O Peão de Tabuleiro compara: Carcassonne Grow x Carcassonne Devir
Introdução:
Carcassonne é um clássico dos jogos de tabuleiro modernos, por mais contraditório que dizer isso possa parecer. O jogo criado por Klaus-Jürgen Wrede e lançado em 2000 recebeu diversos prêmios internacionais, inclusive o de Melhor Jogo do Ano de 2001 pelo Spiel des Jahres, e já vendeu mais de 10 milhões de cópias em todo o mundo.
Esta comparação se limita às edições Carcassonne da Grow e Carcassone 2ªed da Devir. Não será mencionada a edição "Domínio de Carcassone", publicado também pela Grow no Brasil, que é o mesmo jogo, mas acabou por ter seu nome traduzido pela equipe de tradutores da Sessão da Tarde.
Caixa:
Ambas caixas mantém proporções semelhantes, sendo que a da Devir é ligeiramente menor em largura e comprimento. A altura das caixas é a mesma. Achei que a nova arte da caixa ficou bem melhor, mais viva. Ainda que minha edição da Grow seja um pouco velha, não tem nem 10 anos e nunca viu luz solar, então ligo os tons mais pastéis a uma escolha da editora.
O material do qual foram feitas as caixas é um pouco diferente. A caixa da Devir é feita em papel Paraná, como vêm sendo feitas a maioria das caixas de jogos das editoras atuais. A caixa da Grow é feita em papelão, do mesmo tipo que são feitas as caixas de seus jogos modernos de edições mais antigas, como o Colonizadores de Catan (não confundir com Catan: o jogo da mesma editora, que parece gostar dos serviços de tradução do povo da Sessão da Tarde) e o Rummikub.
Na caixa da Grow temos a imagem de um cavaleiro e uma senhora lado a lado cruzando caminhos. Se repararmos bem, o olhar da senhora denota um clima de paquera entre os dois. Não creio que muitas pessoas além de mim tenham percebido isso, mas preciso dizer que considero uma escolha de imagem para a capa que não faz o menor sentido para este tipo de jogo.
A imagem da capa da Devir traz, aparentemente, o mesmo cavaleiro, agora despojado de sua armadura, mostrando o cenário a uma donzela que está cagando pra ele que não parece demonstrar interesse no rapaz. Ainda parece que está rolando um tipo de xaveco na cena, outra escolha estranha na minha opinião. No entanto, é interessante ressaltar que esta donzela aparece em destaque, sozinha, em 4 das 6 faces da caixa da Devir, e achei interessante colocar tanto na capa como nas outras faces esta personagem feminina em destaque, numa interação mínima com o personagem masculino, quando este aparece.
Insert:
Mencionei no meu
texto de primeiras impressões, minhas opiniões a respeito do insert desta edição nova da Devir. Além do fato da mudança na arte, pouco pode ser mencionado a respeito de diferenças. Resumidamente, na edição da Devir, o nicho para os tiles com dobras precoces, o número maior de tiles e uma caixa menor para acomodá-los fez com que os tiles não se encaixem perfeitamente dentro do nicho destinado a eles. A caixa maior, o insert sem dobras precoces e o número reduzido de peças permitem que a edição da Grow não sofra deste problema.
O manual da Grow é produzido em um tipo de papel couchê bem fino. O da Devir é feito em papel de tablóide. Em qualidade, o da Grow ganha por pouco.
A reedição do manual trouxe algumas modificações positivas. Conseguiram deixar o texto mais enxuto e melhoraram as imagens de exemplos. A principal diferença entre os dois manuais reside nas regras de alocação dos camponeses. No manual da Grow os camponeses fazem parte do jogo básico, e são explicados juntamente às outras regras de alocar seguidores. No manual da Devir a regra dos camponeses não faz parte do jogo base. Eles fizeram um suplemento ao manual, que explica as regras das duas expansões que acompanham a caixa e também as regras de alocação de camponeses. A classificação indicativa de idade é de 8+ anos para a edição da Grow e 7+ anos para a da Devir. Muito provavelmente essa mudança na classificação indicativa está relacionada à mudança na forma de introduzir a utilização de camponeses: o jogo da Devir, com as regras presentes apenas no suplemento ao manual, recomenda a utilização de camponeses apenas depois de jogar algumas partidas com as regras básicas.
Infelizmente também notei uma modificação negativa. O manual da Grow trazia uma lista com todos os tiles disponíveis e suas quantidades, mas o manual da edição da Devir, ao enxugar o manual, retirou esta seção. Senti falta disso. (Obrigado ao
marciusfabiani por me lembrar deste detalhe que eu havia esquecido de colocar nesta análise).
Meeples:
Os meeples clássicos são de aparência e qualidades aparentemente idênticas. A 2ª edição traz ainda um meeple de abade de cada cor. Os meeples de abade podem ser utilizados tanto em monastérios como nos novos jardins presentes em alguns tiles (vou falar mais sobre os jardins adiante), e podem ser retirados/realizada sua pontuação mesmo se a estrutura na qual o abade foi colocado não tenha acabado de ser construída ainda.
Tiles:
Os tiles novos vieram com muitas novidades. Pra começar, temos os tiles de rio da expansão "o rio". Esta expansão proporciona aos jogadores substituir a peça inicial do jogo por uma sequência de 12 peças de rio que se iniciam em uma nascente e termina em um lago. Além do rio, temos presentes também cidades, monastérios, jardins e estradas nestes tiles da expansão. A ideia é que o jogo se inicie mais aberto, logo de cara com a formação de diversos campos diferentes.
Os jardins, que estão relacionados à expansão "o abade" aparecem inseridos em tiles que já existiam na edição anterior. Não foram feitos novos tiles para conter os jardins, e eles sempre aparecem ao lado de alguma outra estrutura. Apenas os abades podem ser alocados nos jardins.
A nova arte dos tiles está muito diferente, mas mantém a mesma cara de Carcassonne que tínhamos na edição anterior. As diferenças ficaram apenas nos detalhes. Esta nova artista inseriu pequenas cenas do quotidiano nas peças com cidades, currais com diversos animais diferentes nos tiles que contém grandes pedaços de campo. Estes currais não fazem diferença, são apenas decorativos, mas dão um toque de carinho à arte do jogo. Alguns tiles com estradas também contém duplas de ladrões escondidos atrás de moitas. Ainda, os telhados das torres das muralhas estão em azul na arte nova e em vermelho na arte antiga, o que pode causar alguma estranheza ao olhar de quem já havia se acostumado com a edição anterior.
A arte da parte traseira dos tiles também foi modificada. O antigo "C" com fundo branco e adereços dos tiles gerais foi substituído por um cinza claro. Fiquei feliz com esta escolha, pois o branco é sempre muito sujeito a ficar encardido. Os tiles iniciais também tiveram sua parte traseira modificada, mas muito pouco. Continuam se destacando por cores mais escuras. O design da letra "C" também mudou em todos os tiles. Gostava mais do anterior, mas isso não interfere em nada no jogo.
A espessura e a qualidade do material de confecção dos tiles não muda quase nada entre as edições. A única diferença que pude perceber no material se dá no acabamento do papel utilizado na parte frontal dos tiles. Na Grow utilizaram um papel com acabamento tipo linho. A Devir usa um papel com textura mais suave e uniforme. Gosto mais do acabamento da Grow.
Trilha de pontos:
A trilha de pontos teve alterações somente no que diz respeito a atualização da arte. Até mesmo o desenho do perímetro das casas de pontos permaneceu o mesmo. Apenas a paleta de cores e os desenhos dos arredores da trilha de pontos foram alterados.
Conclusão:
Esta nova arte da segunda edição da Devir acompanha a arte das expansões do jogo trazidos ao Brasil pela mesma editora. Segundo me parece, não é necessário possuir a edição da Devir para poder jogar as expansões, mas pode parecer que você está usando peças de dois quebra cabeças diferentes numa mesma paisagem.
Achei que a proposta das expansões, por mínimas que sejam, adicionam muito ao jogo base. A proposta do rio de começar o jogo com o mapa mais aberto diminui a possibilidade de um jogador sorrateiro lançar um camponês logo no início do jogo e ter para si quase a totalidade de campos se ninguém tomar uma postura contra depois. Achei bem bacana isso. O fato de você poder retirar um abade de um local inacabado pode ser salvadora quando um adversário bloqueia a construção de uma igreja. Pode ser aquela chance que você precisava para quando os demais seguidores se acabaram em sua mão.
Considero boa também a migração dos camponeses para uma forma avançada de jogo. A bem da verdade, muitos de nós já fazíamos isso antes que o manual nos dissesse. A nova edição só veio trazer à regra o que já era praticado há anos pelos jogadores no momento de apresentar o jogo a neófitos ou a jogar com crianças mais novas.
Gostaria ainda de deixar os meus mais profundos elogios à arte da nova edição. Os detalhes e o carinho empenhado pelo artista não mudam em nada o jogo, mas criaram uma ambientação muito bonita.
Por fim, quero dizer que não faz diferença qual das edições está ao seu alcance: a diversão é garantida sempre. Para quem curte expansões, talvez valha a pena fazer a atualização da coleção para ter tiles semelhantes aos das demais expansões, vendidas em separado. Para quem não tem tesão em expansões se sente satisfeito com o jogo base apenas ou, simplesmente gosta de um bom jogo, a edição antiga da Grow não deixa em nada a desejar em qualidade, e pode ainda ser encontrada usada a preços bastante convidativos.
Esta foi minha primeira comparação entre jogos de tabuleiro. Espero ter colaborado em sua busca por informações. Todos os comentários e sugestões são bem-vindos.
Seguuura, peão!
