Azul e o palácio individual
Ou a incrível história das "árvores somos nozes"
Bem vindos novamente senhores e senhoras. Mais uma sexta-feira, feriado, muita animação e outra Crônica BG para ler. Seguindo a proposta de nossas colunas, na quarta falamos sobre o
Azul e hoje ele será elevado a outro patamar.
Consegue imaginar como uma crônica da vida poderia ser montada em azulejos? Eu também não sei, mas vamos ver como saiu.
Azul é um jogo belo
Assim como as pessoas Azul possui uma incrível beleza
Você pode criticar as mecânicas do jogo. Você pode não gostar de como o jogo se desenrola. Você pode até não querer jogar mais porque é sempre derrotado. Mas, você não pode dizer que esses azulejos não são belíssimos.
E assim como cada pessoa, a beleza se revela principalmente quando olhamos o cenário todo. Se você pegar um único azulejo daquele e mostrar para qualquer ser humano ele verá uma pequena peça bem trabalhada, mas poderá não ver o quanto todas elas juntas formam um quadro único.
Cada um de nós possui essa incompletude quando analisamos fatores isolados. Mas entender o indivíduo é saber ler o pacote completo. É pegar cada azulejinho e unir em uma malha maior e que se revela única.
Mas azul não é único apenas por sua beleza externa, mas por conseguir aliar isso com mecânicas simples e bem equilibradas. Os seres também precisam de maior profundidade.
O lado de fora encontra a mecânica da vida
Não basta ser um jogo bonitinho mas ordinário
Se a beleza de Azul seria facilmente esquecida sem suas mecânicas, a beleza do indivíduo se revela infinitamente mais equilibrada quando percebemos muito mais do que o lado externo.
Sentimentos, ideias, construções sensoriais - cada ser é belo dentro de uma gama gigante de camadas. É impensável avaliar qualquer pessoa simplesmente pelo que se vê ao primeiro olhar. É preciso conversar, perceber, sentir.
Não podemos retratar um pensamento oposto ao nosso como algo desqualificante e perceber o outro como algo disforme. Os pensamentos opostos servem justamente para estabelecermos contato, construir novas ideias, estruturar novas relações.
Em períodos no qual tudo se torna tão simples e direto, como um único azulejo, e não paramos para observar a fundo perdemos a chance de ver o quadro montado, com todos os seus detalhes.
Azul e a capacidade de convicção
O que seriam os azulejos de Azul sem os tabuleiros?
Nietzsche já asseverou em sua obra Humano, Demasiado Humano que: "As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras".
Como tal assertiva poderia ser verdadeira? Simples meus caros, uma mentira pode ser desmistificada, revelada como verdade. Enquanto que uma convicção pode se tornar uma venda, que cega de forma indiscriminada seu usuário.
Azul nos mostra que avaliar o jogo como um simples "coloca e tira de azulejos" é algo muito raso e uma grande inverdade. Existe ali uma genialidade por trás de toda simplicidade transparente. Mas, ter a convicção que azul é simplesmente isso impede com que se perceba uma realidade maior.
A convicção está colocando fogo em nossos grupos, redes sociais, mesas de jogos. Por uma convicção absolutamente verídica afastamos as demais verdades e construímos uma ideia absoluta. A cada novo momento que realizamos essa ciranda, limitamos nossa forma de pensar, de ver além do azulejo, além da beleza externa.
Desfocar é preciso
Desfocar é ver a mesma imagem por uma formação visual diferente
O mesmo Nietzsche afirmou categoricamente que "a verdade é uma ilusão". Estabelecer uma verdade é tão complicado quanto ensinar uma minhoca a bater palmas.
A verdade é tão difusa, desfocada por cada olho que a observa. Não é possível quantificar quantas verdades surgem de um simples tópico como esse. Ou pior, quantas convicções serão realinhadas com essa leitura.
Como em uma ilusão de ótica, a verdade se molda conforme seu avalista. Para cada ser humano podemos ter percepções distintas de um mesmo fato. Existem pessoas mais sensíveis, mais diretas, mais centradas. Existem pessoas que jogam Azul e percebem um amontoado de peças bonitas, enquanto outras se sentem em uma missão em favor do rei.
A verdade não pode ser entendida como uma espada indestrutível - ela só se estabelece até o exato momento em que alguém prova que tudo não passava de uma mentira.
Azul é mais do que azulejos. Nós somos mais do que aparentamos. Azul entrega mais do que demonstra. Nós somos muito maiores do que nossas convicções.
Crônica BG - nunca respostas, nem sempre perguntas
Espero que tenham gostado e que algumas pequenas e rasas reflexões possam transmitir uma forma de desfocar algumas imagens. Respeitar cada ser humano como alguém único é tão brilhante como entender que cada azulejo em Azul tem uma posição, uma interação. A beleza do tabuleiro individual só é formada quando cada peça está alocada em seu espaço.
Nos encontramos nesse mesmo bat-canal, na próxima bat-semana, para mais um bate-papo (eu não consegui me segurar na edição desse texto).
Abraços e sempre tenham aquela certeza: que a sonda esteja em vocês.