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Nesta edição da nossa seção de entrevistas com mulheres atuantes no mundo dos Board Games, conversamos com a Aline Costa, fundadora do Canal Turno Extra, também conhecida como Mohanah. O blog já é um dos principais sobre o assunto que tanto amamos e a Aline é a principal responsável pela produção de um conteúdo de muita qualidade. Nesta entrevista, perguntamos a ela sobre o canal, sobre seus jogos preferidos e, claro, sobre ser mulher neste meio.
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Aline Costa Poderosíssima!
Como surgiu o Turno Extra?
Quando eu comecei no hobby, cerca de uns 5 anos atrás, não existiam tantos produtores de conteúdo, tanto que eu conseguia acompanhar praticamente tudo. Hoje em dia isso, é quase impossível. Eu gosto muito de registrar a minha opinião sobre as coisas, acho que enriquece a minha experiência. Quando eu gosto ou não de algo é natural para mim ficar analisando, eu tenho uma necessidade de tentar entender os
motivos. Então, a junção do fato de não ter muita gente produzindo conteúdo, com essa minha característica de gostar de analisar as coisas e a empolgação inicial de descobrir todo esse fascinante universo dos jogos de tabuleiro modernos me levou a criação do blog e, posteriormente, do canal no Youtube.
Como você começou a gostar de jogos de tabuleiro? Quais são os seus preferidos?
Eu descobri os jogos de tabuleiro modernos por causa do lançamento do LCG de Game Of Thrones no Brasil pela Galápagos Jogos. Na época, eu era bem fã da franquia, a série estava no início e eu estava lendo os livros. Eu comecei a pesquisar e descobri Catan, Carcassonne, Summoner Wars, Zombicide e não parou mais. Eu fiquei louca quando descobri que existia jogo de Battlestar Galactica, que é uma das melhores séries de todos os tempos. Foi meu primeiro importado.
Pergunta de jogo favorito é um negócio muito ingrato porque vai mudando com o tempo. Battlestar Galactica está entre um dos meus favoritos, uma adaptação muito bem feita, que te coloca mesmo na história. Melhor jogo com mecânica de traidor. Outro jogo que eu amo por ser uma adaptação primorosa de uma franquia que mora no meu coração é Guerra do Anel. Eu gosto muito de DC Deck-Building Game, não apenas pelo tema de super-herói, mas a mecânica foi muito bem aplicada. Todos os amigos que jogam na minha casa foram doutrinados, é sempre um jogo que fecha as jogatinas. Eu gosto bastante de Euro, meus preferidos são Agricola e Myrmes. E eu não posso encerrar sem citar Recicle, que foi o jogo brasileiro que despertou o meu interesse por jogos nacionais. Para mim é um dos melhores já lançados até hoje e merecia muito uma reimpressão.
Quais lançamentos deste ano mais te empolgaram?
Não me empolguei com nenhum já lançado até agora. Porém, estou bem interessada no Wingspan, ainda não tive oportunidade de jogar. Agora tem uns jogos anunciados para sair ainda que me empolgaram bastante, estou na expectativa de Teotihuacan, 8Bit Box, Dinosaur Island, The Grizzled: Armistice Edition, Cleopatra and the Society of Archtects, Ex Libris e Victorian Mastermind,
Quais jogos você gostaria muito que trouxessem para o Brasil?
Tokyo Highway atualmente é o primeirão da minha lista. Eu gosto muito dos jogos de uma editora japonesa chamada Oink Games, por isso gostaria de ver alguns títulos deles por aqui, um dos jogos mais famosos da editora é o Deep Sea Adventure. Outros jogos que eu ficaria bem feliz se fossem lançados no Brasil seriam Food Chain Magnate, Rococo, Memoir 44 com expansões, Steampunk Rally, Kolejka e Wings of Glory – Tripodes & Triplanes. Alguns dessa lista são difíceis, mas nunca se sabe.
Como tem sido sua experiência até o momento de produzir conteúdo e interagir com o público dos jogos? Já rolou algum comentário desagradável nas redes?
Nunca rolou nenhum comentário desagradável do público. As experiências ruins que eu tive foram com gente dos bastidores, por assim dizer. Mas a percepção que eu tenho nesses anos de produção de conteúdo é que as pessoas em geral valorizam mais o que é feito por homens. Acontece também de muita gente procurar o Felipe para falar sobre assuntos do canal, em vez de me procurar. Ele colabora comigo, mas a maior parte sou eu sozinha. Isso teve um pouco de influência em eu passar a fazer os vídeos sem ele, antigamente a gente fazia em dupla. A parte escrita sempre foi eu sozinha mesmo.
Você acredita que o mundo dos board games é acolhedor à presença feminina?
Apesar de não ser exatamente hostil, eu não chamaria de acolhedor. Melhorou bastante, mas ainda falta muito. É difícil para qualquer pessoa nova sozinha, ser algum tipo de minoria só complica ainda mais. Eu acho que, muitas vezes, as pessoas são bem fechadas em seus próprios grupos de amigos. A minha visão é que quando se vai a um evento deve-se estar aberto a jogar com pessoas diferentes. Jogatina com amigos a gente faz em casa. É claro que acontece de encontrar amigos em eventos e jogar junto, mas isso não deveria impedir de jogar com outras pessoas.
Você já sentiu que recebeu qualquer tratamento diferente nas jogatinas pelo fato de ser mulher? Como identificou essa diferença?
Acho que toda mulher já passou por isso em maior ou menor grau. Já aconteceu comigo de ser meio que ignorada ao me aproximar de mesas de Euros e outros jogos mais pesados, de me explicarem regras de jogos que eu já sabia ou de ficarem tentando me dizer o que eu deveria ou não fazer no meu turno. Eu sinto meio que um 80 ou 8 na questão de explicação: ou fazem meio de má vontade ou ficam querendo explicar
demais.
O que você acha que falta para termos uma maior presença feminina no hobby, tanto nas mesas e eventos quanto nos ambientes profissionais?
Falta incentivo. Quem tem visibilidade no meio não faz nada. O que a gente vê é sempre mais do mesmo. E quem tenta fazer alguma coisa acaba sendo atacado. É só observar o quanto de confusão gera toda vez que surge o assunto de eventos de representatividade feminina. As empresas acabam sempre querendo apostar naquilo que é mais seguro e que sabem que vai trazer rentabilidade para elas, então vira um círculo vicioso onde a gente sempre vê as mesmas pessoas. Algumas delas reconhecidamente tóxicas, mas quando só o que importa são os números é isso o que acontece.
Qual conselho você daria para as mulheres que querem ingressar na área?
Não desanimar, se tiver alguma experiência negativa. Como em qualquer outro meio, existe gente boa e gente ruim. E se houver eventos femininos onde você mora é uma boa forma de começar, pois geralmente são bem mais receptivos. Se for uma questão de ingressar profissionalmente, acho que é tentar se aproximar das mulheres que já trabalham na área, procurar conhecer a experiência delas.