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Neste Fala Mana, conversamos com a Patrícia Nate, idealizadora do Lady Lúdica, evento de board games na representatividade feminina. Os encontros acontecem desde 2017 no Rio de Janeiro, mas já teve uma edição em São Paulo. Hoje, a equipe conta com 16 mulheres engajadas em cada detalhe da organização, desde a decoração até a busca por apoios e organização financeira. A seguir, nossa conversa com a moça, que falou sobre a origem do Lady Lúdica, representatividade feminina e, claro, jogos de tabuleiro.
Como surgiu a Lady Lúdica?
O Lady Lúdica surgiu de uma experiência pessoal. Eu comecei a jogar jogos de tabuleiro em 2014 e não conhecia ninguém que jogasse. Eu tentava trazer amigos pra jogar, mas é muito difícil, a maioria furava ou vinha uma vez e depois sumia. Comecei a interagir nos grupos do Facebook e soube que existiam muitos eventos voltados para os jogos no RJ, mas e o medo? Como mulher, tinha muita insegurança de ir sozinha a um evento desconhecido, cheio de homens. O meio nerd é conhecido pelas mulheres como tóxico e problemático e a ideia de ir sozinha em um evento com potencial pra ter praticamente nenhuma mulher me assustava. Eu levei muito tempo pra criar coragem de começar a frequentar os eventos e só fiz isso quando já tinha feito amigos online que encontraria nos eventos. A partir disso, em um dado momento me deu um estalo, quantas mulheres não têm esse mesmo medo? Como eu poderia criar algo que resolvesse esse problema ou facilitasse o acesso das mulheres aos eventos? Daí veio a ideia de um evento todo construído por mulheres e com uma estrutura própria para recebê-las e acolhe-las.
Qual a importância de organizar um evento cujo foco são as mulheres?
“Representatividade importa”. É basicamente isso. O Lady Lúdica vai além do ambiente confortável para receber mulheres, é um movimento de inclusão feminina no hobby dos jogos de tabuleiro, que transcende os eventos mensais. A partir da existência do evento, pudemos perceber um aumento significativo do engajamento de algumas editoras e empresas no sentido de entender a necessidade e importância de abrir portas para a representatividade e principalmente expor isso! Isso fora realmente a percepção de que o evento funciona sim atraindo mulheres que querem ter certeza de serem acolhidas em um meio nerd.
Equipe Lady Lúdica na comemoração de dois anos do evento
Quais são os jogos favoritos das “Lady Lúdicas”? Quais foram os lançamentos deste ano que mais empolgaram vocês?
Difícil dizer, nosso público não tem um comportamento “padrão”, recebemos realmente todo tipo de gente com todo tipo de gosto, todos os jogos veem mesa sempre, dos party aos euros pesados. Neste ano, estamos muito empolgadas com a nova edição do Pablo, da Funbox! É um jogo que a gente se diverte demais jogando. E também ficamos muito animadas com o Fae, da Conclave.
Você acredita que o mundo dos board games é acolhedor à presença feminina?
Acredito que já foi muito pior, o que nem de perto significa ser acolhedor. Já melhorou muito e a participação feminina como um todo já é algo tratado com mais naturalidade que alguns poucos anos atrás, mas ainda existe muito machismo. Infelizmente ainda sabemos de diversas mulheres que não se sentem confortáveis de frequentar outros eventos que não sejam com foco em representatividade.
Vocês já sentiram que receberam qualquer tratamento diferente nas jogatinas pelo fato de serem mulheres? Como identificaram essa diferença?
Ao longo do tempo recebemos muitos relatos e depoimentos de diversas mulheres. Tem machismo manifestado de tudo que é forma. Tem assédio, tem gente que atropela a mulher e não deixa ela falar/opinar em cooperativos, tem preconceito entre os jogadores de jogos mais estratégicos, tem homem querendo ensinar as melhores jogadas como se a mulher não soubesse o que fazer. Quando voltamos nosso olhar para identificar esse tipo de situação, podemos observar isso ao nosso redor constantemente em ambientes que não eduquem e conscientizem os homens.
O que você acha que falta para termos uma maior presença feminina no hobbie, tanto nas mesas e eventos quanto nos ambientes profissionais?
Ainda faltem criadoras de conteúdo mulheres. Aos poucos, vemos cada vez mais mulheres em destaque nas editoras nacionais, muitas mulheres participando ativamente de eventos. Também vemos um movimento de incentivo às game designers mulheres (entre elas mesmas, no caso), mas acredito que ainda seria de grande impacto um bom canal no Youtube com mulheres à frente.
Patrícia Nate (no meio) com Equipe Lady Lúdica na primeira edição do evento, em 2017.
Qual conselho você daria para as mulheres que querem ingressar profissionalmente na área?
Não acredito que o nicho dos jogos de tabuleiro seja a melhor opção para quem busca uma área rentável. Mas, para as mulheres que tiverem como sonho participar de alguma forma do mercado, acho que é bacana buscar conhecer as pessoas. O mercado dos jogos de tabuleiro no Brasil ainda é muito pequeno e todos se conhecem, todas as editoras são extremamente acessíveis em termos de comunicação. Acredito que seja realmente estruturar o que quer propor como trabalho (em qualquer área que seja) e buscar as pessoas que podem ajudar de alguma forma. Lembrando que, como em qualquer área da nossa vida, é preciso estar disposta emocionalmente pra lidar com muito machismo sim, infelizmente.