Ao lado de Roberto Burle Marx, Fernando Chacel e Rosa Grena Kliass, você, como grande paisagista, recebeu um convite para planejar o mais encantador jardim. Diferente deles, você tem umas poucas mudas de árvores que, além de plantá-las, deve também manter para si como certificação de sua expertise na espécie de sua reserva. Apenas o mais prestigiado curador de uma espécie receberá os louros pelos caminhos planejados com aquela árvore.
Este concurso de melhor paisagista busca quem seja capaz de criar caminhos onde a exuberância do passeio cresce até chegar na mais majestosa árvore. É certo que um caminho feito com árvores da mesma espécie é belíssimo, mas pode ser que você peque por não ter caminhos alternativos com uma flora diversificada. Os jardins dos seus competidores têm o mesmo número de árvores que o seu, mas será que você será capaz de cativar turistas mais do que os seus adversários?
Arboretum é um jogo muito difícil de explicar por meio do tema. Eu não gosto de explicar ou ensinar regras - para isso já tem muita gente escrevendo, filmando ou falando por aí. Mas para reforçar meu ponto, aqui vai: Estamos tratando de uma caixa com 80 cartas, representando 10 espécies de árvores enumeradas, cada uma, de 1 a 8. No seu turno, o jogador deve sacar 2 cartas dos topos da pilha de compras (fechada) ou das pilhas de descarte dos demais jogadores (abertas) em qualquer combinação ou ordem entre as pilhas (de compra e de descarte). Depois de trazer as duas cartas para sua mão (onde já existem 7), ele deverá destinar uma (dentre as 9) para o seu jardim e outra para a sua pilha pessoal de descarte. Para pontuar, deverá ser possível apontar um caminho pelas cartas colocadas ortogonalmente adjacentes que seja sempre crescente e que comece e termine com a mesma espécie, ainda que não estejam em sequência (1,3,4,6... é um caminho válido).
As cartas têm ilustrações de árvores como que tiradas dum livro de botânica da década de 60. São muito bonitas, mas não impressionam. Têm um ar retrô. Eu mesmo já devo ter visto aquelas ilustrações nas enciclopédias dos meus avós (Barsa, Britannica ou Delta). E até consigo imaginar um paisagista usando óculos tartaruga, camisa abotoada até o 4 botão e calças boca de sino, esboçando onde colocar árvores num determinado lugar, mas você, ao fazer o mesmo na mesa, tem apenas duas preocupações: números e cores. Você pode ter um Carvalho 2 ao lado de um 7 e ainda conseguir fazer um caminho com mais duas ou quatro cartas, mas dificilmente você estará pensando se é agradável aos olhos colocar um Jacarandá ao lado dum Pinheiro ou duma Cerejeira.
O tema não é o forte desse jogo. Faltou muito pouco para conseguir jogá-lo com as cartas do Red7. E para quem imagina que o jogo vai proporcionar a experiência de criar um jardim botânico que atraia turistas do mundo, a frustração é certa.
Entretanto, para quem gosta de planejamento e de desafios que instiguem a inteligência espacial, Arboretum pode garantir uma boa dose diversão pelos próximos 30 minutos. Porque, para ganhar, você precisa pontuar com várias espécies, cruzar caminhos (as cartas podem pontuar mais de uma vez), manter a maior soma de influência das espécies mais valiosas do seu jardim... e tudo isso é gerindo nas cartas onde você posiciona no jardim e nas sete cartas que você mantêm, em segredo, na mão.
Dois elementos do jogo enriquecem muito a experiência e trazem uma boa medida de tensão: 1) a todo momento, o jogador é obrigado a descartar uma carta que pode ser muito vantajosa para outrem; e 2) as cartas reservadas em segredo na sua mão. Esse último, em especial, em razão de uma regra: uma carta 1 na mão de alguém anula a sua carta 8 da mesma espécie. Se isso ocorrer e se ninguém mais tiver cartas daquela espécie nas mãos, quem guardou o 1 terá o direito de pontuar o caminho da espécie, ainda que não tenha nenhuma árvore no seu jardim.
Há uma tensão crescente à medida que o baralho de compras vai chegando ao fim. E o final do jogo não é para o fraco de coração.