LuisPerdomo::EdgarWZ::
Acontece - pelo menos é a impressão que eu tenho - que as expansões hoje em dia parecem ser cada vez mais um fator presente no desenvolvimento/design do próprio jogo antes mesmo de ele ser lançado, e não como antes quando a expansão passava a ser pensada/encomendada depois de o jogo ter sido lançado e de ter alcançado certo sucesso.
Dito isto, eu gostei o suficiente do Teotihuacan para querer jogar com a expansão, mas repito: ele não precisa da expansão para proporcionar enorme rejogabilidade.
Sim, tenho essa impressão também. É uma tendência do mercado de design de boardgames. Olhando pelo lado comercial da coisa, se você não segue o fluxo, você já começa muito atrás na concorrência. Sobretudo em tempos onde o colecionismo tem ganhado cada vez mais espaço que o próprio ato de se jogar os jogos.
Outro dia eu vi uma citação a respeito desse fenômeno, não lembro se no Reddit ou no BGG, que dizia que, "se continuarmos nesse ritmo, mais pra frente as expansões vão vir antes dos próprios jogos".
Também há aquela máxima "se o jogo precisa de expansão pra brilhar na mesa, é porque o jogo não é bom". O que reflete muito esse fenômeno dessa enxurrada de expansões que vêm surgindo cada vez mais rápido. O propósito nobre de uma expansão seria dar uma sobrevida a um jogo que já foi jogado muitas e muitas vezes. A expansão, nesse sentido, seria responsável por dar uma oxigenação no jogo, tornando-o fresco novamente.
Atualmente, as expansões saem tão rápido que não dão nem tempo do morto esfriar. Há quem jogue o jogo uma vez e já fica na expectativa da expansão quando a pessoa não explorou nem 1/3 do que o jogo tem pra oferecer em sua versão vanilla.
Devem-se levar também em conta os propósitos comerciais de uma expansão. Para jogos como o Scythe ou o Rising Sun, por exemplo, uma das justificativas mais levantadas pelos fabricantes é que o jogo base ficaria muito mais caro se viesse de cara com aquela expansão que aumenta o número de jogadores. O problema desses jogos é que neles vêm estampados no tabuleiro ícones que são exclusivos da expansão. Na prática eles funcionam como um eterno lembrete "esse espaço aqui está destinado à expansão, que você ainda não tem".
(*Não tenho o Rising Sun, posso estar cometendo uma injustiça aqui, mas se não me falha a memória, assim como o Scythe, ele também tem ícones no mapa relativos a clãs que só vêm na expansão.)
Há alguns anos atrás, a estratégia de se lançar uma expansão era reaquecer as vendas do jogo base. O jogo vendia bem nos primeiros anos, novos jogos surgiam e o jogo perdia espaço no mercado, alguns anos depois, lançava-se a expansão e o jogo base voltava a receber alguns holofotes por associação como se fosse novo. Além disso, segue a lógica que "jogo ruim não ganha expansão", dizia-se, logo, por meio de um raciocínio reverso, muitas vezes falho, "jogo bom é acrescido de expansão", o que não necessariamente se traduz como verdade.
Hoje em dia, esse ritmo das expansões tomou uma proporção tão grande que, como você pontuou muito bem, parece que os jogos já são feitos simultaneamente com as expansões, ou ainda, os jogos são criados e cortam-se alguns elementos do jogo a fim de reservá-los para a expansão. Eles promovem a coisa de um jeito que parece que o jogo base é um mero teaser e se você quiser ter a experiência completa, você vai ter que ter a expansão. Você já pagou mais da metade do valor total, já botou o pezinho na água, agora se joga logo.
Por outro lado, algo que eu acho muito positivo na existência de expansões para um jogo é a possibilidade de customização. Usando um jogo que tenha uma infinidade de expansões como exemplo: Carcassonne. Você pode jogar o Carcassonne sem expansões, ideal para novatos; com as expansões consideradas essenciais, Inns & Cathedrals e Traders & Builders; ou ainda, você pode pisar na jaca, abrir um Carcassonne big box e colocar tudo junto e misturado. Não tem certo nem errado, depende do seu gosto e do seu grupo. O Carcassonne é um ótimo exemplo pois foi o gateway de muitos aqui, inclusive este que vos fala, e para muitos, só tomamos conhecimento de suas expansões quando mergulhamos mais a fundo no hobby, onde nossos gostos foram mais refinados e a expansão foi responsável por reavivar aquela dose de desafio que o jogo pode proporcionar.
Existe também a questão econômica de cada indivíduo. Adquirir uma expansão representa um compromisso com o dinheiro para comprá-la, tempo para jogá-la e espaço na estante para guardá-la. Essas três variáveis poderiam ser utilizadas para um jogo novo, por exemplo. Felizmente o que não falta hoje em dia é review e gameplay para auxiliar nessa tomada de decisão. O pior sentimento em uma expansão é quando você não tem vontade de jogar com ela, ou seja, um investimento mal feito. Não que você se veja obrigado a sempre jogar com a expansão agora que você a tem.
Eu jogaria a expansão do Teotihuacan a título de curiosidade. Há uma remota possibilidade dela me fazer mudar de ideia, mas ao que tudo indica, na minha concepção, o jogo é fechadinho e se melhorar estraga. Ele me trás um sentimento similar a um review que eu li de um cara que jogou Keyflower 1000 vezes, das quais ele jogou 800 vezes apenas como o jogo base, apesar de ter as expansões. A justificativa dele foi "adoro o jogo e ele é perfeito pra mim na sua versão básica, as expansões são apenas pra dar um pouco mais de variabilidade". E olha que, talvez mais ainda que o Teotihuacan, Keyflower tem variabilidade até dizer chega, mas esse sujeito jogou 1000 x o jogo, então ele tá mais que perdoado, ele tá de parabéns.
A todos que lerem esse texto:
Gostaria de deixar claro que essa crítica não se dirige ao jogo Teotihuacan em si. Acabei extrapolando um pouco o tópico. Talvez eu escreva um texto sobre essa questão das expansões de forma mais genérica no fórum geral. Essa é apenas a minha opinião. Eu não tenho nada contra expansões, adoro expansões, mas quando elas têm o seu devido sentido pra mim. Ninguém é melhor do que ninguém por jogar um jogo com ou sem expansões. O importante é ser feliz. Se você só vai se sentir satisfeito quando completar todos os extras possíveis de um jogo, isso é um direito seu e não cabe a ninguém julgá-lo. Todavia, apenas tome cuidado para não estar se afastando do propósito que provavelmente o levou a esse hobby, que é o de jogar os jogos e não simplesmente completar uma prateleira da estante.
Desculpem o textão, adoro boardgames, não sei sintetizar essa paixão.
Excelentes considerações, Luis. concordo plenamente com você. Faça sim um texto sobre esse tópico no fórum geral. Acho que você levantou várias questões importantes para serem discutidas e conscientizadas pela comunidade. Abraços.