O Peão de Tabuleiro resenha: Genial
Introdução:
Genial é um jogo de tabuleiro abstrato lançado no Brasil pela Devir. Criado por Reiner Knizia, este jogo serve de 2 a 4 pessoas a partir de 8 anos, em partidas que duram cerca de 30 minutos.
Mecânicas:
Genial tem como mecânicas a gerência de mão, alocação de peças e construção de padrões.
Componentes:
Caixa:
A caixa é confeccionada em papel Paraná de 2,0mm medindo 25,5 x 25,5 x 5,0cm. Seu tamanho me parece adequado. Tudo cabe bem dentro dela, sem apertos e com conforto.
A face da caixa mostra as peças do jogo em uma arte estilizadas, com brilhos e luzes. Sua beleza chama a minha atenção. As informações de idade mínima, quantidade de jogadores e tempo estimado estão presentes apenas em duas das faces laterais e na parte traseira da caixa, que mostra também uma imagem, criada digitalmente, do tabuleiro do jogo em uma partida.
Insert:
O insert é feito de papel duplex de 0,7m, resistente o suficiente para suportar o peso das peças do jogo. Seu formato, com nicho único central, permite a acomodação do saco com as peças e o saco zip com os cubos de madeira com certa folga. Manual e tabuleiro vêm bem apoiados no insert por cima, sem fazer peso sobre as peças abaixo.
A arte do insert é a mesma utilizada na tampa da caixa, mas apenas em tons de azul.
Manual:
O manual é uma simples folha no tamanho interno da caixa, feita em papel tablóide de 0,2mm, com apenas uma face de texto. A economia de tamanho do manual, neste caso, reflete uma economia na quantidade de informações presentes. O manual tem informações suficientes para se iniciar o jogo, mas não cobre diversas dúvidas que costumam surgir já nas primeiras partidas. Poucas linhas de texto poderiam evitar o trabalho de se ter que buscar por FAQs na internet ou discutir e criar regras no meio da partida.
Normalmente não gosto da escolha do papel tablóide para manuais, pois é um tipo de papel que desgasta e amassa com muita facilidade. No caso do Genial não incomoda tanto, pois usa-se muito pouco o manual, devido à simplicidade do jogo, e este fica bem acondicionado no insert, não estando sujeito a dobras, amassos ou atrito excessivo.
Em algumas edições de Genial o manual traz também regras para se jogar sozinho ou em duplas. Não é o caso da minha edição. Tais regras podem ser encontradas aqui.
Peças:
As 120 peças são formadas pela união de 2 hexágonos lado a lado, de fundo preto. Cada um dos hexágonos da peça possui uma figura em seu centro. São 6 figuras diferentes possíveis, cada uma de uma cor diferente. As peças são confeccionadas em papel paraná de 2,2mm. As cores são vibrantes e de visualização fácil. Ainda que não se possa enxergar cores, o fato de que cada cor está associada a uma forma diferente permite que os daltônicos joguem Genial sem problemas.
Logo nas primeiras partidas as pontas de algumas das peças começaram a “desbeiçar”. Em pouco tempo, todas as peças já tinham suas quinas levantadas. Ao longo do tempo o preto de fundo das peças também foi desbotando, acredito que devido ao acondicionamento das peças e manipulação no bornal. No geral, as peças até que vêm suportando bem o uso, apesar do desgaste. A espessura das peças me parece menor do que o que seria adequado para este tipo de jogo. A manipulação das peças não é comum após serem colocadas no tabuleiro, mas uma vez que ela acontece, não é fácil retirar a peça do tabuleiro sem arrastá-la até as bordas.
Saco:
Acompanha o jogo um saco tipo bornal, de tecido sintético preto, completamente opaco, que serve para guardar as peças durante e após o jogo. Saco aparentemente de boa qualidade, sem nenhum tipo de falha nas costuras ou no laço, vem aguentando muito bem o uso.
Tabuleiro:
O tabuleiro é quadrado e tem em seu centro um grande hexágono, dividido em uma grade de diminutos hexágonos em seu interior. Cada hexágono é do tamanho aproximado das peças do jogo. Há variações nas cores de fundo dos hexágonos da grade, que irão delimitar o tamanho do tabuleiro a ser utilizado em 2, 3 ou 4 jogadores. Ao lado do hexágono central temos 4 trilhas de pontos. Cada trilha, que vai até o máximo de 18 pontos, contém espaços para 6 marcadores, um para cada uma das diferentes cores/formas presentes no jogo. Nas 4 bordas do tabuleiro temos pequenas perfurações retangulares. Estas servem para que sejam encaixadas as peças que formarão a mão de cada um dos jogadores. Há uma sequência de setas indicando a que jogador pertence cada trilha de pontos. Isso não é identificado com facilidade e, diversas vezes ocorre de um jogador andar na trilha de pontos do jogador adversário por engano.
A arte do tabuleiro não traz nada de destaque. Achei muito legal que o tabuleiro tivesse já os lugares para apoiar as peças. Elas ficam muito bem apoiadas nestas aberturas, no entanto, esta escolha trouxe algumas consequências. A primeira é que em mesas maiores, retangulares, pode ser que fique impossível um dos jogadores acessar a suas próprias peças, se você estiver jogando com as bordas do tabuleiro paralelas às bordas da mesa. Neste caso, é necessário jogar com o tabuleiro virado 45º, o que pode ser desconfortável dependendo das mesas e cadeiras utilizadas. A segunda consequência é que determinadas pessoas não se conformam que as aberturas no tabuleiro irão apenas apoiar as peças e as apertam e torcem através das aberturas, contra a mesa, na expectativa de que irão ouvir um “click” de encaixe. A maior parte das bordas levantadas das peças acontece por causa disso.
Apesar disso, acho conveniente ter o apoio para as peças e as trilhas de pontos impressos juntos do tabuleiro central, pois me parece haver uma boa economia de espaço com isso.
Cubos:
Os cubos, que vêm em 4 cópias de cada uma das 6 cores diferentes, são feitos de madeira de aparente boa qualidade, com 7,1cm 7,1mm de lado (obrigado pela correção, Ignatius). Suas cores são vibrantes e fáceis de diferenciar, idênticas às cores presentes nas peças.
Minha única observação com relação aos cubos é que eles são um pouco menores do que eu gostaria. Eu consigo arrastá-los ao longo das trilhas de pontos sem problemas, mas algumas pessoas com dedos maiores ou menor habilidade manual trombam os cubos ou têm dificuldades para manuseá-los ou arrastá-los ao longo das trilhas de pontos. É corriqueiro, quando este tipo de jogador está à mesa, que se perca a marcação de pontos de determinada cor porque se esbarra num cubo ao arrastar o cubo adjacente.
Regras:
A preparação do jogo é bastante simples. Cada um dos jogadores compra 6 peças e as coloca à sua frente apoiadas no tabuleiro, e organiza os 6 cubos em cada uma das trilhas disponíveis em sua trilha de pontos, uma para cada cor/forma.
Seu objetivo é ter a maior pontuação dentre as piores pontuações de todos os jogadores. A única maneira de pontuar em Genial é colocar peças no tabuleiro de forma que cores/formas iguais se alinhem. Você ganha 1 ponto para cada cor/forma igual à colocada, em linha com as faces da peça colocada. A peça recém-colocada não é contada para a pontuação.
O jogo termina quando não houver mais espaço no tabuleiro para a colocação de novas peças, ou quando um jogador conseguir completar 18 pontos em cada uma das cores/formas.
Se por um acaso um jogador não tiver em sua mão alguma peça da cor/forma em que possui pior pontuação, é permitido que se compre uma mão de peças novas após mostrar a mão atual para os demais jogadores.
Caso se alcance os 18 pontos em uma determinada cor/forma, não é mais possível pontuar naquela cor/forma. Assim que alcançar os 18 pontos em determinada cor/forma, o jogador deve bradar “genial” e tem direito a colocar mais uma peça em jogo antes de passar sua vez.
Tema:
Não há. Jogo completamente abstrato.
Opinião:
As partidas costumam respeitar o tempo indicado na caixa, e a classificação indicativa de idade para 8 anos é bastante razoável.
É um ótimo jogo para casais, encontro com amigos e familiares, pois é possível jogar descontraidamente ao mesmo tempo em que se conversa, sem prejuízo para o jogo ou para a conversa.
Genial é bastante fácil de se ensinar, com curva de aprendizagem curta. Um jogador novo, em sua primeira partida, é completamente capaz de ganhar de um jogador mais experiente. O principal problema que se pode ter durante as partidas iniciais, é a respeito da pontuação: algumas pessoas têm dificuldade em aprender, mas basta contar os pontos junto com o jogador para mitigar esse problema. Outros problemas irão surgindo ao longo do tempo, quando determinadas situações específicas e inusitadas de pontuação podem surgir, e nenhuma dessas situações está coberta no manual. É necessário consultar um FAQ para sanar as dúvidas. (FAQ)
Quem vai gostar deste jogo?
Agradou a todo o tipo de público com quem joguei, desde crianças a idosos. Por ser simples, pode ser jogado em uma roda de amigos enquanto conversam, mas tem profundidade tática e estratégica suficientes para que seja o jogo principal de uma noite de jogos, se forem jogadas várias partidas seguidas.
Quem não vai gostar deste jogo?
Pessoas que fazem questão de temas nos jogos, que não apreciem um abstrato puro, e alguns heavy gamers. Essas são suposições, pois, até o momento não encontrei ninguém que não tenha gostado de jogá-lo.
O que me encanta neste jogo?
Genial traz a cada partida um jogo completamente novo, iniciado do zero. Você sente que toda partida é realmente diferente da anterior. Observar as diferentes construções dos padrões de cores e formas evoluindo ao longo do jogo, as oportunidades se abrindo e fechando à sua frente de acordo com a forma com que os adversários jogam suas peças, pescar o tempo certo de jogar ou segurar uma peça, ver qual cor/forma pontuar em determinado momento são elementos que sempre me dão muito prazer ao jogar uma partida de Genial.
As partidas serão diferentes também dependendo do tipo de adversários que se tem à mesa. Algumas partidas com jogadores mais cooperativos podem facilitar a pontuação e desenvolver aquele tipo de jogo leve, onde se pode conversar enquanto se joga. Em algumas partidas, com jogadores que pensam mais fortemente no bloqueio das opções dos adversários, o clima pode ficar mais tenso e o jogo um pouco mais cerebral. Eu me divirto muito nas duas ocasiões.
Genial tem algo de estratégico que é gostoso, mas pode passar despercebido para a maioria dos jogadores. É interessante pensar em como você irá ordenar as pontuações em cada cor/forma. Vale a pena disparar uma e depois ir correndo atrás de cada cor/forma separadamente? Será que vou fazendo menor quantidade de pontos, mas pontuo em todas as cores/formas? Gosto de traçar este tipo de pensamento antes das partidas, tendo em vista minhas peças iniciais, mas nem é necessário para se ganhar.
Mas é a faceta tática de Genial que realmente me encanta. Caçar a cada turno, dentre os padrões disponíveis, aquele que te dará a melhor pontuação; imaginar se o adversário vai saber utilizar a oportunidade que você deixou aberta ou se ela vai estar lá na sua próxima jogada; decidir, naquele momento qual cor/forma será melhor de pontuar, ou se será melhor bloquear o acesso de um adversário a determinada cor/forma, são as situações que deixam o jogo realmente interessante para mim
Além disso, apesar de não ter nenhum destaque na arte, o apelo visual das cores e padrões em Genial é muito bacana. Meus olhos jogam por si só na maior parte das vezes, sem que eu pare para contar pontos ou avaliar possibilidades. Acho muito interessante e divertida essa facilidade de reconhecer o melhor padrão de pontos.
Joga bem com os números de jogadores propostos?.
Genial é um jogo que escala muito bem com todas as quantidades de jogadores propostas. Há, é claro, diferenças no jogo com quantidades diferentes de jogadores, mas que não mudam quase nada a experiência de jogo.
Pra mim, as principais diferenças são o tempo de jogo e quantidade de pontos possíveis de serem feitos. Em 2 jogadores a partida se inicia um pouco mais lenta, uma vez que poucas peças são abertas a cada rodada, mas o jogo logo se acelera e ganha um ritmo de abertura/fechamento de oportunidades interessante. Acontece que, apesar do início lento, na partida com 2 jogadores tem-se a impressão de que o jogo terminou precocemente, pois o tabuleiro fica coberto de peças muito rápido. Essa impressão de jogo rápido demais diminui bastante na partida com 3 pessoas e não mais aparece com 4 jogadores. Neste último caso a partida parece ter o tempo perfeito. É muito mais comum que se consiga fazer os 6 geniais em uma partida com 4 jogadores, do que em 3, e em 2 jogadores acredito que não seja possível fazer isso. Devido ao espaço maior, as partidas com mais jogadores proporcionam mais possibilidades de pontuação.
Porque está em minha coleção?
Porque eu adoro jogos abstratos, é um ótimo jogo de entrada, adoro o estilo meio dominó do jogo, acho que fica muito bonito na mesa, a esposa aprova, assim como meu grupo de amigos, tem ótima rejogabilidade, e tem a versatilidade de ser um jogo casual ou bem competitivo, a depender da mesa.
Ainda é divertido depois de 30 partidas? (31 até o momento)
Sim, certamente. Genial não é o tipo de jogo em que você vai descobrindo novas camadas estratégicas quanto mais você o joga. Ele é um jogo plano e simples. Apesar disso, a idéia do jogo é muito boa, e as partidas são sempre bastante divertidas. Ainda, o jogo se mantém novo com a renovação que ocorre no tabuleiro a cada partida, o que colabora muito para sua rejogabilidade.
Pontos positivos:
Caixa pequena, boa para sair de casa do com jogo;
Jogo fácil de ensinar e aprender;
Há economia de espaço com os suportes de peça e as trilhas de pontuação individuais impressas no tabuleiro central;
Adequado para daltônicos;
Setup rápido;
Dá para conversar e jogar ao mesmo tempo, sem prejuízo da conversa ou da partida;
A esposa gosta;
É rápido, e podem ser jogadas várias partidas na sequência;
Belo apelo visual;
Joga bem com todos os números de jogadores;
Saco bornal de ótima qualidade.
Pontos negativos:
Cubos pequenos, difíceis de serem manipulados por mãos pouco hábeis ou dedos grandes;
As trilhas de ponto impressas muito próximas aos apoios dos jogadores causam confusão na hora de anotar as pontuações;
Peças de papelão que desgastam com facilidade;
Peças finas, de manipulação não muito fácil;
O jogo com 2 jogadores pode parecer rápido demais;
Algumas pessoas podem ter dificuldade em compreender as regras de pontuação.
Esta foi minha quarta resenha sobre jogos de tabuleiro. Espero ter colaborado em sua busca por informações. Todos os comentários e sugestões são bem vindos.
Seguuura, peão!
