Fala Galera, tudo bem com vocês?
PaladinoMonge na área para dar minhas primeiras impressões sobre o jogo Glass Road após jogar uma partida.
No jogo, nós somos vidraceiros (ah, a gente fabrica vidros vai) e temos que lidar com a gestão de nossos recursos para produzir vidro e tijolo. Para isso, temos que administrar água, carvão, comida, areia, madeira e barro. Com esses recursos podemos construir estruturas para manter nosso negócio próspero.
Antes de continuar, bora colocar aqui alguns detalhes desse jogo.
Número de Jogador: 1 a 4
Mecânicas: ação simultânea, gestão de mão, colocação de peças
Dependência de idioma: baixa. O jogo tem pequenos textos nos tiles, mas como eles ficam abertos, basta uma pessoa ler que está resolvido. E ainda assim, os textos são bem curtos.
(Glass Road, mais um jogo bacanudo do Uwe Rosenberg)
Bom, vou começar admitindo que não conhecia esse jogo do Uwe e que já estava me preparando para jogar um jogo de alocação de trabalhador ou colocação de peças no estilo tetris.
Como eu estava equivocado e como o jogo me surpreendeu.
Estava equivocado porque o jogo não é uma alocação de trabalhador e muito menos é uma colocação de peças no estilo tetris. Apesar de ter essa mecânica, ela está mais voltada a construir estruturas (que são tiles) visando uma pontuação.
E porque o jogo me surpreendeu?
Pela mecânica que ele apresentou no gerenciamento de recursos e uso das ações através das cartas. Vamos falar sobre esses pontos.
O jogo traz um tabuleiro com duas roldanas onde mostra os recursos necessários para produzir vidro e tijolo. Os recursos para produzir cada um deles é independente e há recursos que se repetem em ambas as roldanas (por exemplo, você precisa de carvão para ascender o fogo).
(a roldana dos recursos é uma das coisas mais bacanas do jogo)
Até aí nada demais, não é? Quantos jogos já não trouxeram algo parecido. Mas aqui Uwe consegue trazer uma pontada de inovação nesse sistema ao forçar o jogador a produzir vidro e tijolo sempre que tem recursos para isso.
Como assim PaladinoMonge?
Simples meu caro, se você tem recursos para produzir 1 vidro, você produz automaticamente. Se você tem recursos para produzir 2 vidros, vai produzir 2 vidros na hora. O jogador não escolhe o momento. Se tem, já faz.
Apenas esse detalhe já traz um peso estratégico muito grande ao jogo pois aumenta muito a necessidade de gerenciar muito bem seus recursos e o momento certo de obtê-los. Isso porque as estruturas do jogo utilizam os vários recursos que tem no jogo. Então, se você quer construir uma estrutura que vai permitir que você ganhe pontos ao deixar tiles de lagos adjacentes, antes, precisa se certificar de ter os recursos para pagar o tile e administrar a criação de vidro ou tijolo.
Olha, é muito comum você adquirir um recurso pensando em construir aquele tile que vai te dar 4 pontos, mas ao fazer isso, produz vidro ou tijolo e, ao tentar construir, não consegue porque não tem um outro recurso, pois ele foi usado para produzir vidro ou tijolo. É desafiador.
Soma-se a isso ainda o fato de que as ações que o jogador faz são todas feitas através de cartas e que a ordem delas é essencial para gerenciar bem seus recursos e, assim, conseguir fazer aquilo que se tinha planejado, deixa o jogo bastante estratégico e queima mufa.
(O tabuleiro individual do jogador. Existem espaços que já vem preenchidos com arvores, lagoas e minas que precisam ser retiradas antes de construir uma estrutura)
Ah Paladino, isso é mole de gerenciar ué. Basta olhar com carinhos essas cartas aí e jogá-las no momento certo.
Bom, nem tudo é tão simples assim meu amigo. E para exemplificar isso eu preciso falar como é o funcionamento do jogo rapidamente.
O jogo se perpassa em 4 rodadas. A cada rodada, o jogador escolhe do seu set de cartas (que é igual para todos) cinco cartas. Destas cinco cartas ele poderá jogar 3 cartas e realizar as ações que constam nelas, pagando seu custo, caso exista.
Novamente, bem simples não? Mas aqui o Uwe também conseguiu trazer um ar inovador e que impacta diretamente o gerenciamento de recursos do jogador e, consequentemente, os recursos que se encontram na roldana.
Cada jogador escolhe, simultaneamente, uma carta para jogar e na ordem do turno, é revelado a carta escolhida. Caso um jogador tenha na sua mão a mesma carta que foi revelada pelo jogador da vez, ele realizará uma ação extra, jogando essa carta no turno do outro jogador. Mas quando isso acontece, cada um dos jogadores só poderá escolher uma das ações que tem na carta para realizar. Cabe ressaltar que são as cartas que estão na mão do jogador. Caso ele tenha a mesma carta mas escolher jogar ela nesse mesmo turno, ele não realizará essa ação extra, mas isso não significa que seja ruim, como vocês logo mais perceberão. Como cada jogador leva somente cinco cartas para a rodada, e todos devem jogar 3 cartas, cada jogador terá direito a ter 2 ações extras.
Perceba que o jogo força o jogador em dois momentos distintos, mas que acabam se interligando: Jogar uma carta que tenha na sua mão e fabricar vidro e tijolo. Como o gerenciamento de recursos é muito importante e o uso das cartas é essencial para isso, a utilização de uma carta antes da hora, pode atrapalhar todo um planejamento feito. E é aqui que o jogo brilha. Ele força o jogador a pensar no que quer fazer, quais estruturas construir, além de saber escolher as cartas certas para tirar proveito delas na rodada, seja através das ações extras seja pela realização das duas ações constantes na carta. Por isso mesmo, saber escolher quais cartas levar e também qual carta jogar é de suma importância para ter sucesso no jogo.
(O set de cartas de cada jogador)
Glass Road é um jogo que desafia o jogador a cada rodada a escolher bem as cartas e realizar as ações de forma a conseguir todos os benefícios possíveis. Mas ao mesmo tempo, ele também traz a necessidade de sacrificar pontos de vitória já garantidos para conseguir outras formas de pontuar.
Eita, agora eu viajei PaladinoMonge!
Calma, eu explico essa minha afirmação.
No jogo ganhamos pontos por tiles e recursos. Os recursos que ganhamos pontos, pelo menos no jogo base onde não tem upgrade, são os tijolos, areia e vidro. Cada tijolo e vidro te dá 1 ponto e a cada 2 areias você ganha também 1 ponto. Já nos tiles podemos ter duas formas de ganhar pontos: pela própria construção (alguns tiles têm pontos de vitória ao ser construído) ou no final do jogo (tiles com pontuação de final de jogo onde tem algum pré-requisitos que tem que ser atendido).
Como já citei acima no texto, para você construir você precisa gastar recursos, e muitas das estruturas gastam tijolo, areia e vidro (além dos outros recursos). Então, quando você constrói uma estrutura que faz vidro, você está sacrificando pontos de vitória por outros pontos de vitória. Isso fica mais evidente quando construímos os tiles com pontuação de final de partida. Caso não consigamos completar aquele pré-requisitos, não ganhamos pontuação nenhuma.
Isso faz com que a pontuação do jogo não seja tão alta e que escolher qual caminho a seguir para pontuar se faz de suma importância para ganhar o jogo. Uma escolha errada pode custar a vitória.
(O mercado do jogo onde ficam os tiles que os jogadores irão comprar as estruturas)
Uma pena que o tema se perca totalmente no decorrer do jogo e que não dê nenhuma sensação de que você está gerenciando recursos para produzir vidros. Para um jogo que foi feito em comemoração aos 700 anos de tradição da vidraria na floresta da Baviera, o tema merecia ter sido mais explorado. Mas isso não atrapalha a diversão que o jogo proporciona.
Vale ressaltar que o jogo brilha com mesa cheia, pois é dessa forma que a mecânica de ‘copiar’ a ação do outro jogador acontece de forma mais abundante. Com 3 ou 2 jogadores ela pode até acontecer, mas com menos intensidade (em dois jogadores chega a ser bem raro). Também vale ressaltar que, dependendo dos tiles que estejam no mercado, algumas cartas não serão usadas no decorrer da partida. Isso acontece devido a algumas cartas serem bastante específicas para determinado recurso, mas também porque existem cartas que, olhando o custo e as ações, parecem ser melhores do que outras. Tal sensação é constante no jogo. Apesar de não atrapalhar a experiência, algumas pessoas podem se sentir incomodadas por causa disso. No caso, eu já acho que você pode usar isso a seu favor, pois tais cartas dificilmente serão usadas pelos outros jogadores.
Se você gosta de jogos de gerenciamento de recursos, Glass Road é uma bela pedida. Com a inclusão do uso das cartas (que lembra bastante Broom Service, mas esse foi criado depois) e partidas que demoram em torno de 1 hora, ele tem um potencial enorme para agradar a muitos jogadores. Fico me perguntando porque as editoras nacionais não olham jogos nessa pegada com mais carinho.
Jogo mais que aprovado e já estou novamente com vontade de jogá-lo.