Prólogo (sim, pode pular isso)
Estava eu pelo Diversão Offline SP 2019 esperando a mulher, quando um jovem chegou me perguntando se eu tinha 1 minuto para conhecer a iniciativa Histórias de pescador (não foi assim que falou mas eu posso mentir, veja o tema).
Olhei. Uma arte bonita, mas muito família para o meu gosto. Tema de pesca, estou completamente fora.
Respondi: não é meu estilo, obrigado.
- Mas só leva 1 minuto a explicação, pode confiar.
Como ele sabia que eu estava esperando alguém e não tinha desculpa, aceitei para não ser tão descarado e fingir ocupado.
Eu já havia gasto o que podia antes de conhecer o jogo. No final das contas joguei e comprei o safado com o que eu não podia gastar.
O que é o jogo?
Histórias de pescador é um jogo rápido de blefe e leve dedução. Os jogadores começam com 12 cartas de seres marinhos e o objetivo é descartar todas as cartas da mão para ganhar.
Como joga?
A temática encaixa bem com o andamento. Um jogador começa um "história de pescador". Ele pega uma certa quantidade de cartas, do mesmo ser marinho, e começa um novo assunto:
- Rapaz, eu peguei 3 lagostas (e joga 3 cartas, sempre viradas para baixo, no tabuleiro de rede no centro da mesa).
Então o próximo jogador tem 2 opções:
1) Continuar a história contando que também pescou lagosta, jogando qualquer quantidade de lagostas na rede(viradas para baixo).
2) Mudar de assunto, escolhe outro ser marinho mas precisa jogar (viradas para baixo) na rede 1 carta a mais que a quantidade do pescador anterior, desse novo bicho. Exemplo: no caso de o anterior jogar 3 lagostas seria necessário jogar 4 polvos, por exemplo, para mudar para polvo a história.
Pescador = mentiroso?
Até aí seria bem simples, mas em qualquer uma dessas 3 ações(começar, continuar, mudar de assunto) o jogador pode mentir e jogar cartas diferentes das que fala que pescou. Aí entra o blefe.
Em qualquer jogada, qualquer outro jogador pode duvidar da história do jogador da vez e contestar.
Uma contestação tem algumas consequências:
- As cartas jogadas por último são reveladas para todos.
- Se era verdade, as cartas jogadas ficam na rede. Se era mentira, o mentiroso precisa pegar de volta as cartas.
- Quem perdeu a contestação compra 2 cartas, seja o jogador da vez ou o contestador.
- Quem ganhou a contestação pode jogar 1 carta na rede de graça, virada para baixo.
- Se era verdade a história o jogo segue e o assunto se mantém o mesmo.
- Se era mentira, o próximo jogador após o contestado irá começar um novo assunto.
Ainda até aqui, ainda não me chamou a atenção. O que achei um soco no queixo foi:
4 das cartas iniciais dos jogadores são cartas de lixo!!!!
Isso irá obrigar os jogadores a blefarem, e muito. Muito mais que o restante obriga! Não há como jogar sem blefar!
Eu gostaria que existisse esse jogo anos atrás, pois ele é um family de blefe OBRIGATÓRIO. Seja no final do jogo quando fica sem bichos, seja para se livrar do lixo. Uma dificuldade comum que encontrei era que os jogadores não blefavam no Coup ou no Triple Agent(app), por exemplo. As pessoas não estão acostumadas a blefar e o jogo fica determinado. Este pequeno jogo agora é requisito obrigatório antes de eu ensinar Coup.
Prós
Regras simples para família ou crianças. Partidas e explicação rápidas. Dinâmica divertida.
Minha família jogou 3x seguidas logo ao mostrar (idades de 8-70 anos), só paramos por eu ter compromisso.
Excelente na função de botar o pessoal para mentir e blefar em joguinhos, mesmo aqueles experientes em boards mas que não estão acostumados com blefe.
Arte muito bonita, temática bem encaixada.
Há uma diversão extra em cartas de restrição que acompanham o jogo, que te fazem cumprir com coisas como fazer o som do bicho ou descrever o bicho sem citar o nome.
Contras
Há uma estratégia bem otimizada para o final do jogo, com um caminho mais fácil. Isso machuca um pouco a rejogabilidade com jogadores muito estratégicos. Com o tempo, vão tender a jogar parecido, perdendo um pouco do brilho da metade final das partidas quando sacarem.
Avaliação final
Como um jogo familiar e infantil, é muito bacana!
Como um gateway(portão de entrada) para jogos de blefe, é sensacional, ou até mesmo uma ferramenta essencial!
Pode não vai durar muito se usado como filler (jogo rápido preenchedor de tempo) para jogadores muito experientes.
Vai ficar na minha coleção, desempenha a função de gateway de blefe com maestria. Pessoas completamente introvertidas ficam mentindo fácil depois de um par de partidas rápidas.
Curiosidades (sim, pode não ler se quiser)
- Quem me apresentou o jogo foi o próprio autor, que é muito jovem(vinte e poucos anos), gente finíssima. A ideia do autor Lucas Melo e o trabalho de design e produção da TGM(Diego Sá & Guilherme Marques ) fizeram um produto muito polido, divertido e também útil.
- O autor enviou o protótipo para imprimir, a gamemaker viu potencial e direcionou para a TGM produzir em série!
- O autor só chegou a ver seu jogo pronto no primeiro dia do DOFF 2019, junto com os visitantes! Imagine como foi para ele do nada entrar em um evento e ver pela primeira vez um monte de cópias do seu jogo.
Agradecimento ao Lucas e TGM pelo produto!