Penso que quando se trata de um jogo, todas as situações possíveis de ocorrer em uma partida realmente deveriam estar explicitamente declaradas e previstas no manual. Portanto, de certa forma Lorde_Apache, concordo que seu amigo, embora forçando um pouco a barra, ainda assim não está totalmente errado. A situação poderia facilmente ocorrer em um hipotético campeonato extremamente competitivo com prêmio de alto valor em dinheiro por exemplo. Atribuo um pouco de culpa sim ao manual.
No caso do Power Grid, por exemplo, a mesma situação poderia ocorrer, pois nele também não vem explícito no manual se o dinheiro do jogador é ou não público. E esta é uma questão importantíssima, pois modifica totalmente a estratégia e o fluxo do jogo. Muitos vieram com esse mesmo argumento de que é uma coisa óbvia, que os jogadores deveriam ser fair play, que o jogador está sendo pirracento em se recusar a exibir o dinheiro etc. E, inesperadamente, o próprio autor do Power Grid liberou em um FAQ que o jogador não é obrigado a expor seu dinheiro.
No Catan a mesma situação, supostamente boba, poderia acontecer: o jogador que tirou o ladrão poderia querer saber quem tem mais ou menos recursos na mesa, para estrategicamente roubar uma carta desta pessoa, mas essa vítima também poderia se sentir no direito de se recusar a expor esta informação já que os recursos são dela, estão na mão dela. E aí teríamos que ficar brincando de juiz julgando quem tem mais razão, mas o intuito de jogar um boardgame também não é este. E felizmente se preocuparam em colocar no manual que quando sai o ladrão, todos os jogadores são obrigados a expor a quantidade de recursos que possuem, caso o jogador que tirou o ladrão pergunte.
Situação semelhante também ocorre no jogo A Guerra dos Tronos BG com as cartas dos jogadores no momento do combate. E que bom que também colocaram o respaldo no manual.
Esta questão, por mais boba que pareça, certamente também foi discutida com atenção pela equipe de desenvolvedores quando construíram a versão digital do Terraforming Mars. A máquina não pode trabalhar com achismos. A regra para isso precisou ser discutida e explicitamente declarada no código fonte do jogo de qualquer forma, impactando inclusive na construção da interface gráfica.
Não tem como fingir que estas questões nunca vão acontecer na vida real em um boardgame, pois em algum momento vão. E o ideal é que já estejam previstas no manual para não ter discussão. Na minha opinião essa robustez e detalhismo na descrição das regras, inclusive é mais uma característica que difere os jogos de tabuleiro modernos dos antigos.
Agora, o que vc e seus amigos podem fazer da próxima vez Lorde_Apache, é simplesmente entrar em um consenso sobre essa questão antes da partida começar. Assim fica bom para todo mundo e você ainda vai poder continuar jogando com esse seu amigo mais questionador, vamos dizer assim.
Aqui em casa, por exemplo, assumimos que somente as cartas verdes e azuis são públicas, as vermelhas o jogador pode esconder e usar estrategicamente assim como os PVs ocultos de Puerto Rico. Porém, convencionamos isso previamente, e acredito que este é o ponto de equilíbrio.
Falando de forma geral, infelizmente a maioria dos manuais são omissos quanto a estas questões, e na minha opinião, os jogadores não são obrigados a adivinhar a intenção do designer, principalmente nestes aspectos mais obscuros do fluxo de jogo. Apontar somente o jogador como culpado é o caminho mais fácil para resolver o impasse, mas também não é o mais realista.