Sua expedição foi emboscada por nativos nas montanhas. Agora resta ao seu grupo sobreviver em um ambiente desconhecido, e chegar em um local de segurança o quanto antes.

E antes de qualquer coisa, 1572 não é exatamente um jogo de tabuleiro. Na verdade ele se comporta mais como um livro.
Foi feito para ser um jogo gratuito para imprimir e jogar, voltado a partidas solo, sem grandes decisões ou mesmo controle sobre seu destino. 

Então qual a graça? 

A graça é que aqui você escreve o diário de sua aventura. 
Algo mais ou menos assim:



Dia 1.
Ao fazer um breve reconhecimento da área, percebemos que a cadeia de montanhas em que nos encontramos é muito maior do que pensávamos. Nossos planos de avançar o quanto antes podem estar comprometidos. Mas nada pode ser feito agora, além de se preparar para uma longa caminhada.

Dia 2.
Já no início do dia encontramos uma pequena aldeia nas montanhas, com pessoas amigáveis e que não demonstravam medo frente aos visitantes. Lá recebemos a informação de que existe uma planície ao norte, por onde podemos contornar as montanhas. Não é o caminho mais rápido, mas parece a melhor alternativa considerando as informações que temos.

Dia 3.
Caminhamos sem parar desde a manhã, e chegamos a uma aldeia parecida com a anterior. Porém esta foi construída em torno de um grande Carvalho, muito maior do que qualquer árvore que eu já tenha visto em minha vida. As pessoas desta aldeia dizem ser uma área sagrada. Novamente nos trataram bem, nos oferecendo alimento e indicações sobre os melhores caminhos a seguir. A esperança volta a se mostrar nos olhos de meus companheiros.

(...)

Dia 5.
Estamos próximos à planície, mas antes mesmo de sair da área rochosa das montanhas o pior aconteceu. Nosso grupo foi atacado por um urso, e apesar de toda a munição gasta não conseguimos evitar a morte de um de nossos companheiros.
Fizemos um funeral simples, com pilhas de pedras demarcando seu local de descanso.
O grupo está claramente amedrontado, mas seguimos em frente entrando nas vastas planícies. Ficamos verdadeiramente gratos por sair das montanhas, e acredito que a movimentação do grupo será mais simples a partir de agora.

Dia 6.
Graças ao novo terreno, já conseguimos ter um vislumbre da grande floresta que se encontra à frente. Aceleramos nossos passos em sua direção.

Dia 7.
Antes mesmo de alcançar as árvores, encontramos uma pequena estrada de pedras rústicas camufladas em musgo. Seguimos por ela para dentro da floresta, e para nossa surpresa fomos levados a um pequeno templo em formato de pirâmide há muito não utilizado. É possível imaginar a surpresa de um grupo de arqueólogos frente à esta descoberta.
Mas em meio à euforia, minha preocupação passa a ser a alimentação, nossos estoques já estão no limite de segurança. Era de se esperar que não durariam a viagem toda.



Dia 9.
Nossa segunda semana se inicia explorando a nova área.
Ao que parece, esta floresta se estende pelo rio ao sul, e cresce ainda mais forte ao norte. O mais seguro no momento é tentar se aproximar do rio, e acompanhar seu serpentear até nosso destino.
A boa notícia é que esta área possui alimento abundante em forma de frutas e pequenos animais. É o suficiente para manutenção do estoque, apesar da difícil tarefa de coleta. Sobreviveremos, só não sabemos ainda se será possível levar algo para a viagem.

(...)

Dia 12.
Em um momento de bobeira, acabamos nos perdendo entre as árvores. Um dia de caminhada inútil. Foi visível a queda no ânimo do grupo, porém ao retomar nossa direção já avistamos o grande rio.
Estamos avançando novamente.

Dia 13.
Acreditamos que a floresta não se estenderá por todo o percurso, então decidimos utilizamos nossa última bala caçando porcos do mato. Agora o estoque de alimento está aceitável, e conseguiremos sobreviver uma boa distância antes de parar para reabastecer novamente.



Dia 16.
Finalmente a paisagem muda, e o rio nos apresenta um grande lago. Caminhar por suas margens é um alívio para os integrantes do grupo.
Mesmo sem munição, o uso de pequenas armadilhas se mostrou eficiente junto à grande quantidade de pássaros dessa região.

(...)

Dia 18.
No fim do dia chegamos a uma nova aldeia. Diferente das anteriores, aqui as pessoas parecem não se importar com nossa presença. Então decidimos prosseguimos com cautela, mesmo que desta forma demore mais para atravessar esta área.
Não é possível mentir, a moral do grupo chegou a um estado alarmante. O cansaço e falta de esperança não abandonam nossos corpos mesmo durante a noite.

Dia 19.
Ao conversar com o líder local, descobrimos que este povo mantém um prisioneiro isolado, que acabou se mostrando um membro perdido de nossa expedição. Tentamos negociar sua liberdade, mas as coisas não ocorreram como esperado.
Os locais decidiram que seu julgamento seria pelo sangue, lutando contra um grande leopardo mantido em cativeiro.
Obviamente nosso colega não sobreviveu, e seguimos imediatamente para a próxima região.

Dia 20.
Os horrores do último dia ameaçam a sanidade mental do grupo. Caminhamos o dia todo ao lado do lago em silêncio.



Dia 23.
As coisas não poderiam estar pior.
As montanhas, planícies e florestas por onde andamos não nos alertaram sobre os perigos de um lago. 
Em um momento de descuido, um dos nossos se aproximou da água, e um crocodilo o abocanhou. Não tínhamos munição para revidar a investida, e ele acabou sendo levando para as profundezas.
Nossa moral e recursos estão no fim, e não parece que o lago apresentará uma trégua.
Ainda não alcançamos metade do caminho, mas o tempo já se mostra contra nós. Só por Deus sobreviveremos esta viagem.

(...)

Dia 26.
A região dos lagos não tem fim, e as florestas que deixamos para trás com palavras de baixo calão agora parecem uma benção desperdiçada.
Os membros de nossa expedição caíram um a um, e hoje viajo com apenas um colega.
Não nos rendemos, e continuamos caminhando apesar de uma febre persistente.
Nossos próximos passos estão comprometidos.



Dia 30.
Os lagos se estendem, para todos os lados que olhamos existe apenas água.
Conseguimos pegar pequenos peixes, mas não o suficiente para matar a fome. Não estávamos preparados para isso…. E a morte caminha a nossa volta….

(...)




Triste... mas boommmm....
Conheci esse jogo por acaso enquanto procurava jogos portáteis para uma viagem, e devo dizer que esse é no mínimo.... diferente.
A experiência aqui é muito pessoal, já que a criatividade para gerar uma narrativa é o ponto central da diversão.
E é óbvio que esse tipo de coisa traz vários pontos divisores de águas...

O primeiro ponto de discórdia é que ele se comporta muito mais como um livro/jogo do que como um jogo de tabuleiro em si. O tabuleiro aqui é apenas um pretexto para você não se perder durante a "leitura" do livro.

O segundo ponto é que o livro vai se formando à sua frente, e você praticamente não tem controle sobre suas ações. Você pode até tentar influenciar os resultados, mas quem decide o que vai acontecer são os dados. Para um livro jogo isso faz sentido, já que ele precisa te limitar para a história avançar no caminho que o autor deseja, mas para um jogo de tabuleiro essa característica é beeeem negativa.

E terceiro ponto. A experiência completa você só consegue realizando a fase 12 (opcional) do turno. Aqui você escreve sua história tendo como base os efeitos que aconteceram durante o turno.
Experiência própria: achei que isso era preguiça do autor, e quebrei a cara. Até agora foram 3 partidas, e esta fase foi basicamente a que valeu o tempo gasto.

Dito isso, você já sabe se vai gostar ou não de 1572. 



Mas em outras palavras:
Ele não foi feito para ser um quebra-cabeça a ser derrotado, mas sim para trazer uma experiência de aventura. Um momento de imersão em seus próprios pensamentos. E como qualquer boa aventura, a graça está no inesperado, na quebra dos planos e na dificuldade elevada (Me desculpem mas Eldritch Horror está na mesma gaveta).

O jogo tem muuuuitaaaa sorte, muitas lacunas nos eventos (que o autor deixou para você mesmo preencher), muitos ícones, e um final geralmente desesperador em que todo mundo morre.

Repeti isso algumas vezes durante esta análise, e repito novamente. Não vejo como um jogo de tabuleiro, 1572 é um livro/jogo.
De fato mesmo entre livros/jogos temos livros melhores. Mas o que me encantou aqui foi a chance de escrever a experiência da forma que eu via ela acontecendo, nunca tinha visto isso em outros jogos, e por conta disso para mim a experiência já valeu.

o/



Apêndice 1:
Minha experiência com livros/jogos se resumem a coleção "Viva esta aventura", e devo dizer que gostei muito do que vi. Com certeza isso influenciou minha experiência com 1572 porque já estava preparado para esta "modalidade de jogos".
Basicamente é relaxar, e aproveitar a jornada.

Apêndice 2:
As folhas traduzidas de "1572: The Lost Expedition" você encontra aqui na Ludopedia mesmo.