayers solitaire desse jogo, seu modo solo é idêntico ao jogo normal, com uma mínima diferença de que você precisa atingir certos pontos no track do conquistador para ganhar a pontuação de final de rodada. Fora isso, o restante é idêntico. Nada muda. Seu objetivo é atingir a melhor pontuação possível, mas o jogo coloca uma pontuação mínima de 100 pontos como uma condição de vitória. Há alguns outros objetivos que você pode também almejar, mas confesso que nunca olhei muito para eles.
Foto do aspecto final do meu playerboard em uma de minhas últimas partidas. Nessa aí o resultado final foi de 104 pontos!
E qual a minha avaliação do modo solo de Santa Maria?
Santa Maria tem um modo solo leve, agradável e interessante, que me dá vontade de jogar de vez em quando. Não é um dos meus favoritos, mas é um jogo sólido e bom. Acho que ele tem mais pontos positivos do que negativos, mas não é isento de senões.
Entre seus pontos positivos, destaco alguns: a) bons componentes; b) regras simples; 3) partida rápida; 4) presença de uma condição de vitória clara; 5) variabilidade entre as partidas. Entre esses pontos, gostaria de destacar o último, a variabilidade. Eurogames com dados podem ter bons modos solo justamente proque a aleatoriedade dos dados faz com que a partida não seja tão previsível e você precise se adaptar turno a turno. Santa Maria não é um jogo dependente de sorte, você consegue manipular os rolamentos com tranquilidade, mas os dados trazem aquele pouco de sal para a partida.
Como escrevi acima, nem tudo são flores em Santa Maria. Ele também tem seus problemas.
O primeiro deles é que eu fico com uma sensação de que o jogo tem uma primeira rodada previsível. Você tem que avançar rapidamente no track de religião para conseguir mais dados azuis. Assim como em muitos jogos de alocação de trabalhadores, quanto mais deles você tem, mais ações consegue fazer, logo, faz sua máquina de pontos funcionar mais cedo e melhor. Já fiz testes de tentar adquirir mais trabalhadores de forma mais orgânica, mas o resultado é sempre inferior a acelerar para ir atrás deles ainda na primeira rodada do jogo.
O segundo ponto que acho ruim é que não há um antagonismo real, você joga contra um alvo de 100 pontos, mas, na prática, o que você está fazendo é tentar atingir a máxima pontuação possível, ou seja, um beat your own score clássico. A mim isso não incomoda, mas pode ser que para algumas pessoas isso possa ser um problema maior. O que os criadores do jogo fizeram foi basicamente o que sugeri como alternativa para o modo solo do La Granja no
review que fiz dele há pouco tempo aqui no canal. Não é que isso seja nenhuma sacada de game design é propor uma solução que mitigue o estigma de beat your own score. O modo solo de Santa Maria nada mais é do que você jogar contra o próprio sistema que o jogo propõe. Ainda que esse seja um jogo com pouca interação entre os jogadores, nenhum dos pontos em que ela ocorre é contemplado. Do ponto de vista de design para esse modo de jogo, isso é ruim de verdade.
O último ponto negativo é o tema. Não que ele seja muito importante ou presente, mas já passou da hora da indústria começar a pensar em coisas menos óbvias e datadas. No mesmo ano em que veio o Santa Maria, veio também o Spirit Island, que inverte essa questão totalmente e, esse sim, traz uma proposta mais oxigenada e interessante, também com
review no canal. Para se destacarem e sobreviverem num mercado pujante e com tantos lançamentos, ainda que mecanicamente funcionem, os jogos precisarão apostar em novos temas, bons componentes e algo que traga mais brilho para eles mesmos, quer seja no gameplay, quer seja na história, quer seja na experiência. Santa Maria, nesse ponto, falha redondamente. É um jogo com um tema de 20 anos atrás. Ultrapassado, portanto.
Em conclusão, Santa Maria é um jogo bacana, que possui um modo solo funcional e, a meu ver, simples, leve e gostoso de se jogar. Por enquanto deve permanecer na minha coleção. Espero que o texto ajude você a decidir se ele é para você também.
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