Lançados pelo "cara dos Legacy" Rob Daviau - mente por trás de de Seafall, Betrayal Legacy e Risk Legacy - em conjunto com Matt Leacock, deisgner do Pandemic original, as temporadas Legacy de Pandemic entregam uma experiência bastante diferenciada no hobby. Ressalto aqui que a resenha é completamente sem spoilers de ambas as temporadas.
Pandemic Legacy é jogado ao longo de um ano, com os jogadores passando por cada mês em uma partida e tentando concluir os objetivos estabelecidos pelo jogo. Se vencerem a partida, seguem para o próximo mês e, em caso de falha, jogam novamente uma última vez aquele mês - seguindo em frente depois, independente da vitória ou da derrota. Ao fim de cada partida, os jogadores têm a chance de fazer mudanças permanentes no jogo que irão ajudá-los ao longo da campanha, então é bem importante pensar com cuidado e tentar tomar as decisões mais acertadas aqui. Isso ocorre tanto na primeira quanto na segunda temporada e, por aqui, cada temporada levou cerca de 21h para ser completada.

Objetivos de cada mês são estabelecidos pelo jogo.
Criação de personagens faz parte das duas temporadas de Pandemic Legacy.
A base estrutural das versões Legacy do jogo são praticamente o Pandemic comum - jogo que eu sempre achei bem sem sal e não muito divertido -, mas com alguns grandes diferenciais que transformaram o jogo em uma experiência incrível. Uma delas é a narrativa: Nas duas temporadas há uma história bastante envolvente, que cativa e faz os jogadores quererem jogar mais e mais para descobrirem como aquilo irá terminar. Outra coisa são as decisões tomadas pelos jogadores que afetam diretamente o andar da campanha. E não estou falando apenas das mudanças físicas que ocorrem no tabuleiro e nos personagens, com adesivos, rasgos e etc, mas de decisões que influenciam em como o próximo jogo vai ocorrer. Existem diversos momentos no jogo que você lê "se fizeram isso, X ocorre" ou "caso não tenham feito isso, Y ocorre". Então as decisões tomadas pelos jogadores impactam diretamente e isso trás um peso enorme ao decidir algo na campanha. E o mais legal aqui é que, ao fim da temporada, você recebe pontos pelas coisas que foi fazendo ao longo da campanha toda, perde pontos por coisas que não fez e calcula sua pontuação final. Essa pontuação leva a um epílogo, que pode ser bom ou ruim, e trás aquela sensação de conclusão da história.
Uma outra coisa que agrega muita qualidade ao jogo são as surpresas. Ah, as surpresas! Você já espera surpresas ao jogar um jogo Legacy, com toda aquela abertura de pacotes lacrados, novas regras e etc, mas em Pandemic Legacy as surpresas são de cair o queixo. Plot twists que deixam os jogadores na mesa estarrecidos, muitas vezes até sem saber como reagir. E que sensação maravilhosa é essa! Como um boardgame, um produto feito de papelão e plástico consegue causar tamanha comoção em uma mesa com um monte de adultos? Difícil explicar. Mas Pandemic Legacy consegue.
As ações em cada jogo têm que ser muito bem coordenadas para atingir os objetivos estabelecidos e pensar numa estratégia a médio e longo prazo, com as atualizações permanente do fim de cada partida, são essenciais para o sucesso na campanha. Então, além das emoções causadas pela campanha, Pandemic Legacy tenta tirar o melhor da estratégia do grupo, requerendo muita coordenação e comunicação para que o grupo chegue alcance os objetivos. Pandemic Legacy também agrada aqueles que procuram algo mais estratégico e menos narrativo, sim!
E qual a diferença das temporadas? Qual a melhor? Posso jogar a segunda sem jogar a primeira?
Bom, a grande diferença é a narrativa, sem dúvidas. E, aqui, um ponto muito positivo pros designers: Eles conseguiram se reinventar e trazer uma história completamente diferente de uma temporada para a outra. As histórias estão interligadas - afinal a temporada 2 é uma continuação da 1 -, mas trouxeram tanta coisa nova na história - e até nas mecânicas! - que isso tem que ser apontado como um fator muito positivo.
Mapa da segunda temporada é completamente diferente do mapa da primeira.
Sobre jogar a segunda sem ter jogador a primeira, é possível, mas eu acho que se perde algumas coisas bem interessantes da história - especialmente o maior plot twist da segunda temporada - e, sendo sincero, jogar Pandemic Legacy por conta das suas mecânicas sem desfrutar da história na sua totalidade é não aproveitar tudo o que o jogo oferece. No fim, não recomendo. Sobre qual temporada ser a melhor, aí vai muito pro gosto pessoal, mas ambas são excelentes e eu gostei igualmente das duas.
Pra não dizer que não falei mal de nada, fica aqui minha reclamação de que o jogo, muitas vezes, pode desandar completamente por conta de má sorte na compra das cartas e sim, isso algumas vezes me frustrou - mas nada que apague o brilho do jogo.
Pandemic Legacy é algo realmente único. O jogo é uma das melhores experiências do hobby. Veja bem, experiência mesmo. É fácil encontrar no mercado diversos jogos de worker placement, deckbuilding, rolagem de dados e etc, mas o conceito de ter uma experiência diferente no hobby, diferente do que você encontra ao pariticipar de uma mesa dos jogos comumente jogados por nós, você encontra em Pandemic Legacy. O jogo evolui conforme você joga e as partidas de Janeiro são completamente diferentes das de Maio, que vão ser completamente distintas das de Julho e por aí vai. Isso tudo com um jogo de mecânicas sólidas e aclamado mundialmente, agregado à ótima narrativa fazem de Pandemic Legacy algo que todo mundo deveria, ao menos, dar uma chance.
Entendo o lado de quem se preocupa com o aspecto Legacy que impõe um limite de vezes que se pode utilizar o jogo, mas como disse, a campanha em cada temporada durou cerca de 21 horas. Quantos jogos da sua coleção você bateu essa marca? Aqui, bem poucos, o que coloca Pandemic Legacy como um dos mais jogados, apesar de não estar mais em uso. E valeu cada minuto.
Pandemic Legacy é sensacional - em suas duas temporadas. Os designers pegaram um jogo que eu achava completamente sem sal e pouco divertido e transformaram em algo completamente viciante. Eu simplesmente não conseguia parar de jogá-lo e tive, algumas vezes, que me forçar a parar para ainda ter campanha a ser explorada no fim de semana e ficar com aquela sensação gostosa da expectativa.
Aos designers, deixo aqui meu sincero "muito obrigado".
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